Família reunida ou não?


A sistematização da tecnologia, a valorização da imagem, a competição profissional, criam barreiras para a continuidade da tradição familiar. Mais facilmente, justifica-se a ida a um concerto de uma banda estrangeira a centena de Km, do que ir visitar os avós. É mais aliciante passar um fim de semana no Algarve, do que visitar os avós, que nem internet têm em casa!
Natal, época adorável e tão apreciada pela juventude, que denomina as pessoas, acima dos 30 anos, de cotas. Assim, temos os pais que tentam estar presentes, e manter a ligação familiar com os ascendentes nortenhos e beirões, enquanto são contestados pelos descendentes cosmopolitas, alheios ao respeito e sacrifício que os avós tiveram para dar um futuro às novas gerações. “Opá, que chatice! Como vou conseguir seguir as minhas amigas no Insta? E o que vou lá fazer? Nem sequer tem Netflix …” Ah, esta alegria tão real e extremamente divulgada pelos doutorados da área comportamental. A maravilhosa noção de partilha e identidade familiar, que fundamenta a autonomia e apoio… blá, blá, blá. Pois é! Toda a sociedade observa estas posturas depreciativas sobre a família tradicional, e existem uma miríade de debates, opiniões de várias facções, no entanto a palavra “liberdade” sustenta os argumentos que desculpam estas atitudes.
Então, a luta pela liberdade facultou a desvalorização do tradicional respeito e apoio familiar? Porque tenho o direito de expressar o que quero, alheio aos sentimentos das pessoas que me envolvem! EU, eu, eu… espera aí! Pessoa que só vê o seu lado, ignora os sentimentos dos outros, utiliza a chantagem emocional como ameaça, será que estamos a criar aquilo que tanto lutamos? A tirania filial tão real, que quando os pais disciplinam, o princípio da frase dos mini ditadores é: “Vou dizer à…”. Podendo ser nomeada polícia, CPCJ e até os avós, esquecidos pela falta de empatia!
As ameaças esmagadoras e dominantes, geram novelas familiares, agraciadas com dupla posição perante a mesma pessoa. A tentativa de cativar, quem manipula e distorce, é digna de um calhamaço de 600 páginas, com muitas lágrimas e risadas cínicas, para chegar ao momento doloroso da afronta.
Família, não a escolhemos, mas podemos acolher e aceitar as diferenças. Ajustar a tolerância de conviver com gerações tão distintas, tal como os écrans táteis para com os telefones fixos de disco. Partilhar, estar, criar memórias presentes para que o passado seja relembrado e não esquecido… Este é o conceito da família, que não foi preciso ir para universidade, para a alcançar!