TEMPO SECO

O Memorial da Provocação

Proposto pela DJAS - Associação de Afrodescendente, o memorial da escravatura: um monumento para reconhecer o comércio de escravos efetuado pelos portugueses, e escolhido no âmbito do Orçamento Participativo da Câmara Municipal Lisboa de 2017/2018, que evidencia que quem vota nestes orçamentos não os paga, e por vezes são muito convenientes, na angariação de eleitores votantes, a favor de quem os aprova.
Essa associação que rejeita ver esse memorial incorporado num museu alusivo às descobertas, alegando que o monumento deve dar a reconhecer: o verdadeiro passado português no contexto da escravatura, da resistência das populações africanas e verse os efeitos dessa chaga na existência do racismo atual, que diverge do papel das descobertas.
Ora se as divergências são tantas assim, porque não refletir no conceito abstrato, de um presente africano, sem a existência das descobertas do passado?!
A globalização começou, para o bem e para o mal, com as descobertas. Que seria hoje do Mundo, e principalmente o Continente Africano, sem a globalização? Eventualmente teríamos, um mundo mais ecológico e mais subdesenvolvido. Uma vantagem e uma desvantagem. Isto para demonstrar: que um bem positivo, carrega, sempre, algo de negativo. O interessante aqui é sabermos, se o bem positivo superou o mal negativo. Por vezes não supera, mas a ideia e a sua concepção não deixaram de ser benéficas, porque foram geradas com a finalidade de trazer algum benefício para toda a humanidade.
Só os mal intencionados concebem planos para produzir o mal, e não creio que tenha sido essa a finalidade dos nossos primeiros navegantes, quando se aventuraram a desbravar o desconhecido. O que veio a seguir não lhes pode ser imputado.
Se o memorial da escravatura deve ser, ou não, englobado num museu das descobertas, isso deveria ser objeto de um debate alargado a todos os portugueses, sem polémicas, e não apenas por uma mera imposição de uma associação, com a anuência de os ex-vereadores da CML, porquanto o assunto diz respeito a todos nós, e não só a um município. E só conheço um meio de o fazer. Que seja feito!
Uma alternativa que deve ser posta à referida associação: é o memorial da escravatura em Lisboa sim, e um museu das descobertas nos países africanos onde tiveram a sua origem. Assim ficaremos cientes da democracia que rege as associações deste género e dos países que representam. Porque se estão neste país devem-no às descobertas e não à escravatura, porque nenhum dos seus ascendentes, veio como escravo para cá. Vieram de livre vontade, para um país que lhes atribuiu a nacionalidade portuguesa, enquanto que os países deles, até aos nascidos lá, mas de descendência portuguesa, negaram esse direito.
Se Portugal é uma loja aberta, a todos os que queiram cá entrar? É uma realidade! Ao invés, se eu quiser um visto para ir trabalhar, temporariamente, para os países das suas origens, até um registo criminal me é exigido. É este o racismo que nos separa.