lendas, historietas e vivências

ESTRADA DE PARALELOS
O Bairro da Estação surgiu naturalmente pelo movimento do Caminho de Ferro e os viajantes que o comboio passou a transportar. E que grande azáfama, desde as pessoas que vinham para a vila e arredores tratar dos diversos assuntos do seu dia a dia, ou a simples visita a familiares. A esse tempo a vila, aconchegando o seu casario no planalto, dava uma imagem de algum conforto pelos negócios que proporcionava ligados às diversas actividades – oficinas, serrações, armazéns de tecidos, lojas de produtos para apoio à agricultura - a principal área de produção nos arredores e criação de gados e seus recursos. Esta movimentação implementava ao longo da “histórica Estrada de Paralelos” uma dinâmica muito peculiar. Uma variedade de cidadãos e veículos que por sua vez também traziam ânimo ao pouco comércio que se instalou na borda desta via e que já referi anteriormente. A vida do Bairro também se desenvolvia de modo relativamente simples e um tanto amarrada à sua Estrada, já que todas as casas eram construídas ao ritmo do seu traçado. Os vizinhos eram mesmo vizinhos por todos os lados, para o bom e para o menos bom, já que por vezes- não muitas - surgiam problemas que alteravam os ânimos entre um ou outro. No entanto a harmonia, a interajuda e o divertimento eram o estímulo diário de todos os cidadãos. Se um adoecia a sério, logo os vizinhos se iam apresentando para ajudar ou confortar. Não foram poucas as vezes em que vizinhas se deslocavam a casa duma família onde havia alguém doente para apoiar na medicação, dar uma injecção, ou a refeição, enfim tudo o que fosse necessário para o equilíbrio das pessoas. Nem sempre a família podia estar próxima, noutros casos seria a eterna questão material. Mas esta proximidade dos Amigos Vizinhos era a segurança, o esteio da recuperação da saúde, ou apoio moral. Ao tempo não havia lares ou instituições que prestassem cuidados na própria casa e mesmo que houvesse, na maioria dos casos, não haveria modo de pagamento. Passaram-se algumas décadas sem alteração notória nas condições económicas da generalidade dos agregados familiares. Contudo, aqui nas proximidades, nunca ninguém ficou ao abandono. Em caso de uma situação de saúde se agravar aí começava uma corrida Estrada abaixo Estrada acima, a vizinhança estava sempre pronta para qualquer apoio. Quando um ou uma vizinha morria todos sentiam a sua ausência por largo tempo…Se me detenho nestas descrições é porque também sinto a ausência triste dos Meus familiares, das Minhas vizinhas…e vizinhos. E tudo decorria ao longo desta histórica ESTRADA DE PARALELOS. Por estas vivências, e muitas outras, dos cidadãos que a percorreram, ela merece ser preservada e restaurada com uma certa brevidade.