Vergonha na Igreja Católica


Numa conjuntura particularmente turbulenta e incerta, agravada pelo clima de guerra na Ucrânia e ainda mal recuperada da crise pandémica, a Igreja Católica continua a somar mais polémicas, mas alguns dos seus dirigentes parece que não querem entender a gravidade dos factos.
Após décadas de encobrimento de casos de abusos sexuais cometidos dentro da Igreja Católica por elementos do clero, eis que surge finalmente o momento de se denunciar publicamente e encaminhar para a justiça todos os casos conhecidos.
As queixas sobre tais casos foram quase sempre recebidas pela hierarquia da Igreja Católica com ceticismo e desvalorização dos testemunhos, tendo mesmo, bispos a quem foram comunicados casos, argumentado que, não sendo o abuso sexual de menores um crime público, não eram obrigados a denunciá-los às autoridades civis, pelo que acabavam por ser, em vez disso, ignorados pelas autoridades canónicas.
Até mesmo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, católico assumido, viu-se obrigado em Outubro de 2022, a dizer que a fé em nada estava a toldar o seu juízo sobre as denúncias de abusos na Igreja. Foi o resultado de várias declarações polémicas sobre o caso, nomeadamente depois de afirmar que, na sua perspetiva, as 424 denúncias que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, podem “não ser um número particularmente elevado”, o que só reforça a opinião pessoal que o Presidente Marcelo devia falar menos e melhor! Bastava um só caso para ser vergonhoso, Sr. Presidente!
Bem mais assertivo tem sido o Papa Francisco referindo que “Quem minimiza o impacto desta história ou minimiza o perigo atual, desonra aqueles que tanto sofreram e engana a quem dizem servir. Analisar os casos de abusos sexuais na Igreja é um trabalho doloroso, mas necessário”, e alertou, que é fundamental que “as pessoas vítimas de abuso tenham formas claras e acessíveis de encontrar justiça”. “O abuso sexual por parte do clero e o seu encobrimento por parte dos bispos e superiores religiosos deixou uma marca indelével”, disse o Papa, defendendo que “os líderes da Igreja têm feito muito para enfrentar este mal e para evitar que se repita”.
Desta forma, o Papa Francisco finalizou dizendo que “O vosso trabalho (dos bispos) a favor da proteção dos mais vulneráveis é urgente e essencial”. E criticou quem “minimiza” as histórias das vítimas.
Tudo isso despertou em mim um sentimento de indignação, revolta e vergonha. Os problemas não se resolvem sozinhos, muitos menos estes problemas que duram à demasiado tempo e que mancham a reputação de todos, sobretudo quem sofreu os abusos e fica marcado para sempre.
Laborinho Lúcio e, aliás, toda a comissão independente de investigação aos abusos sexuais na Igreja têm tido uma atitude firme, clara e extremamente profissional. Afinal, é possível em Portugal. Gostava de acreditar na justiça portuguesa na resolução atempada destes casos mas o passado recente demonstra outra realidade.