TEMPO SECO

O Elogio da Idade
Cícero escreveu: “Os homens são como os vinhos: a idade avinagra os maus e refina os bons”. O cônsul e intelectual romano que nos legou “De Senectute”, uma impressionante reflexão sobre a velhice, que jamais alguém teve capacidade intelectual para a superar, era um ilustre conhecedor, da mais valia, que o peso dos anos induzia à idade humana, naquele tempo
A velhice era uma raridade na sociedade em que Cícero viveu, onde muito poucos passavam para lá dos 60 anos, e os que chegavam a essa idade eram seres excecionalmente privilegiados pelos deuses. A sua experiência era reconhecida socialmente como uma fonte de profundo e sábio conhecimento.
A sociedade moderna despreza a velhice, considerando-a um grande empecilho. O quotidiano atual já não necessita dela, para isso já possui os computadores, que a substituíram com todas as vantagens de acomodação e dispensa de afeto.
Não necessitamos ir muito atrás na história, para recordar grandes homens, já entrados na idade, que se tornaram referências históricas de vulto: Abraão Linconli, Churchil, Georges Clemenceau, Mandela, etc.. O penúltimo foi eleito presidente do governo francês aos 76 anos. O peculiar deste caso é que a sua designação se produz em Novembro de 1917, em plena 1ª Guerra Mundial e após uma grande ofensiva alemã, que esteve a pontos de derrotar a França. O Tigre, como se apelidava este dirigente radical, resistiu e infundiu moral ao exército para derrotar os alemães. Clemenceau desempenhou um papel fundamental na arquitetura da Nova Europa, que saiu do Pacto de Versalles.
Como eles, poucos ou nenhuns restam na sociedade atual, que submissa aos padrões da vida moderna, relega a velhice para um canto escondido, como se de uma velha e ferrugenta ferramenta se tratasse.
Recordo a lenda do homem velho, que foi levado, pelo filho, para a montanha para acabar lá os seus dias: Quando o filho o colocou no local onde o ia deixar, ele interpelou-o dizendo: - Se achas que aqui fico bem, podes ir, porque o próximo a vir para cá serás tu. Meditando na grande verdade que o pai lhe acabara de dizer, pegou nele e levou-o de volta para casa.
No nosso universo, ou na pequenez do nosso meio, não existe retorno a casa. Já não aceitamos a velhice como uma sequência natural da idade, onde se acumulava toda a experiência e sabedoria de uma vida, mas, sim como uma inevitável derrota com que a implacável sucessão dos anos nos contempla. Sem outros caminhos ou alternativas, menos penosas e mais tangíveis. Sem nada!…
…Que loucos e desprecavidos somos: a velhice, para quem lá chegar, é onde vamos passar o nosso próprio futuro.