DOIS NATAIS


SOMOS NÓS O MELHOR PRESENTE QUE ALGUÉM PODE RECEBER
O Natal tem uma tradição variada em Portugal . Festa cristã tendo como centro a família. Celebra-se de acordo com os costumes ancestrais próprios de cada região . com um espírito próprio que o tempo não faz desaparecer . A família é o núcleo de toda esta festa . Ela atinge o seu ponto mais alto com a consoada no lar . A noite de Natal ou da consoada é também a grande mesa coberta da melhor toalha da casa , o pão a fazer o centro , o local de convergência da família , não longe do presépio e da árvore de Natal aguardando o momento em que acontecem as prendas valiosas e em excesso . O prato nesta ceia é o bacalhau com batatas e couves á farta abundantemente regado com o mais fino e dourado azeite e acompanhado com o melhor vinho “vintage” , o arroz de polvo corredio , o peru , o cabrito assado no forno . Não há mesa onde faltem as rabanadas , as filhóses e uma vasta diversidade das melhores mais vistosa e apetecíveis iguarias. É na doçaria que a ceia natalícia se notabiliza cheia de talento e imaginação . E é nesta euforia que o clima festivo desta quadra começa a ser vivido mais cedo , ainda muito antes daqueles dias que o calendário lhes reserva . O comércio conhece já o frenesim que a todos contagia . Tudo se compra e tudo se vende como em nenhuma outra época do ano . É o nosso consumismo . E nós embebidos nesta onda de euforia , alheados das nossas realidades esquecemo-nos daqueles que nada têm ou repentinamente de um momento para o outro se viram em sérias dificuldades , em privações com as perdas da vida ou o seu ganha pão . Mas nem toda a gente vive em abundancia algumas famílias vivem este dia afogadas nas dificuldades da sua vida .
Entremos de mansinho numa casa velhinha de uma das nossas aldeias onde sentados em volta de uma lareira a uma chama oscilante de um lume pobre , um casal com um pequeno bando de fillhinhos vigia a panela de ferro onde fervem as batatas para a ceia. Os seus rostos refletem um cansaço fundo até aos ossos do dia passado ao frio na labuta ,onde enfrentam o gélido vento dos campos . Bebem o lume com olhos de ternura e comungam da alegria do dia que insistentemente tanto têm ouvido falar . Sabem que é a consoada , mas a sua é diferente daquelas que vêm na televisão ou que ouvem em história de encantar . Na pequena cozinha amarelecida pelo fumo que teimosamente foge pelas fresta das telhas , a um canto posta uma mesa em madeira carcomida pelo caruncho , para ceia . Sobre ela a toalha de linho que em tempos passados já teria sido alva , os pratos de barro já esbeicelados pelo uso diário e descuidado das crianças, enegrecidos pelo tempo . Sentados ao lume coziam as batatas e a hortaliça , e como a panela levantasse fervura , foi-lhe arredar o testo e espumá-la . Era a hora de saborear a refeição. Rezam uma pequena oração de graças pelo bem recebido e sossegadamente comem a parca ceia da consoada , as poucas e minguadas barbatanas de bacalhau as batatas e as couves do seu lavrado . Azeite apenas um ténue fio . Longe de tudo e do bulício do mundo , sós na paz do Senhor e dos Seus Anjos Celestes . Vivem a paz serena de uma consciência tranquila . É noite e os cachopos já estão na cama , sonham com a esperança que o Menino Jesus se lembre do seu sapatinho e da sua trágica pobreza presenteando-os com um par de meiitas , uns pequenos chocolates , umas nozes e uns figuitos secos . É meia noite . Ela com um velho xaile pela cabeça , ele veste o seu samarrão poído e remendado , passajado nos longos serões em frente da lareira . Os sinos repenicam num tom de festa . Os seus corações incendeiam-se de um fervor cristão pela missa do galo . No final da eucaristia, agasalhados do frio intenso e em passo lento , já a caminho de casa ainda passam pela fogueira natalícia no adro da Igreja , onde gigantescos cepos transportados pelos jovens ardem no ar gélido dessa noite de Dezembro . O Natal continua aqui a ser vivido como uma festa , mas agora de todos e prolonga-se noite dentro . A partir deste momento já ninguém fica só mesmo aqueles que porventura sózinhos saborearam a ceia da sua consoada .
O Espírito Natalicio é único , mas os Natais são diferentes . Porém na humildade de um curral Jesus nasceu para todos.