FUTEBOL E ALGO MAIS

juiz
Portugal tornou-se campeão europeu de futebol, depois de ter ganho à França, o país organizador.
Esta vitória fez vibrar de entusiasmo todos os portugueses residentes no País, mas também os portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo, incluindo os que se encontravam emigrados em França. Mas esse entusiasmo teve uma repercussão ainda muito mais dilatada. Estendeu-se igualmente aos naturais das antigas colónias portuguesas.
Numa entrevista dada ao Jornal “A Bola”, o escritor angolano José Eduardo Agualusa afirmou, a propósito, que “Angola guarda rancor a Portugal, mas ainda vibra com a Seleção”. E acrescentou que, apesar desse rancor contra Portugal, a nossa Seleção consegue suscitar paixões nos Países africanos de língua portuguesa. Questionado sobre “esta bipolaridade” – rancor ao País e paixão pela Seleção - Agualusa explicou: “eu acho que tem a ver, em parte, com a considerável presença de atletas africanos na Seleção ou afrodescendentes”.
Com o devido respeito, não nos parece que o facto de alguns africanos fazerem parte da Seleção constitui a explicação única para o sentimento manifestado. A euforia propagou-se, para além de África, a Países que nada têm a ver com a origem dos jogadores.
Como podemos ficar indiferentes ao portuguesismo manifestado pelos Timorenses? As imagens transmitidas não deixam dúvidas sobre o esfuziante delírio que deles se apoderou. Multidões percorreram as ruas animadas de uma alegria contagiante, empunhando bandeiras portuguesas enquanto gritavam o nome de Portugal.
Porém, o que mais me impressionou foi o conhecimento do que se passou em Malaca. Malaca fica nos confins do Mundo. Foi uma colónia portuguesa durante apenas 130 anos e em tempos muito recuados, entre 1511 (mais precisamente 15 de Agosto de 1511) e 1641. É certo que a euforia não nasceu apenas no dia do jogo entre Portugal e a França. Em Malaca existe um Bairro Português onde vivem alguns lusodescendentes e são vários os nomes que fazem lembrar a nossa permanência por aquelas terras que o decurso do tempo não apagou: “Restaurante Portugal”, “Bar Lisboa”, “Igreja de Santo António”…
Existem em Malaca ranchos folclóricos que cantam e dançam o “malhão” e o “corridinho” e é costume haver lugar à Festa de São Pedro.
Votando ao futebol, tivemos notícia de que o desafio foi visto nessa longínqua terra num écran gigante que foi colocado numa praça. Atendendo à diferença de fuso horário, o jogo teve início às 3 horas da manhã. Estenderam-se mantas no chão. Muitos deles pintaram-se com as cores da nossa bandeira.
Na segunda parte do desafio, a chuva começou a ameaçar e a trovoada manifestou a sua presença, mas ninguém arredou pé. Alguns iam roendo as unhas e a cerveja ia-se esgotando. Sentiram muito a lesão de que foi vítima o “nosso” (deles) Cristiano Ronaldo.
Quando finalmente o Éder meteu o golo que nos deu a vitória, os tambores não paravam de rufar, toda a gente saltava e uma réplica da “taça do mundo” passava de umas mãos para outras.
Enfim, ficamos muito satisfeitos por ver que se mantém uma certa ligação a Portugal. Vale a pena conhecê-la melhor, o que poderemos fazer noutra ocasião, mas por agora ficamo-nos pela notícia do futebol, pois não existe espaço para prolongarmos a viagem com vista a explorar outros aspetos de paragens tão mal conhecidas da generalidade das pessoas.
Fiquemo-nos pelo sabor da vitória desportiva sem outra mistura.