TEMPO SECO

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A Feira do Tachos
Com as eleições autárquicas a um ano de distância, são já visíveis as movimentações das feras políticas locais, num desassossego geral e extemporâneo, prejudicando as actividades laborais, mais expostas a estas cíclicas ocorrências de desnorte colectivo.
É triste, que num país tão carente de bons profissionais, como este nosso Portugal, se pratique tão pouco a evolução do pensamento e do conhecimento tecnológico e científico, que é o caminho mais direto para o sucesso pessoal, livre de submissões partidárias e oportunistas, que tendem a arrastar jovens, politicamente analfabetos, para dependências pecuniárias provenientes do erário público e do sufrágio popular. Nada mais errado existe, para o futuro desses jovens, que depositarem a sua confiança naquilo que não merece confiança alguma.
Se é certo que alguém tem que exercer essas funções. Também é certo que elas devam ser exercidas, por quem de plenitude intelectual e idoneidade pessoal, se possa ajustar aos requisitos mínimos exigidos para essa missão. Se não é assim, pelo menos deveria ser.
Cada vez mais os eleitores se desligam do ato de votar, por considerarem, neste caso, que os candidatos que se perfilam, não possuem qualificações mínimas para as funções políticas a que se candidatam. Não basta ser um protegido do sistema implantado, para lhe conferir essas qualificações. Assim, como não basta estar ligado a uma colectividade de índole, cultural, desportivo ou ambiental, etc., para, e só por isso, merecer a atenção dos eleitores. A maior parte dessas colectividades, só subsistem pendoradas do subsídio do sistema, que as sustenta, e às quais exige a sua fidelidade. Bem analisada a situação dessas organizações: a maior parte delas, nem sequer deveriam existir, porque além de anularem a hipótese de um ou outro estabelecimento comercial poderem subsistir, na povoação em que estão inseridas, elas nada têm de cultural, ambiental ou desportivo, porquanto a suas actividades se resumem à venda de bebidas e uns petiscos, sem pagarem impostos, além, do jogo da sueca, da assistência televisiva e da apresentação e propaganda de candidaturas políticas, que por lei, até, lhes é vedado. Onde está a promoção da cultura, do desporto e da protecção do ambiente?... Têm um funcionamento sim, bastante contraditório, e muito semelhante ao de um desonesto taberneiro que, outrora, apregoava vinho e vendia vinagre.
Vê-se fazer de tudo para alcançar o pedestal da ignara competência. Autoproclamam-se detentores de toda a sabedoria e nada sabem. Evocam porta a porta aptidões que ninguém lhes outorgou. Perdem a vergonha e a dignidade. Idolatram a hipocrisia e a transparência rasteira Há uma banalização total daquilo que deveria ser uma das funções mais dignas da sociedade local, que pretendem representar. Em conclusão: é uma feira, onde todos pretendem adquirir o seu tacho novo e de longa duração, a troco da sua independência pessoal e da própria integridade moral. Que falsidade!… Não adquirem mais que um tacho velho e furado, que nem para substituir um provecto penico serve.
Dez. de 2016