lendas, historietas e vivências

OS NATAIS E OS MEUS NATAIS

Começo esta simples reflexão a partir das memórias que ficaram entranhadas no pensamento pelas inúmeras vivências destes dias. Começar pelas mais distantes, já vão bem longe, mas quando me detenho nas imagens imensamente alegres que se me acomodam na mente acabo por me sentir nostálgica e quando venho de lá até aos dias de hoje o encanto desapareceu esmagado pelo materialismo e superficialidade que se foi impondo cada ano mais exacerbados…
Enfim, não posso imaginar que o nosso mundo pode entrar numa pretensa “máquina” do Tempo e nos sintamos de novo dentro do verdadeiro Espírito de Natal. Lá pelas aldeias serranas relativamente humildes a maioria do seu casario reflectia uma vida de trabalho sobretudo nos campos ou produção de artefactos necessários à sua sobrevivência cumprindo as tarefas do dia- a- dia. Os dias das festas chegavam e alteravam um pouco o decorrer das tarefas. Não era a corrida às lojas para comprar as coisas mais absurdas e muitas delas inúteis. A corrida era para escolher o pobre animal que se encontrava criado nas cortes e que viria a ser sacrificado ali mesmo pelos homens da casa e a ajuda de vizinhos. Às mulheres cabia-lhes a confeção das diversas iguarias consoante as necessidades para presentear os familiares e amigos que se juntavam, porque naquele tempo toda a gente da aldeia na sua mais humilde refeição desejava sobretudo homenagear, pela dádiva, o Menino chamado DEUS. Quanto a mim este é que era o verdadeiro espírito de NATAL… E depois da comida mais ou menos farta a noite acabava na capela, ou igreja da aldeia para se rezar e fazer os Cânticos ao Menino. No adro, a enorme fogueira do tronco era aconchego para os mais friorentos ou sem agasalhos necessários…cantava-se, dançava-se à roda, contavam-se anedotas ingénuas, ou episódios caricatos que no dia -a -dia do trabalho poderiam acontecer… tudo servia para se soltarem as gargalhadas… Sei que era assim, ainda vivenciei alguns momentos. Mais longe na casa paterna iria encontrar, depois, um brinquedo, uma boneca, os saquinhos com chocolates que eram para nós uma delícia. Naqueles tempos de hábitos ancestrais, não havia o manancial de dinheiro de hoje, nem os desgraçados hábitos que se foram instalando “de quanto maior for a conta bancária, melhor,” nem que para isso se cometa toda a espécie de barbaridades, se apropriem de valores a que não têm direito, nem merecem pelo NÂO trabalho que fizeram. E todos dizem que a vida está muito má….