Era apenas uma dor de cabeça….

Imagine uma pessoa que já foi intervencionada à cabeça, por ter tido uma artéria dilatada (aneurisma). Imagine essa pessoa, que passou por uma experiência dolorosa física e psicologicamente. O desafio de ficar dependente de terceiros, ainda jovem, e reconstruir toda a sua vida em função de uma alteração física, mesmo com todo o apoio de fisioterapia e reabilitação. Parece que, esta pessoa sabe reconhecer que quando tiver uma mera dor de cabeça, corre um risco potencial de repetir a mesma experiência. Ou possivelmente, o tempo fez esquecer todo o processo de recuperação, esquecer… Não! Reprimir, talvez!
A dor de cabeça (cefaleia) intensa, acompanhada de sensação de desmaio (lipotimia), nunca deverá ser desvalorizada. Especialmente, se quem a tem, tem antecedentes neurológicos! É, aqui que encalha a literacia de saúde que a pessoa possui. - “Será que devo ir ao centro de saúde? É perto de casa. Tem lá médicos e enfermeiros, e até me podem enviar para o hospital se tiver uma coisa séria.”
É uma das escolhas possíveis, quase sempre associada a emoção de vulnerabilidade, e à parca gestão de informação do uso do sistema de saúde. Tempo, é algo que é precioso em saúde, existindo vários processos assistenciais, quando se contata o 112. As Vias Verdes do sistema de emergência, surgem para dar uma resposta rápida ao paciente, para que o tratamento seja administrado em tempo útil, mediante avaliação médica especializada. Isto traduz-se em maior eficácia na recuperação do paciente, e menor probabilidade de mortalidade.
Agora regressamos à pessoa que já teve um aneurisma cerebral, e que tem uma cefaleia intensa que nem consegue abrir os olhos, acompanhada de tontura que quase desencadeia náuseas! Pessoa que confia no sistema, mas não sabe ter a escolha adequada, porque desconhece que os recursos de centro de saúde, não são, DE TODO, iguais ao um hospital. Pessoa que foi iludida, a considerar uma consulta de sintomas agudos, como se de um serviço de urgência se tratasse!
Resumindo, quando confrontada, horas mais tarde num genuíno serviço de urgência, porque não veio mais cedo, responde: “Fui ao meu centro de saúde…Levei um soro e fui para casa!”
Atualmente, ninguém é enviado para casa, com os sintomas que apresentava, e então surge outra pergunta: “Sabe qual foi o médico que a viu?”. Saber, saber…claro que sabia! Mas optou por dizer: “Não me lembro…”. Medo de represálias? Medo de ser recusado apoio durante o processo de recuperação? Talvez… Mas o que prevaleceu, foi que a escolha foi dela, e a responsabilidade ficou solteira. Afinal, reclamar para quê? Tudo é relativo, e o estatuto social ganha sempre!