Reflexões sobre o ensino


Sendo por todos reconhecido que a Educação é a maior alavanca para o desenvolvimento sustentável de um país, é necessário que haja coragem para apostar na qualidade de ensino e não nas estatísticas.
Depois da anormalidade que se instalou nos estabelecimentos escolares com a pandemia que perturbou as aprendizagens dos alunos, este ano letivo fica marcado pelas greves de docentes e não-docentes.
Apesar de tudo e fruto de medidas excecionais que se chamam serviços mínimos, o bom senso de uma larga fatia do corpo docente que, mesmo zangado por não ver satisfeitas algumas das suas reivindicações, soube pôr acima de tudo uma forte consciência profissional. Mas as paragens vividas ao longo do ano justificam que ponderemos seriamente quem saiu mais prejudicado; e é indiscutível que foram os alunos, todos é verdade, mas de modo muito especial aqueles que têm mais problemas sociais e financeiros, para quem a escola pública é quase o único elevador social que encontram nas suas vidas.
Por outro lado, não poderemos esquecer a questão da valorização da profissão docente. É inquestionável que ao longo dos últimos anos o exercício da docência tem vindo a perder pontos no reconhecimento social. Tenho como certo que as irregularidades e vicissitudes dos últimos anos na educação deveriam merecer do governo uma atenta preocupação para garantir uma educação de qualidade, o que passa também por dar aos professores o reconhecimento que eles merecem sabendo que o salário emocional não paga contas.
Em boa verdade, o Ministério da Educação não tem obedecido a uma busca de qualidade, de conhecimentos, de uma ideia de futuro que se prevê muito exigente. Quando negam que a educação esteja rebentada, apesar de o ministro dar mais atenção aos temas da ideologia de género do que às condições dos professores para ensinarem os alunos, de os pais não terem creches para deixar os bebés, ainda que elas estejam legalmente previstas e de graça, e de o sucesso escolar resultar da proibição de se chumbar e não de uma aprendizagem competente e efetiva, logo por aí se vê que o “rei vai nú”.
Mas valorizar a profissão docente não deve começar apenas na formação dos futuros professores, mas evitar que os atuais docentes não escolham outras vias profissionais. O que se está a passar com a escola pública na falta de atratividade para a função docente é transversal a muitas outras classes profissionais, como os enfermeiros, os médicos, os polícias ou os informáticos.
Para além disso, o que já não devia acontecer em tão elevado número é que os docentes andem com a “casa às costas” e, diga-se de passagem, que as medidas agora anunciadas como a vinculação dinâmica não irão resolver nada, apenas agravar e perpetuar a precariedade laboral e familiar dos docentes, pois o governo apenas quer resolver a falta de professores onde os votos contam mais, ou seja, nas grandes áreas populacionais do sul do país.
P.S.: Já depois de ter escrito esta reflexão, no dia 26 de Julho o Presidente da República vetou o decreto-lei sobre o tempo de serviço dos professores.