OS MENINOS QUE SONHAVAM SER JOGADORES DE FUTEBOL

Jogos de rua faziam parte da nossa meninice . Eramos felizes e não sabíamos.

  • Mãe , deixa-me ir jogar futebol com os meus amigos ?! …
    (E numa indefinida voz harmoniosa mas austera …)
  • Vai … mas se não fizeres os trabalhos da escola , não te deixo mais ir jogar à bola …
  • Uauuu…fixe …boa ! .. . (Toneca pulava numa alegria incontida)
  • Anda,… corre Toneca (gritava a turba irrequieta). Agitavam-se as ondas num íntimo alvoroço , fervilhavam os ânimos numa inquietude efervescente. (Ele era o todo poderoso dono da bola).
    O futebol era a paixão da criançada, a voz da sua alma que cintilava nos seus lábios, nosso meio de socialização, o desenvolvimento do nosso raciocínio lógico, o aumento do nosso foco e concentração, o aprender a lidar com as nossas emoções.
    Perder um jogo de forma inesperada ou mesmo injusta era uma reviravolta no nosso dia a dia, podia acontecer, causava-nos frustrações, tristezas e emoções, cargas negativas, mas que eram essenciais para a nossa aprendizagem, formação e crescimento.
    Atento a esta saudade minha, traslado nesta narrativa o fulgor anímico, o vivenciar experiencias vividas no passado contadas como lembranças no presente. Aqui o velho tempo primitivo o silencio das eras já remotas.
    Os jogos da minha infância vislumbravam alegria e pura diversão, neles me revejo infinito e sem idade. Sangue dos nossos pulsos que latejava e nele pulsava a vida. Mal pressentida ainda a vida ditava as suas regras, normas para um jogo de futebol que deviam ser cumpridas e aceites por unanimidade por ambas as partes:
    As balizas eram delimitadas entre duas pedras e as distancias entre si medidas em passos. Não havia árbitro, confiávamos na nossa decisão correta das faltas. O elemento com menos mobilidade, o gordo, era sempre o guarda redes. O jogo não tinha limite de tempo , eramos livres de o controlar. A partida só terminava quando os jogadores estavam cansados, em caso de rixa assanhada ou zanga do dono da bola. Dava sempre azo a barulho e discussão a marcação de uma grande penalidade. Impreterivelmente o dono da bola tinha sempre o direito a jogar e a exigir que o melhor jogador alinhasse na sua equipa, ou não haveria bola para o jogo. Ponto assente era a regra de que os dois melhores jogadores não podiam jogar do mesmo lado. Penalizado era o guara redes que desse “um frango “voluntário, era imediatamente posto na rua. Bola que era chutada para longe para fora do campo, o último a fazê-lo era obrigado a ir busca-la. E num lusco fusco anímico, humilhante era ser o último escolhido para o jogo.
    Era o nosso pequeno mundo, tudo que naquele espaço existia para que pudéssemos amar, ousar, sonhar, criar e viver o melhor da nossa vida.