Meu querido “INTERIOR”

fátima tavares cds
Esta manhã, enquanto fazia a viagem de casa para o trabalho, que dista a uns parcos 15 Km, ia pensando como sou privilegiada por poder viver aqui, nesta terra abençoada por Deus e bonita por natureza.
É claro que, bem vistas as coisas, nem tudo tem sido sempre fácil, para aqueles que cá moram. Quem tem o privilégio de ser do INTERIOR, tem igualmente uma dose dupla de coragem para fazer dele morada permanente. Os senhores que têm mandado nos nosso destinos, têm optado por se esquecer de nós, obrigando-nos a pagar uma fatura que não devíamos.
Por aqui, no INTERIOR, e no INTERIOR do INTERIOR, nesta zona que mais me toca, vejo cada vez mais menos gente!! Este é um facto que inegavelmente me entristece. Uns emigram, outros morrem e outros nem sequer chegam a nascer, porque não há condições.
Os mais corajosos, os que por aqui vão ficando, aguentam quantas vezes, a ferro e fogo, com muito suor e lágrimas, as suas indústrias, o seu pequeno comércio e uma agricultura ainda bastante rudimentar, mas que em muitos dos casos é a única forma de sustento para a cada vez mais reduzida e envelhecida família.
E é isto que tem acontecido ao longo dos tempos, à nossa economia, à nossa justiça, à nossa saúde e até à nossa educação. Nem é bom comentar. É o que todos sabemos e que diariamente nos entra pela porta a dentro, porque as noticias infelizmente, vezes sem conta, primam por ser deprimentes e deixam a todos deveras tristes. Não fosse uma enorme vontade de vencer, que nos move, teríamos também nós, já baixado os braços.
Mas, aqui, no meu querido INTERIOR, há gente que resiste e fá-lo com inquestionável vontade. Com algum sacrifício, é certo, e com muito mais rugas e pele mais seca, tanto por força deste clima austero, como pela falta de recursos para tratamentos pessoais, mas ficam cá por amor à terra e ficam porque acreditam, tal como eu, que existe a esperança em dias melhores.
E venham dizer-me os senhores da capital que sou da província, pois para eles tenho a resposta perfeita na ponta da língua, ou não estamos nós tão próximos da dita civilização que por lá se pratica, como eles mesmos?! Quem como nós pode dizer que está a uma hora de Coimbra, do Porto e até nuestros hermanos espanhóis podem gozar da nossa visita, ou não ficasse Salamanca a uma curta hora de caminho?! Acresce a isto que levamos ainda, vantagem significativa em relação a eles, ou não tivéssemos excelente ar puro, ausência de filas para tudo o que é prestação de serviços, fácil e rápido acesso aos ditos meios evoluídos de sobrevivência e beneficiássemos ainda, do contacto com gente afável, simpática e de imenso coração.
INTERIOR?! Pois, que seja!! Mas ainda assim, cada vez mais, gosto mesmo disto!!