TEMPO SECO

Negligência à portuguesa
Infelizmente e para nossa desgraça, a inteligência é um modus operandi complexo demais, para que a grande maioria dos portugueses, mostre algum interesse por essa capacidade intelectual: de ir mais longe com mente do que com a força. A influência dessa capacidade, não é compatível com a presunção, sem limites, que tanto nos carateriza: somos os melhores em tudo, quando somos os melhores, em nada! Neste nosso destino, traçado às avessas, e ensimesmados em nós próprios, não avaliamos o mal, que consciente ou inconscientemente causamos aos demais.
Assim, acontece com o negligente trato a que votamos a solicitações prioritárias, que o planeta de todos reclama. O nosso futuro, o futuro da nossa descendência, o futuro da humanidade, estão em causa, quando, por bem ou por mal, provocamos a finita resistência do planeta em que habitamos, por necessidade ou por mero lazer e ostentação.
Que conservemos as ações, a que a necessidade nos obriga, ainda se tolera. Que permitamos ou pratiquemos as supérfluas não é, de todo, admissível.
Refiro-me: aos cortejos de motas e carros velhos, que sem qualquer utilidade razoável e altamente poluidores, se vão permitindo no nosso país. De quando em quando, assistimos a esses desfiles insensatos que, às vezes, com quilómetros de extensão, e abusivamente ocupando as duas faixas de rodagem da via pública, provocam um ruído ensurdecedor, e uma nuvem azul escura, que deixa no ar um cheiro asfixiante, de óleos de motor e combustíveis mal queimados.
Será, que os “ilustres” participantes desses irresponsáveis eventos, ainda desconhecem: que quando os combustíveis fósseis são queimados, libertam dióxido de carbono (CO2) e outros gases com efeito de estufa (GEE), que retêm o calor na nossa atmosfera, sendo os principais responsáveis pelo aquecimento global e pelas alterações climáticas?! Não saberão: que a combustão incompleta dos combustíveis fósseis liberta o monóxido de carbono, um gás extremamente venenoso, que não deve ser lançado na atmosfera? Assim, tem sido com o uso e abuso, do carvão e de todos os derivados do petróleo, que possuindo um elevado teor de impurezas, são libertadas na sua queima, e poluem o ar que respiramos. Esta descontrolada ocorrência, aliada à liquidação drástica das áreas verdes do planeta, verificada nas últimas décadas, provoca a combinação fatal da diminuição da fixação do dióxido de carbono, que se vai acumulando na atmosfera.
Acho, que esses eventos serão licenciados, por qualquer entidade responsável e com técnicos conhecedores, desses impedimentos. Assim sendo: porque são ainda permitidos? Ainda é cedo, para começarmos a erradicar o que não faz falta nenhuma e condiciona o futuro de todos?
Já na década de oitenta, do século passado, ainda em Portugal, não se falava em aquecimento global, e na Suiça: nos cruzamentos das vias rodoviárias, de trânsito mais intenso, existia a obrigatoriedade de parar o motor, a partir do veiculo número quatro, da fila em que estava inserido, com a finalidade de reduzir as emissões de dióxido de carbono. E nós, quarenta anos depois, ainda não sabemos por onde devemos começar, para lhe seguirmos o exemplo?!
O português é assim: nasce sem nada saber e morre sem nada aprender.