Os professores que, silenciosamente, já desistiram


Na última reflexão abordei o “quiet quitting” ou desistência silenciosa, no que poderá ser entendido como uma demissão passiva e consiste em realizar o mínimo, básico e essencial do trabalho, sem fazer horas a mais ou esforçar-se além do necessário.
Na grande maioria dos casos, a motivação para o trabalho não se resume apenas à remuneração e à carreira, apesar da sua importância, mas começa pelo sentimento de que a pessoa se sente respeitada e reconhecida. A falta de valorização humana, pessoal e remuneratória é a principal causa da “desistência silenciosa” de grande parte dos funcionários. Vou abordar o exemplo dos professores:
Num mês em que se conheceu mais um caso de agressão a uma professora, quando se sabe que a cada três dias é agredido um professor, o ministro declarou “apoio e solidariedade” e acrescentou que todos “devem dar o exemplo de respeito” pelos docentes. Esta afirmação seria bem recebida por todos os docentes se, quem a proferiu, desse, em primeiríssimo lugar, o exemplo.
Na realidade, o respeito pelo próximo passa poucas vezes por declarações vãs. O respeito por alguém demonstra-se com ações concretas. E estas têm faltado ao atual ministro e aos próprios governos do PS! Se não vejamos: nas duas vezes que as carreiras dos professores foram congeladas, quem governava o país era o Partido Socialista. Quando se alterou o modelo de gestão das escolas, passando para o atual, que é unanimemente considerado não democrático, quem governava era o Partido Socialista.
Não basta vir com um ar consternado para a televisão dizer que está solidário com os professores e que todos os devemos respeitar, quando diariamente se decide e legisla contrariamente. No caso das agressões, por exemplo, deveria o ministro ser assertivo o suficiente e ser o primeiro a garantir que os agressores seriam identificados, detidos e oportunamente presentes a tribunal. Mas o que se vê são os professores a desistirem da profissão e os agressores continuarem impunes. Respeitar os professores é ter humildade para os ouvir e resolver os problemas que não são deles mas do sistema educativo, com repercussões diretas naquele que deveria ser o foco: a aprendizagem do aluno!
Uma das maiores consequências do desnorte que vai no Ministério da Educação é o clima de facilitismo no que diz respeito à aprendizagem e avaliação dos alunos. Tanto se dá que aprendam como não que a ordem “vinda de cima” é sempre transitar o aluno.