DIA AZIAGO?

juiz
No dia 13 de Maio, juntamente com um grupo de amigos, iniciámos uma viagem de três dias a terras nortenhas. Antes de partir, logo pela manhã ouvi uma notícia acerca das festas que teriam lugar em Montalegre, como acontece todas vezes que o dia 13 ocorre a uma sexta - feira. Parece que essa coincidência pode acontecer entre uma e três vezes no ano civil.
Ao ouvir a notícia, recordei então as célebres festas do Padre Fontes e as “queimadas” que costuma fazer com aguardente, a que junta outros ingredientes, e dá a beber aos visitantes. Brincando com as superstições, o Padre Fontes certamente não consegue pôr-lhes termo, mas consegue atrair muito turismo e contribui, sem dúvida, para um maior desenvolvimento da região. O Município de Montalegre reconhece o seu contributo e já encontrou modos de imortalizar o seu nome.
A atitude do Padre Fontes quando procura parodiar a superstição tem merecido a crítica de algumas pessoas que entendem que a mesma nada tem a ver com religião. Porém, se atentarmos na etimologia da palavra concluímos que superstição é o que está para além da verdade religiosa do homem.
Qual a razão por que a coincidência entre o dia 13 e a sexta - feira é popularmente considerada dia de azar? Para algumas pessoas o dia 13 é considerado de má sorte, porque lhes traz à lembrança o número dos comensais que estiveram à mesa na última Ceia de Cristo, sendo certo que depois houve a morte de Jesus e de Judas Iscariotes. Por sua vez a sexta - feira faz-lhes evocar o dia em que Jesus Cristo foi crucificado. E somando o dia da semana com o dia do mês, a tradição encontrou o dia mais azarado. Para alguns nem é necessária a junção. Começam por evitar sentar-se a uma mesa onde já estejam instaladas 12 pessoas, pois receiam que a seguir aconteça a morte de um deles.
Os acima referidos não serão os únicos fundamentos que levam as pessoas a considerar tão aziago o dia 13 quando se situa a uma sexta - feira. Um outro motivo também muito conhecido é o que diz respeito à data em que foi posto termo à Ordem dos Templários, fundada em Jerusalém por Hugo Payens e sete cavaleiros, em 1119, para lutar contra os infiéis. Esta Ordem militar e religiosa alcançou um tal poderio económico que se tornou em uma espécie de sociedade financeira de Reis e de Papas. Tal poderio ocasionou a cobiça do Rei de França, Filipe IV, o Belo, que decidiu suprimir a Ordem, acusando os seus elementos de heresia, idolatria, blasfémia e sodomia. Sob o seu mando, no dia 13 de Outubro de 1307, uma sexta - feira, os elementos da Ordem foram simultaneamente presos em todo o País e torturados pela inquisição francesa que os obrigou a confessar crimes que não haviam cometido. Muitos sucumbiram à tortura e outros foram queimados vivos. O próprio grão-mestre, Jacques de Molay, não suportando mais o sofrimento, confessou delitos que depois negou ao ser conduzido para a fogueira. Momentos antes de morrer, amaldiçoou o Rei e o Papa Clemente V, que viriam a falecer um ano depois. Entretanto, o Rei de França apoderou-se da maior parte dos bens.
A propósito, lembremos que os restantes bens dos Templários foram pelo Papa mandados transferir para a Ordem dos Hospitalários. Porém, D. Dinis, de forma inteligente, conseguiu que os bens da Ordem dos Templários que se encontravam em Portugal aqui se mantivessem, tendo passado para a Ordem de Cristo, que criou em substituição da extinta.
Como se verifica, as superstições, sendo crenças irracionais, podem ter várias origens. Por vezes até um gato preto pode ser a vítima da pessoa supersticiosa, pois vem da Idade Média a crença de que as bruxas se transformavam em gatos pretos.
Deixemos por aqui as superstições, pois agora era nossa intenção fazer referência principalmente à sexta - feira quando a mesma calha num dia 13.