lendas, historietas e vivências

A RUA DA ESTAÇÃO
Seguindo a caracterização desta nossa simpática via rodoviária, dela demos conta até ao último comércio do amigo senhor Alfredo – um vizinho já velhote que viera do Brasil e aqui construíra a sua casa e implantara o seu comércio mesmo junto a uma curva apertada. A partir daqui a estrada mostrava mais duas moradias – uma, bem bonita, com arquitectura tipo Raul Lino e a cerca de cem metros a última construída pelo sr Martins, americano, com uma arquitectura esquisita. Não a achávamos bonita, mas o sr Martins e família eram uns simpáticos Amigos, uns bons vizinhos. Era o que mais importava. Aliás todos os habitantes com quem eu privei desde miúda eram grandes Amigos é por isso que aproveito a história duma via histórica para encastelar as boas recordações e também as menos boas que se viveram. Então passada a última casa referida, a Estrada da Estação desenvolvia-se em curvas e contracurvas entre a mata da Condessa para poente e a quinta da Carvalha (família D.Conceição Albuquerque), para Nascente. Quando a estrada chegava ao troço da subida com uma curva bastante fechada e perigosa, ainda não havia no percurso nenhuma moradia. O único ponto a fazer história era a célebre e já desaparecida Quinta da Mónica, umas construções toscas com casa de habitação humilde e os alpendres do gado. Aqui vivia uma família, os caseiros, que cuidavam de algumas áreas de terreno da quinta da Calçada. Digamos que a estrada da Estação era bonita, tanto no piso bem cuidado de paralelos, bordejada de arvoredo, como na bela paisagem que se desdobrava no caminho da descida, até lá ao longe a majestosa Serra da Estrela. A caminho da Vila, ao tempo, o piso não sofria alterações- eram os 3 Kms e meio, bem empedrados. Já à entrada de Mangualde havia uma árvore enorme, a que davam o nome de “figueira do diabo.” Tinha junto ao tronco um abençoado banco de pedra que convidava a breve descanso. Para os homens atrapalhados com a sede logo encontravam à beira a “Tasca do Polícia,”numa casa torta que ficou conhecida por “ferro de engomar”. Hoje já não há figueira, já não há ferro de engomar…o progresso não se compadece, nem com a história nem com sentimentalismos que possam atrapalhar as destruições que a pá de uma escavadora pode fazer, quando mal informada, como aconteceu ao longo desta via histórica. Assim chegada ao Bairro camarário o empedrado desapareceu e vem de lá o asfalto, um rápido remendo… e a estrada lá seguiu mais um quilómetro até chegar ao centro, finalmente. Agora ainda iremos ver as desgraças que irão descambar na pobre estrada histórica com a proliferação da construção linear que está a desabar por toda a região….! Nós, que do nosso cantinho, defendemos a nossa HISTÓRIA e o património construído como marca poderosa dos tempos idos, gostaríamos de entender o trabalho de alguns cérebros da nossa praça.