SANFONINAS

Era uma vez um menino…
Quis a Confraria da Castanha, de Sernancelhe, fazer uma homenagem a Aquilino Ribeiro, o escritor que, em 1885, nesse concelho nasceu, na freguesia do Carregal. Encomendou, pois, ao consagrado escritor e etnólogo Alberto Correia um livro de prestígio, de capa rija, profusamente ilustrado e, sobretudo, em que o primor da prosa condissesse – como era jus – com a escrita lídima do autor de Cinco Réis de Gente.
E primor foi o que saiu, nestas bem suculentas 36 páginas encorpadas, saídas da experiência da designer Sónia Ferreira!
Direi, sem receio de errar e sem rebuços, que só um génio como o de Alberto Correia poderia ter escrito esta obra-prima sobre Aquilino, Era uma vez um menino que se chamava Aquilino.
É que tudo parece simples, fluente, natural – e aí está o génio, porque recheado de miúda  informação concreta, apenas veiculada por quem profundamente viveu esses ambientes infantis e com maestria esgrime os saberes e as palavras.
Rendo-me! Um forte abraço de parabéns!
Respondeu-me o autor: «Génio, não. A minha infância também está ali em retrato. Como num antigo livrinho, A Roda das Estações, que tu foste dos primeiros a comprar».
É verdade, no que respeita à Roda, que ainda hoje me deliciou e deliciou meus filhos; não o é, em relação a este Aquilino, porque, na verdade, por ali perpassa, envolta num halo de ternura imensa a evocação do que poderia ter sido a meninice do consagrado escrito: os ambientes físicos, a companhia do cão Barzabu, a mansidão da égua Inácia…
Ora leia-se:
«Os lobos da serra. As cruzes dos caminhos. O sino a badalar. O cipreste junto ao cemitério. O rosmaninho queimado nas fogueiras. Os contos das mulheres sentadas à lareira. Os caretos do Entrudo, de assustar. O magusto das castanhas ao vir do S. Martinho. As toadas dos rapazes na quadra do Natal».
Não nos sentimos lá? Não nos sentimos crianças?
Sim, era «a vida a abrir-se como as folhas de um livro, a correr» – mas só poucos saberiam preencher de palavras certas e bonitas as páginas que se vão escrever!