O palco das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ)


Quase que por milagre, o palco retirou o foco das sucessivas polémicas no governo.
Num momento em que surgiam diariamente na imprensa casos comprometedores para o Governo, aparece de repente uma notícia dizendo que um palco construído para um evento religioso custa 5 milhões de euros, posteriormente revisto para um valor inferior que rondará os 3 milhões de euros!
Todos nos surpreendemos: tanto dinheiro por um palco? Se uma moradia em Portugal custa hoje com facilidade mais de um milhão de euros, como estranhar que uma obra de tamanha envergadura custe tanto? Acontece que nem é, sequer, propriamente um palco. É uma gigantesca estrutura com capacidade para receber duas mil pessoas.
E o que dizer do gasto com o Grupo de Projeto para a JMJ nomeado pelo Primeiro-Ministro António Costa que vai custar, até ao final de 2023, mais de 615 mil euros e, segundo o Correio da Manhã, 90% desse valor (530 mil euros) corresponde a despesas com o pessoal da equipa encabeçada por José Sá Fernandes? A equipa em causa é constituída por um coordenador, três adjuntos, três técnicos especialistas, uma secretária pessoal e um motorista e nos dois anos de contratação de serviços, 2022 e 2023, custa mais de 1,2 milhões de euros, sendo que mais de um milhão está direcionado para salários.
Estimados leitores, caras são estas “equipas de vão de escada” que nada coordenam e nada fazem. Carlos Moedas, Presidente da Câmara de Lisboa, não quer trabalhar com Sá Fernandes, coordenador nomeado pelo Governo pois sabe bem que esta equipa apenas existe para receber salários milionários e para complicar quem quer fazer! A partir de agora, a “Câmara Municipal é que coordena»! E vai assumir a coordenação da JMJ e articular-se diretamente com a Igreja. “Não aceitamos mais pretensos coordenadores que não fazem nada”, disse o vice-presidente do município.
O grande problema que esta notícia revelou foi a irresponsabilidade de toda a gente envolvida no processo. Como é que uma iniciativa que está decidida há três anos chega a esta altura neste estado? Como é que um acontecimento que envolveu todos os poderes públicos e a Igreja Católica chega a 180 dias da abertura com toda a gente a dizer que desconhece o projeto ou mesmo a pô-lo em causa?
A urgência da obra, que justifica o contrato de construção por ajuste direto, resulta da inação do anterior executivo lisboeta liderado pelo atual ministro das Finanças, Fernando Medina que durante 2 anos e 8 meses, entre 27 Janeiro de 2019, data do anúncio da realização das JMJ (efusivamente festejada pelo presidente Marcelo) e Setembro de 2021 (eleições autárquicas), nada fez!
O bode expiatório escolhido foi, simultaneamente, o atual executivo camarário e o Patriarcado. Carlos Moedas foi o único que teve a reação certa; disse: vamos em frente, eu estou aqui para fazer, o que é preciso é ter isto pronto, assumo pessoalmente a coordenação. Haja alguém com responsabilidade!