
Desde que, a palavra obesidade surgiu de forma habitual no discurso diário, houve um esforço para realizar dados objetivos para avaliar esta epidemia. Desde a sua origem, à sua evolução e seu controle, tudo tem sido observado, medido e avaliado. O episódio que descrevo é muito comum em qualquer unidade de saúde. A enfermeira, em contexto de consulta individual, poderá ter a necessidade de medir o peso e a cintura (perímetro abdominal) do individuo, e por desconhecimento do motivo inicia-se uma cena, típica de teatro de revista:
- Oh, Sr. Amaro, deixe-me ver a sua cintura! - ergue-se a enfermeira olhando para o ecrã do computador, pegando numa fita métrica, tão semelhante a uma modista ou costureira.
- Vai-me fazer um fato, Sôra Enfermeira? – graceja, com uma expressão trocista.
- Bem, Sr. Amaro, podia até ser um complemento para o meu salário… Mas, não! Estou a ver o volume da sua barriga. Quanto maior, maior o risco de ter problemas!
A gordura pode ser localizada ou visceral (intra-abdominal). A primeira é incómoda, mas afeta mais a autoimagem, e localiza-se mais na zona da anca e coxa. Já a segunda, é mais prejudicial, porque localiza-se na cavidade abdominal e envolve órgãos, tais como, fígado, estomago, pâncreas, podendo atingir até o coração. Há um aumento do risco cardiovascular associado em homens com cintura maior de 94 cm e mulheres com cintura maior de 80 cm.
Já é tão banal, o descrédito de informar acerca dos riscos dos excessos alimentares, que as enfermeiras adotam um comportamento de omitir os motivos de medir, avaliar, palpar, ouvir. As desculpas são muitas: “Já é de família” ou “Já passei fome quando era miúdo, agora se morrer, que morra farto” ou então “Então hei-de comer o quê?”
É de senso comum, considerar uma relação entre o sedentarismo e o aumento da obesidade numa população, de fato, era raríssimo existir este problema há 40\50 anos, tirando alguns casos associados a problemas hormonais ou indivíduos que demonstravam a ostentação financeira através da gula… Este último fato ainda está muito enraizado nas mentes de alguns portugueses. Dar preferência ao peixe cozido, invés dos enchidos (a famosa chiça!), ou investir na fruta e pôr de lado o bolinho, vem sempre acompanhado com um abanar de cabeça. Todos sabemos que os conselhos não se oferecem, mas duvidar de quem está a ajudar é meio caminho andado, para o conselho passar a ser amargo.