A Cimeira do Clima (COP27)


A cimeira do clima de 2022 que decorre nos dias 8 a 18 de Novembro numa paradísiaca estância balnear de luxo no Egipto consegue reunir todas as condições para correr mal para nós e para o planeta que devíamos proteger. Num mundo ainda a viver numa pandemia e com o cenário de possível guerra nuclear à espreita, os países participantes vão tentar travar o cenário de catástrofe ambiental.
António Guterres disse na abertura da Cimeira do Clima que “estamos numa auto-estrada para o inferno” e que “continuamos a carregar no acelerador”. Verdade. Mas a solução não é carregar a fundo, com os dois pés, no travão, e parar o carro. Tem de ser abrandar e procurar formas de compensar as emissões poluentes que esse carro está a fazer.
No livro “Como o Mundo Realmente Funciona”, o cientista e professor universitário Vaclav Smil, um dos maiores especialistas e estudiosos mundiais de energia, faz uma análise estimada das quantidades de gasóleo que são necessárias para produzir 1 quilo de vários alimentos. E isso ajuda a entender a dependência que ainda existe dos combustíveis fósseis. Para se produzir 1 quilo de pão, por exemplo, é necessário, em média, 600ml de gasóleo. Para se criar um frango com 1 quilo podem ser necessários até 750ml de gasóleo, valores que já incluem o transporte dos produtos até ao consumidor final.
Os combustíveis fósseis são o motor de toda a indústria agrícola mundial, em todos os países, seja qual for a orientação política ou estado de desenvolvimento. As grandes máquinas agrícolas, como as debulhadoras, as ceifeiras, os tratores, são movidas a combustíveis fósseis. Os grandes veículos que transportam a comida dos produtores para os distribuidores e depois para os locais onde são vendidos aos consumidores são movidos a combustíveis fósseis.  É completamente impossível mudar tudo isto em meia-dúzia de anos. Uma vez mais, para abandonar este modelo é preciso uma alternativa. É essencial, sim, trabalhar rapidamente na criação dessas alternativas, mas isso vai demorar muito tempo, daí não haver mais minutos ou horas a perder. 
A neutralidade carbónica atinge-se, sim, reduzindo a emissão de gases poluentes (e aqui, sim, a indústria do gado bovino e dos laticínios tem um papel devastador). Atingir a tal neutralidade carbónica é um caminho longo, difícil, incerto, e a única certeza é a de que tem de ser feito, e tem de ser feito ontem, e já era tarde! Não existem soluções fáceis e nem vale a pena insistir na narrativa ideológica dos maus (os ricos, capitalistas) contra os bons (os pobres, os que lutam pela natureza). Esse mundo não é real. O caminho é complexo e difícil, mas tem de ser feito com o esforço e dedicação de tudo e de todos.