Arquivo mensal: Junho 2020

RENASCIMENTO FALOU COM PEDRO GUIMARÃES, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO EMPRESARIAL DE MANGUALDE

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Depois de na edição passada termos publicado o testemunho dos comerciantes de Mangualde, que deixaram o seu parecer quanto à forma como estão a viver esta fase, para todos complicada, provocada pelo surto epidemiológico do COVID-19, fomos nesta edição escutar o Presidente da Associação Empresarial de Mangualde, Pedro Guimarães.
Pedro Guimarães estudou Engenharia e Gestão Industrial no IST. A área da Ourivesaria da qual é comerciante, com várias lojas abertas, é aquela que sempre trabalhou desde que entrou no mercado de trabalho.
É Presidente da Associação Empresarial de Mangualde à quase um ano, tendo encabeçado uma lista única. Consigo tem José Manuel Ferreira e Luis Filipe Matias, vice-presidentes e Filipe Ferraz como Presidente da Assembleia Geral.

RENASCIMENTO - Como é que, como Presidente da Associação Empresarial de Mangualde, sentiu este problema de saúde, provocado pelo coronavírus?
PEDRO GUIMARÃES - Na minha ótica, reconheço que o problema ainda não chegou propriamente a sério às empresas. Penso que o problema ainda só se mostrou. A dificuldade é daqui para a frente, porque as pessoas estão muito retraídas ao consumo havendo pouco comércio aberto compram o estritamente necessário. Em princípio, se o consumo não atingir níveis normais, as empresas, o comércio em si, não compram aos produtores, estes não produzem e as pessoas que trabalham na produção não recebem. Gera-se, assim, um ciclo negativo que pode ser penoso, até que a confiança se restabeleça, que se atinja a situação na qual as pessoas voltem a sentir confiança. Temos que atingir o momento em que as pessoas sintam que tem tudo que voltar ao normal, pois temos, todos, que voltar a ter uma vida normal. Realço aqui que, se as pessoas não tiveram confiança em vir à rua, em fazer a sua vida normal, nada vai voltar ao normal.

RENASCIMENTO - Considera que a passagem do plano de emergência à situação de calamidade, com a abertura de algumas empresas e a possibilidade de uma abertura, total ou quase total, poderá responder a essa dúvida que o senhor está a colocar, a esse pretenso bloqueio que está a surgir e está implícito nas suas palavras?
PEDRO GUIMARÃES - Eu creio que o facto de todo o comércio estar aberto não é sinal que as pessoas consumam. É sinónimo de que há este aparato das máscaras, do gel, das viseiras, de tudo. Não é inspirador de confiança para toda a gente, há muita gente jovem que precisa trabalhar e até os vejo mais protegidos, isto é quando circulo na rua, e por outro lado, perceciono pessoas que pertencem ao grupo de risco e andam mais desprotegidas e menos adaptadas a esta nova realidade. Este aparato todo não é inspirador de confiança e enquanto os números, os indicadores da regressão do coronavírus, não permitirem que toda a gente faça uma vida normal. Parece-me que o consumidor não vai fazer a sua vida normal, pelo menos a maioria dos consumidores

RENASCIMENTO - E o senhor, como presidente da AEM tem alguma proposta que possa contrariar esta situação?
PEDRO GUIMARÃES - Nós até aqui temos estado preocupados com as pessoas tal como o governo e todas as autoridades, a Câmara, Protecção Civil, e outras entidades com responsabilidades sociais. Temos estado mais preocupados com as pessoas que, propriamente, com as empresas. É óbvio que as empresas também precisam. Agora, que está tudo mais ou menos resolvido, esperemos que definitivamente. Embora não tenha a certeza que seja definitivamente, mas espero que assim seja, sinto que é o momento de nos preocuparmos com as empresas. Com base na existência desse facto, fizemos algumas propostas à Câmara Municipal de Mangualde, nomeadamente o perdão de algumas taxas de publicidade, e de tudo o que são relações financeiras com a Câmara Municipal e que estejam ao seu alcance. Propusemos que houvesse reduções das taxas citadas, ou o perdão durante algum tempo. De qualquer maneira, todas essas isenções são custos que se perdoam mas, as empresas não vivem só desses custos, os da relação com a Câmara Municipal, pois, têm outros custos, os PEC’s, os da Seguranças Social, etc. Assim que sejam retomados os negócios, os salários dos trabalhadores são pagos na totalidade pelas empresas. Nessa altura, já não serão apoiados, em grande parte pela Segurança Social, e, a partir do momento que as empresas tem um custo com a abertura da sua funcionalidade orgânica e social, tudo fica um pouco mais turvo. Até porque, se não há consumo e os custos aumentarem, a realidade fica complexa.
No entanto, quer a AEM, que está em processo de consolidação de uma parceria, que vai acabar na união com a AIRV, quer esta ultima – elas estão muito unidas, neste momento, pois, dentro de um ano, serão uma só-, estamos a dar a nossa contribuição em conjunto com a CCP e CIP, para que, junto com o governo, haja todo o apoio, todo o colo que a economia precisa para que isso possa trazer a retoma que, seja longa ou seja curta, seja o mais apoiada possível. No entanto, há uma má notícia, que é, tal como a doença “limpou”, no mau sentido, acabou por castigar algum de nós, o falecimento de pessoas, o de algumas empresas, infelizmente, desaparecerem no meio disto tudo, porque não conseguem suportar as novas exigências, os novos custos. Não vai ser possível salvar tudo, no entanto, quando surgem as ameaças, também surgem as oportunidades, e, por isso, mais cedo do que se possa pensar, a retoma acontecerá e tudo será alcançado. A seguir à tempestade vem, sempre, a bonança.

RENASCIMENTO - O que é que o senhor considera que poderia ser feito mais, para que essa retoma fosse mais rápida. Há aqui um problema de retoma, pode bloquear a própria evolução do empresarial o que acha que poderá ser acrescentado para promover essa retoma?
PEDRO GUIMARÃES - Eu espero que as minhas ideias não sejam suficientes para ser nomeado ministro da economia (risos).

RENASCIMENTO - Não (risos)…. Mas como cidadão, empresário e presidente da AEM o que é que o senhor acha?
PEDRO GUIMARÃES - Dizia-lhe há pouco que a preocupação das entidades responsáveis eram as pessoas. Observo, portanto, se as pessoas perceberem que é preciso consumo para salvarem os seus próprios trabalhos, todos devem ser, se calhar, um bocadinho mais cautelosos, nesse ponto de vista, que o que estão a ser. Não podemos ser tão consumistas como eramos, no período anterior a esta situação de crise, e não podemos ser tão reservados como estamos a ser. Teremos que chegar, então, a um ponto moderador e mediador das duas situações salientadas. Há que sensibilizar as pessoas exatamente por esses motivos, a adaptarem as suas condutas à actual realidade. Acrescento, já, que não é só apoiar financeiramente as empresas com perdões, com isenções, são as próprias pessoas que têm que sentir que tudo depende daquilo que fizerem. A AEM neste momento está em sintonia com a Câmara Municipal, de forma a promover e organizar iniciativas que desencadeiem o consumo local. É claro que, obviamente, que ao propagandear o consumo local, vão beneficiar as empresas da região e os empregos da região. Ao faze-lo, é impossível consumirmos tudo, o que é exclusivamente produzido em Mangualde. Por essa razão, teremos que vender para fora da nossa localidade. Teremos que promover o consumo do excedentário em zonas territoriais, exteriores ao nosso concelho. Realço que não é fácil consumirmos exclusivamente tudo o que se cá faz, mas, ao consumirmos o que produzimos vamos beneficiar os fornecedores que, por conseguinte vão beneficiar os produtores. Envolver-nos-emos, assim, em atitudes que os consumidores, fornecedores e produtores assumirão em momentos distintos, pois, haverá, sempre, uma troca de papéis. São estas pequenas, ou gigantes, atitudes que irão contribuir, exactamente, no sentido da retoma económica, e na promoção do equilíbrio social; o desejado.

RENASCIMENTO - Basta, o referido, como fonte de motivações de consumo, junto dos consumidores, do cidadão comum. Será que isso é suficiente?
PEDRO GUIMARÃES - Nada é suficiente, tudo é subjectivo. Contudo, temos que avançar, algo tem que ser feito. As situações, que foram referidas poderão concretizar-se como previsto, outras não. Na realidade que que se tornar real, haverá sempre alterações, substituições, de forma a situarmo-nos numa etapa evolutiva de consenso e de benefício para todos. Agora, sublinho, nem sempre conseguimos agradar a todas as pessoas propostas e concretizadas.

RENASCIMENTO - Falamos da Câmara Municipal, em relação a uma proposta que a AEM assumiu com essa entidade, mas para lá da autarquia, no contexto concelhio, o Governo poderá acrescentar mais algum benefício?
PEDRO GUIMARÃES - O Governo tem estado à altura da situação, aliás, se me permite, vejo até uma união politica, duma maneira geral. Todos os partidos, de uma forma ou de outra, tem estado numa posição coerente com o actual momento, sem assumirem uma oposição, com conteúdos ou trajeto divergente. O que pretendo dizer é que todas as entidades politicas, com assento, na Assembleia da Republica, têm estado, entre si, muito colaborantes. Afirmo que a AEM não tem qualquer vertente política e, por esse motivo, não estou aqui para falar de política mas, de acordo com a questão colocada, e do que me é permitido percepcionar no dia-a-dia, permite-me afirmar que sinto por parte do parlamento, e do governo, que todos têm dado uma boa contribuição. Todos estão preocupados com a economia geral, e com a situação social que vivemos. Verificam-se até medidas que não eram expectáveis. Um exemplo, esta medida de apoiar em 80% todas as empresas que contribuam para o isolamento sanitário dos estabelecimentos comerciais. Vai, na sua concretização, além do que seria expectável, pelo menos na minha expectativa. Não estava, sinceramente, à sua espera, porque se um qualquer investimento custa 100 euros mais IVA. Este é deduzível, como sabe, e, por isso, num universo de 123 euros, acabamos por só gastar 20 euros. É um custo, não deixa de ser um custo, mas é um custo menor dentro das expetativas que estavam geradas. Agora, o que é necessário? É que também a economia europeia estimule a economia portuguesa. Sabemos que, se a economia europeia apanha uma corrente de ar, Portugal apanha uma pneumonia. Esperamos, portanto, que a economia europeia respire saudavelmente, para que a nossa economia seja feliz, ou aconteça da forma mais satisfatória possível. Agora, junto do Governo o que é que a AEM pode fazer? Estamos como lhe disse junto da CCP – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal--, que também nos representa. Temos dado a nossa contribuição, no sentido do referido, e, esperamos, que os factos identificados, hoje, sigam a bom porto. Tenho a esperança que conseguirão.

RENASCIMENTO - Como é que vê o futuro da AEM na junção que há pouco falou. Como é que enquadra o futuro desenvolvimento das empresas de Mangualde?
PEDRO GUIMARÃES - É simples, o distrito de Viseu tem algumas associações, todas com o mesmo interesse, que é o desenvolvimento da região. Há a AEM, a AIRV, a ACDV e temos, também, a Associação Empresarial de Lafões. Logo, com esta representatividade, se todas elas se unirem numa só, julgo que a força da região será muito maior. Esse é o nosso pensamento, porque representaremos muitas empresas. O sentimento é podermos ter ligações muito mais próximas do governo do que actualmente estarmos a ter, ao depender da associação de associações. É um desafio. O pensamento, que subjaz à intenção expressa, é o de criarmos uma associação de representatividade distrital. A propósito, não posso deixar de referir que não sei se o distrito da Guarda, de alguma forma sonha, ou não, unir-se a nós. Será, possivelmente, uma situação geoestratégica coisa que valerá a pena pensar, porque se poderá atingir outra representatividade, com a união do distrito de Visei e do distrito da Guarda, que será de uma região mais vasta, a Beira Alta. No sentido dessa apresentação, e mesmo representação, poderemos lutar, defender mais o interior e, por esse motivo, podermos deslocar mais pessoas para a nossa região, pois, vermos todos os dias, os nossos filhos que até gostavam de ter cá condições de trabalho, e fogem para Lisboa, para o Porto. Com a força que poderemos adquirir, através de uma união forte, poderemos concretizar projectos, que ofereçam e dêem oportunidades de radicação na nossa região, às gerações mais jovens que, habitualmente, se têm deslocado para outras regiões, no nosso país, e em muitos casos, infelizmente, para fora do país. Será uma maneira de tentarmos lutar por esses quadros tão valiosos que produzimos e que, infelizmente, vão fugindo.

RENASCIMENTO - Esse é o aspeto positivo e o negativo?
PEDRO GUIMARÃES - Negativos, confesso que ainda não vi nenhum, mas aceito que possam existir.

RENASCIMENTO - Não o incomoda ver por exemplo a assimetria do desenvolvimento, regiões a serem mais favorecidas do que outras. Mangualde não poderá correr esse risco em relação a Viseu?
PEDRO GUIMARÃES - Não, não vejo isso por esse lado, antes pelo contrário. Aliás a AIRV já teve Presidentes de empresas de Mangualde, e esta cidade não foi mais beneficiado ou prejudicada por isso. Não é por aí, julgo eu, que deveremos investir, em termos de decisão empresarial.

RENASCIMENTO - Não terá alguma lógica a pergunta formulada?
PEDRO GUIMARÃES - Compreendo a sua dúvida, mas para já Viseu não é assim tão grande, infelizmente ou felizmente. Por exemplo, não são raras as vezes em que vivo em Mangualde e trabalho em Tondela. Aliás, conheço várias pessoas de Mangualde que trabalham em Tondela, e de Resende que trabalham em Viseu ….

RENASCIMENTO - Não considera, contudo, que a união das associações empresariais do distrito de Viseu numa entidade própria, a ficar localizada em Viseu, não poderá beneficiar esta cidade? Não é mais uma entidade oficial com sede em Viseu? Não há demasiadas instituições, do poder político, da área educacional, da saúde, e de outras áreas, localizadas em Viseu? O senhor não constata muita concentração na referida cidade?
PEDRO GUIMARÃES - Se estivermos a falar duma Associação que apenas quer lutar pela cidade e concelho de Viseu, compreendia a sua pergunta. O que é certo, é que actualmente a AIRV tem contactos, já tem contatos com Câmaras Municipais do distrito, e com instituições, no sentido de termos já gabinetes de trabalho institucionais. Desculpe eu utilizar a expressão nós, mas o sentimento de união é mesmo esse, no sentido de termos gabinetes de apoio às empresas locais e regionais. É o projeto que se está a desenvolver. É uma desmultiplicação da AIRV, com o provável e eventual “casamento”, que venha a acontecer com as outras associações da região. Esperemos que essa situação se verifique. É esse é o meu sentimento. A união das associações terá mais representatividade e desenvolverá um maior número de projetos, criará sinergias, com gabinetes de apoio às empresas junto das Câmaras Municipais, que uma única associação não conseguirá fazer. Qual será a lógica que terá, com o devido respeito, ter uma associação empresarial, exclusivamente, para um concelho, Penalva do Castelo, ou outro assim do mesmo tamanho, Nela. Considero que, se tivermos alguém que possa estar uma manhã, por semana, em Nelas, ou a visitar as empresas de Nelas, e depois, na outra manhã já poder ir a outro concelho, cria um sentimento de proximidade, que juntar todas as sinergias todas e produzirá uma força de conjunto. A AEM, ou outra entidade da mesma natureza, não tem essa capacidade, não tem colaboradores suficientes, não tem capacidade de os manter para que possam visitar com frequência as empresas, para que possam estar, não só ao lado, mas também de frente, para as poder visitar. Uma associação maior terá essa proximidade para o fazer em todo o distrito. Julgo que se estivermos mais preocupados com o “quintal dos nossos vizinhos” que com a união do nosso “quintal”, definitivamente, não iremos a lado nenhum.

RENASCIMENTO - Sim, mas a pergunta coloca-se apenas, porque há muita concentração em Viseu?
PEDRO GUIMARÃES - Não me preocupa. Não me preocupa.

RENASCIMENTO - E por exemplo, a promoção de desenvolvimento das empresas através da própria qualificação das pessoas que a AEM tem desenvolvido, isso não pode ser posto em causa?
PEDRO GUIMARÃES - A ideia é fazer o mesmo trabalho que temos estado a fazer. Obviamente que, como todos os casamentos, toda a gente sente que vai ser feliz. Não conheço ninguém que se case pensando que vai ser infeliz, agora, se vai ter dificuldades, se vai haver também malefícios dentro dos benefícios, é normal como dentro de todos os casamentos. Não tenho dúvida disso. Agora, aos olhos de alguns é natural que lhe pareça que o casamento é uma infelicidade e que é motivo para grande divórcio.

RENASCIMENTO - Essa associação ficará localizada em Viseu ou em outro local do distrito?
PEDRO GUIMARÃES - É uma coisa que não me preocupa muito, mas Mangualde, como sabe, há uma sede fantástica, que aconteceu com base num acordo com a Câmara Municipal. Será mantida e constituirá, também, um local de proximidade. Neste mandato municipal, a autarquia fez um trabalho muito interessante, com muita produtividade, na nossa área de trabalho, o empresarial. Será, certamente, por esse trabalho, concretizado “do nosso lado”, que as situações se concluem, acontecem com naturalidade. Sublinho que os meus antecessores fizeram um bom trabalho, em contexto temporal. Eu sou muito recente e quase que, literalmente, fui inaugurar a sede. Por isso, o mérito de estar onde estamos não é meu, apesar de ter feito parte das outras direções, mas dos outros Presidentes, que me antecederam. Esses, sim, merecem todo o mérito, porque a sede que agora temos, é, na sua globalidade, da sua responsabilidade. Tem condições privilegiadas, das quais não abdicaremos. Agora, se a sede vai ser em Mangualde, se calhar vai haver direções, daqui a quatro, cinco ou vinte anos, que optarão por Mangualde. Poderá existir direções circulantes, que num ano vão ter a sua presidência em Mangualde, no outro em Tondela. Essa circunstância poderá acontecer até por proximidade. Imagine que até é uma empresa de Tondela que lidera a AIRV, ou outra localidade qualquer, nada me chocaria, se aquela direção tem mais pessoas daquela região, que a sede fosse em Tondela, para impedir que o staff fosse dividido. Contudo, pelas suas próprias circunstâncias, é natural que as capitais de distrito tenham maior representatividade. Assim, constitui-se como pacifico a localização nelas das associações representativas dos vários sectores de actividade, seja empresarial, militar, educacional ou de outras.

RENASCIMENTO - Pretende acrescentar mais alguma questão?
PEDRO GUIMARÃES - É importante para a AEM estar mais próxima não só das empresas mas também das pessoas. Neste tempo que vivemos, hoje, em que realmente houve essa preocupação de todas as instituições, primeiro com as pessoas e depois com as associações, a associação esteve, exactamente, nesse tom, solidária com todas manifestações sociais que emergiram, em tempo de crise. Estamos felizes por estarmos a fazer tudo o que podemos e esperamos que os danos sejam muito menores dos que os previstos.

Município de Mangualde comparticipa UMA CENTENA DE testes covid-19 PARA CRECHES, CENTROS DE DIA E BOMBEIROS

“Os testes nesta fase são importantes como medida preventiva nestes sectores.
Esta medida enquadra-se no plano de apoio às nossas instituições” – Elísio Oliveira
A Câmara Municipal de Mangualde cofinanciou testes COVID-19 aos funcionários das creches, dos centros de dia do concelho e aos Bombeiros Voluntários de Mangualde. Assim, esta semana foram realizados mais de 100 testes. “Depois de uma primeira fase de testes aos Lares, cerca de 400 testes, foi agora a vez de testar os funcionários das creches, nas vésperas da sua abertura, para proteção das crianças e dos funcionários”, sublinhou Elísio Oliveira. “Os testes nesta fase são importantes como medida preventiva nestes sectores. Esta medida enquadra-se no plano de apoio às nossas instituições”, explicou ainda o Presidente da Câmara Municipal de Mangualde.
Os testes são cofinanciados pela Câmara Municipal de Mangualde e pela Segurança Social, sendo as recolhas realizadas pela Cruz Vermelha que se associou a este protocolo. Foram testados os funcionários das seguintes instituições:
CRECHES:
Centro Social e Cultural da Paróquia de Mangualde
Obra Social Beatriz Pais
Santa Casa da Misericórdia
Centro Paroquial de Santiago de Cassurrães
CENTROS DE DIA:
Centro Paroquial de Alcafache
Centro Social e Paroquial de Fornos de Maceira Dão
Centro Paroquial de Cunha Baixa
Centro Social e Paroquial de Chãs de Tavares
Centro Social e paroquial de Abrunhosa-a-Velha
BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE MANGUALDE

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REABERTURA DA FEIRA QUINZENAL
Com o início, a 18 de maio, da segunda fase de desconfinamento e a permissão para a reabertura de várias atividades, a Câmara Municipal de Mangualde salvaguardando sempre como preocupação principal a segurança sanitária, reabriu a Feira Quinzenal, também ela de forma progressiva.
Assim, a Feira Quinzenal Municipal, que se realiza duas vezes por mês (às segundas e quartas, quintas-feiras de cada mês), reabriu a sua atividade no passado dia 28 de maio, sendo que, para já a reabertura é limitada a dois setores: a venda de plantas e produtos hortícolas; e a venda de produtos alimentares.
Renascimento, foi à Feira de Mangualde onde ouviu alguns dos seus clientes.

Srs. João Nunes e esposa D. Maria Nunes - Abadia - Espinho

RENASCIMENTO - Como é que sentiu toda esta situação provocada pelo Coronavírus?
Foi difícil.

RENASCIMENTO - Foi difícil? Como é que se adaptou, como é que viveu realmente isto tudo?
Adaptei-me bem. Não senti dificuldades, porque levei isto com tranquilidade. Não saía de casa para evitar as dificuldades. Onde vivemos é uma quinta e então, facilitou a nossa vida.

RENASCIMENTO - Onde é que os senhores vivem?
Na Abadia de Espinho.
Se levarmos isto com responsabilidade e encararmos que é realmente um vírus e que temos que ter cuidados, leva-se bem.

RENASCIMENTO - E na sua atividade profissional. O que é que o senhor faz?
Olhe, trabalhava na Citroen, mas como a Citroen me mandou embora quando acabou o contrato, fui agarrar-me às ovelhas e, vivo das ovelhas

RENASCIMENTO - Nessa atividade pecuária como é que o senhor viveu essa situação, com as ovelhas e com esse problema?
Com as ovelhas viveu-se bem num sentido, andávamos livres, não andávamos stressados. Vivemos na quinta, os animais andam na quinta, portanto, andamos bem no dia a dia. Só tivemos um problema, foi quando o produto começou a não se escoar. Deixaram de levar o leite e a dificuldade foi essa, de resto não houve problema.

RENASCIMENTO - E essa situação, já está ultrapassada?
Vamos lá ver... se tiver passado, só vamos notar lá para outubro que é quando ele vem novamente, porque agora o leite acabou, portanto, não se sabe.

RENASCIMENTO - Só vendem leite ou também fazem queijo?
Só vendemos leite.

RENASCIMENTO - Só vivem disso?
Sim, vivemos disso e fazemos alguma atividade agrícola para consumo próprio. Se nos levarem o produto não temos problemas de sobreviver só com as ovelhas, agora, se não houver quem leve o produto já temos dificuldades, porque vamos ter quatro meses sem se produzir, já é mais dificil.

RENASCIMENTO - Mais alguma coisa que queiram dizer?
Se as pessoas tiverem um bocadinho de respeito uns pelos outros e fizerem as coisas como pertence e como estão a mandar, de máscara, distanciamento, isto vai-se vencer. Acho que não há que se ter medo, porque quanto mais se entra em stress pior.

RENASCIMENTO - Vocês adaptaram-se bem.
Exato, para já, porque não saíamos de casa e depois tinha os animais, ajudou-nos bastante. Andavamos tranquilos, passamos como se não houvesse nada.

Srs. Manuel António Almeida, D. Maria Odete Almeida e D. Caroline Almeida – Abrunhosa do Mato

RENASCIMENTO - Como é que sentiram e viveram esta situação provocada pelo coronavírus, não havia feira, estava tudo fechado, como viveram isto?
Já tínhamos saudades da feira. Eu estou a trabalhar, não parei, mas tive que tirar o dia de hoje para vir à feira com os meus pais. Já tinha saudades e os meus pais ainda mais, porque veem todos os 15 dias.
Atrasou mais foi na agricultura, não tínhamos muita quantidade de compra nas lojas, por exemplo, o cebolo e essas coisas, isso atrasou, ficamos só com metade das coisas, não tínhamos acesso, era difícil ir comprar, porque era uma fila enorme e atrasou-nos muito.

RENASCIMENTO - Mas como sentiu o efeito do coronavírus?
Medo e tristeza, ainda por cima porque tenho uma neta há quatro meses e os dois primeiros meses praticamente só a via por videochamada.

RENASCIMENTO - Como superou isso?
A internet ajuda, a videochamada...

RENASCIMENTO - De onde é que os senhores são?
De Abrunhosa do Mato e como vivemos no campo, vivemos da agricultura, passávamos o nosso tempo no campo. Aqui a minha filha trabalha, e quando precisávamos de alguma coisa ela trazia.

RENASCIMENTO - E o Senhor, o que acha?
O que hoje se sente mais aqui, é a falta das febras, não há febras. O convívio, as pessoas juntarem-se aqui.

RENASCIMENTO - O senhor trabalha só na agricultura? Foi na agricultura que trabalhou sempre?
Não, fomos emigrantes, estivemos em França, mas já há 21 anos que regressamos e dedicámo-nos à agricultura. Temos grandes áreas de oliveiras e vinhas.

RENASCIMENTO - E esta situação dificultou, prejudicou?
Dificultou mas, temos que superar tudo. Vai tudo correr bem, mas não tem sido fácil. Perdi a minha mãe em Novembro. Em Fevereiro perdi a minha sogra tudo isto acumulou muita tristeza. Depois, ainda por cima, vem este vírus, foi tudo muito junto.

Srªs. D. Sara Oliveira e D. Fátima Almeida – Almeidinha

RENASCIMENTO - Como é que sentiram e viveram este problema do coronavírus?
Eu estou grávida e estou a passar uma fase muito complicada. Não temos consultas, não temos nada. Está a ser uma fase muito complicada, pelo menos para as grávidas. Chegamos ali à médica já temos uns papeizinhos prontos, é só levantar para ir fazer exames, ecografias, análises, o que quer que seja. É tudo por telefone. Eu pelo menos sinto-me assim, desprotegida. Está a ser muito complicado, não está a ser fácil.

RENASCIMENTO - Difícil ou complicado?
Complicado mesmo, porque eu neste momento preciso fazer uma ecografia e aqui em Viseu pedem-me 90 euros, sou obrigada a ir a Sever do Vouga para fazer comparticipado, porque aqui na zona não fazem, por causa do coronavírus está tudo parado.

RENASCIMENTO - Para lá da situação da gravidez como é a sua perceção neste momento?
Neste momento acho que estamos muito bem, pelo menos nós aqui em Mangualde, está maravilhoso. As pessoas respeitaram bastante o ter que ficar parado em casa, respeitaram bastante.

RENASCIMENTO - E qual é a sua previsão para o futuro, de acordo com a experiência que está a viver, qual é a sua ideia?
Se não aparecer a vacina estamos mal.

RENASCIMENTO - Isso inquieta-a?
Completamente. Sim!

RENASCIMENTO - Mas de qualquer maneira, de algum modo, sente que a vacina vai surgir?
Não sei...

Srª. D. Maria de Lurdes Ferreira – Fornos de maceira Dão

RENASCIMENTO - Como viveu esta situação provocada pelo Coronavirus?
Ao pé do meu marido, só ía à fazenda de manhã, um bocadinho mas, muito raro. Agora é que já lá vou mais, porque tenho que regar as batatas, os feijões, mas regamos e vimos logo embora para casa.

RENASCIMENTO - Mas para além disso, como é que sentiu, como é que viveu esta situação em termos emocionais?
Nervosa. Não estávamos habituados a esta privação. Ficamos um bocado inúteis em casa, não dava para nada.

RENASCIMENTO - Onde é que a senhora vive?
Em Fornos de Maceira Dão. Só tenho uma filha, está em Lisboa, tenho ainda três netos duma outra filha que já faleceu, mas estão todos longe, todos tiveram que ficar lá. Agora que isto já está a mexer, para a semana já vem aí a minha filha. Já vem fazer-me uma visita. Já estou mais tranquila. Só em ouvir aquele telefonema já fiquei melhor sabendo que ela vinha.

RENASCIMENTO - Agora já está mais tranquila?
Sim, mais tranquila, mais satisfeita só em saber que vem a minha filha.

Srs. Isidoro Cabral e D. Iva Alegre – Cubos

RENASCIMENTO - Como é que viveu este problema, esta situação do coronavirus?
Com cuidado. Temos medo derivado à nossa idade já um pouco avançada ,e temos os netos em casa, portanto com um pouco de receio. Depois há também as complicações na saúde, bronquite, ossos…

RENASCIMENTO - A vida, sentiram que estava um bocadinho afetada?
Houve uma alteração, isso de certeza absoluta. Já não voltamos a viver da mesma maneira como vivíamos anteriormente. Acho que vai ser difícil. Vai ser muito difícil, porque estamos habituados a chegar ao pé de um grupo de amigos, cumprimentar e tudo mais e agora isso vai sair um bocado abalado.
Íamos a casa das famílias, as pessoas iam a nossa casa e agora ninguém vai. Tem-se medo.

RENASCIMENTO - Não substituiu essas relações por outro tipo de atividades, por exemplo a leitura, visionar televisão, o telefone?
Temos as terras. Temos uma quintazita e é lá que nos entretemos.

RENASCIMENTO - Como é que veem este futuro, com tranquilidade?
Tranquilidade vejo. Não 100%, mas penso que correu muito bem, o sistema nacional de saude, esteve bem. Por exemplo, aqui em Mangualde tivemos aquele problema mais grave em Santiago, digamos, porque de resto não foi como o que aconteceu na grande Lisboa, no grande Porto. Percentualmente foi muito menos.

RENASCIMENTO - Deduzimos então que a intervenção foi positiva?
Eu penso que sim. Não 100%, mas positiva.
Mangualde, ainda teve gente ao alcance que logo no inicio preveniu tudo, com o fecho por exemplo das feiras de Março, a quinzenal e outras coisas.

RENASCIMENTO - Têm mais alguma coisa a dizer?
Temos medo do que aí vem, que as pessoas abusem, não tenham cuidado e nos obriguem a ficar novamente retidos em casa. Nós não saíamos, nem sequer à farmácia íamos.
Temos uma nora que trabalha no Lidl, já tinha que correr risco, portanto, era ela que nos fazia as coisas fora de casa. Durante três semanas não saímos mesmo, ficamos isolados. O que precisávamos era a nora, ou o filho que também não deixou de trabalhar.
Hoje viemos cá mais por causa destas verduras, porque queríamos compor o que temos em falta.

RENASCIMENTO - E qual é a sua previsão para o

CÂMARA DE MANGUALDE ABSOLVIDA DE PAGAR INDEMNIZAÇÃO DE 500 MIL EUROS

Devido ao encerramento de um troço da Estrada Nacional (EN16), a Câmara Municipal de Mangualde encontrava-se com um processo em Tribunal no qual estavam envolvidos, por um lado, os proprietários de um posto de combustível situado nas imediações deste troço da EN16 e, por outro, o concessionário desse mesmo posto.
Estes reclamavam da Câmara de Mangualde o pagamento de 500 mil euros pelos prejuízos causados com o encerramento daquele troço.
O caso remonta a 2011 e o processo decorreu no Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu. O acordão agora proferido pelo Tribunal Central Administrativo do Norte confirmou o que já havia sido julgado em 1ª instância, confirmando que a autarquia cumpriu todos os requisitos da prática de um ato lícito.

reabertura do Espaço Cidadão de Mangualde – Balcão Único

Os serviços do Espaço Cidadão de Mangualde (Balcão Único) já reabriram com novo horário para atendimento presencial e com um contacto direto para marcação: 232 619 897 e 968 574 850. O atendimento presencial ao público tem acesso controlado, seguindo sempre as orientações da Direção Geral de Saúde (DGS) e o cumprimento das regras do desconfinamento cívico, nomeadamente a distância social mínima de 2 metros, o uso obrigatório de máscara e a etiqueta respiratória.
O horário de funcionamento é de segunda a quinta-feira das 11h00 às 15h00 e às sextas-feiras das 9h00 às 17h00.
Os serviços disponíveis são: renovação de Cartas de Condução; renovação de Cartões de Cidadão; emissão de Registos Criminais; alteração de Morada no Cartão do Cidadão; entrega de recibos de ADSE; Chave Móvel Digital; marcação de consultas para o seu médico de família; bem como todos os serviços afetos a este ESPAÇO (ISS, CGA, AT, CNP, DGAJ, SPMS).

NO SEGUIMENTO DO PROTOCOLO ASSINADO EM setembro ÚLTIMO

MANGUALDE com mais de 90% de cobertura de fibra ótica
A fibra ótica no concelho de Mangualde passou a cobrir mais de 90% do território, mantendo o Município as conversações com a Altice, no seguimento do protocolo assinado em setembro último, para a cobertura integral.
Do plano de investimento da Altice no concelho faz igualmente parte o reforço da rede móvel, com colocação de novas antenas para servir as localidades que ainda tinham deficit de cobertura, como por exemplo Pedreles, Abrunhosa-a-Velha e Santiago de Cassurrães.
A Altice Portugal tem presente na sua estratégia o conceito de proximidade, que se estende além da aposta tecnológica, passando ainda pela proximidade ao território. De acordo com esta aposta, e de forma transversal em todo o País, tem dotado de cobertura tecnológica de nova geração em zonas de baixa densidade populacional, impulsionando assim novos investimentos privados e por consequência a criação de emprego e valor.

BIBLIOTECA MUNICIPAL DE MANGUALDE REABRIU AO PÚBLICO

A Biblioteca Municipal Dr. Alexandre Alves, em Mangualde, reabriu ao público na passada segunda-feira, dia 18 de maio, com novo horário e regras bem definidas, sempre de acordo com as recomendações da Direção Geral da Saúde (DGS). O espaço funciona de segunda a sexta-feira das 9h30 às 13h00 e das 14h00 às 17h30.
A entrada é condicionada, devendo por isso os utilizadores aguardar no exterior pela indicação para entrar. O acesso às estantes é igualmente condicionado, os pedidos devem ser dirigidos ao colaborador da sala. Existe lotação limitada nas salas de leitura, sendo permitida a permanência de/até 21 leitores no total das 3 salas de leitura e estarão disponíveis 16 lugares de leitura presencial e 5 postos de acesso à internet nas 3 salas de leitura.
Todos devem respeitar escrupulosamente as indicações dos funcionários da Biblioteca Municipal de Mangualde e é obrigatório o uso de máscara, bem como a desinfeção das mãos à entrada, a manutenção da distância de segurança, de acordo com as delimitações do espaço definidas pelo serviço, e o respeito das regras de etiqueta respiratória.
Os equipamentos e as superfícies de contacto são desinfetados após cada utilização. Os livros e documentos consultados e emprestados são colocados em quarentena durante 9 dias.

CIDEM DISPONÍVEL PARA AJUDAR E ESCLARECEr empresas: PROGRAMA “ADAPTAR” APOIA NA AQUISIÇÃO DE BENS DE DESINFEÇÃO E PROTEÇÃO INDIVIDUAL

Sistema de incentivos à segurança nas micro, pequenas e médias empresas, no contexto da doença COVID-19.
O decreto-Lei n.º 20-G/2020 de 14 de maio apresenta o Programa “Adaptar”, que surge no seguimento da estratégia de levantamento de medidas de confinamento no âmbito do combate à pandemia da doença COVID-19, e o CIDEM - Centro de Inovação e Dinamização Empresarial de Mangualde está disponível para esclarecer as micro, pequenas e médias empresas, de todos os setores de atividade abrangidas por este pacote de medidas: o comércio tradicional, a restauração, e os serviços pessoais são as atividades mais abrangidas por este programa que irá recorrer a fundos europeus do Portugal2020.
Este sistema vai permitir minorar os custos acrescidos para o restabelecimento rápido das condições de funcionamento das empresas, sendo apoiados, nomeadamente, os custos de aquisição de equipamentos de proteção individual para trabalhadores e utentes, equipamentos de higienização, contratos de desinfeção e os custos com a reorganização dos locais de trabalho e alterações de layout dos estabelecimentos.
Assim, e para as microempresas, os incentivos contemplam 80% de subsídio a fundo perdido das despesas elegíveis, com um limite de 5.000€ e um mínimo de 500€. Para pequenas e médias empresas, os incentivos contemplam 50% de subsídio a fundo perdido das despesas elegíveis, com um limite de 40.000€ e um mínimo de 5.000€.

CECÍLIA PINA E O ESCUTISMO

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O COVID-19 entrou abruptamente nas nossas vidas e tomou conta de tudo. Por forma a que também os nossos leitores possam “desconfinar” um pouco daquele que tem sido o tema central das páginas da comunicação social, falamos com Cecíla Pina, Chefe dos Escuteiros de Mangualde, que nos deu a conhecer um pouco do seu percurso de vida dentro do escutismo.

RENASCIMENTO - Nasceu, cresceu e fez a sua vida em Mangualde. Conte-nos um pouco da sua história.
CECÍLIA PINA - De facto, cresci e tenho feito a minha vida em Mangualde, embora tenha nascido em Coimbra.
Não tive irmãos o que, na minha opinião, me deu mais desvantagens do que vantagens….
Cresci com uma educação um pouco rígida, com algum “filtro” na escolha de amigos, muitas regras e “etiquetas” (que eu detestava!)
Casei aos 20 anos, tive 2 filhos e, muito conscientemente, troquei a continuação dos estudos, a nível superior, pelo papel de mãe “a tempo inteiro”. Dou graças a Deus por isto! Penso que, só quem vivenciou, pode perceber o que digo!
Orgulho-me do resultado final e fui (sou) muito muito feliz!

RENASCIMENTO - Quais foram os motivos que a levaram a ingressar nos Escuteiros de Mangualde? Foi acompanhada nessa altura por colegas, por amigas e amigos?
CECÍLIA PINA - Talvez por não ter irmãos e ter feito os meus estudos, desde a primária até ao final do secundário, no Colégio de S. José e Sta Maria tendo, por isso, um numero reduzido de amigos para brincar e conviver, me sentia atraída e fascinada pelo Escutismo, que já existia em Mangualde…
A Natureza, as aventuras, a simbologia, os acampamentos, as mochilas às costas, a sobrevivência, a amizade, a cumplicidade, a união do grupo…, enfim… tudo me cativava e encantava.
Os meus pais nunca me deixaram ser escuteira!…. “impensável, não é próprio para uma menina…”
Pelos vistos, eu merecia e este desejo veio a ser concretizado quando comecei a namorar com um escuteiro. Comecei a participar (como observadora) em algumas actividades, convidada pelo Chefe Garcia (Chefe de Agrupamento na altura) e, algum tempo após o casamento, entrei para o Agrupamento, fazendo a minha promessa de Dirigente (chefe) em 1985. Esse foi “o 1º dia do resto da minha vida”

RENASCIMENTO - A religião, o seu culto religioso, teve alguma influência na tomada de decisão em se tornar escuteira?
CECÍLIA PINA - De modo nenhum! Apenas mais uma afinidade, visto eu ser católica, seguidora de Jesus Cristo e o CNE (Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português) estar ligado à Igreja Católica.
A “magia” única do Movimento Escutista (o maior Movimento de jovens do Mundo), criado por Baden_Powell em 1907, do qual faz parte o CNE, é que foi, sem dúvida a influência principal na minha decisão.

RENASCIMENTO - Como é que os seus pais entenderam essa decisão? Como perceberam a sua atividade de e como escuteira? Gostavam ou simplesmente aceitaram a sua decisão?
CECÍLIA PINA - Como referi anteriormente, eu não fui escuteira enquanto sob a orientação dos pais. Mais tarde, quando perceberam que toda a família que eu constitui, era feliz vivendo este Ideal de vida…. sim, até ajudavam em pequenas coisas.

RENASCIMENTO - Qual foi a primeira perceção que teve quando se sentiu, realmente, como escuteira? Viveu conflitos? Algum dia pensou em desistir?
CECÍLIA PINA - Sem dúvida a realização tardia de um desejo.
Conhecia já bastante bem o Movimento, o que me era pedido, a que me obrigava para o resto da minha vida! Era uma promessa, uma divisa (Sempre Alerta para Servir), o exemplo a todos os níveis,… enfim aquilo a que eu chamo “o peso do lenço”. Um escuteiro não o é só quando anda uniformizado… é sempre!
Ser escuteiro adulto, criança ou jovem (cada um na proporção da sua maturidade) é ter adotado um modo de vida, é ter um Ideal, é ter uma Lei, Princípios e uma Promessa para cumprir.
Conflitos? Um escuteiro adulto tem que saber gerir do melhor modo todas as pequenas coisas menos agradáveis que por vezes surgem vindas, quase sempre, de fora do Movimento.
Obviamente que já houve momentos menos bons… no entanto nada que, de algum modo, beliscasse a minha promessa e não fosse resolvido tendo sempre em conta a isenção.
Desistir? Como desistir?! Ninguém pode desistir de algo que assume, livremente, em Promessa feita perante Deus, a comunidade, os escuteiros (incluindo os mais novos)…. Isso não existe! Serei sempre Escuteira até que vá para o “acampamento eterno”!
Será que me queria perguntar se alguma vez pensei abandonar o Movimento? Nunca mais vestir o uniforme?
Se assim foi, respondo que ainda não mas, possivelmente, quando for um pouco mais velha…. deixarei de estar ativamente no CNE, continuando, no entanto, a ser escuteira e a viver esse Ideal!

RENASCIMENTO - Transformou-se em chefe dos escuteiros. Qual é, assim, o tipo de vinculação que desenvolveu, ou que assume, com os escuteiros/as em termos globais?
CECÍLIA PINA - Um/a chefe de escuteiros é um/a educador/a! Educa pela ação (aprender fazendo) e forma pelo exemplo. O exemplo será sempre a único modo de formar, penso que todos temos essa certeza! O Escutismo tem a sua Lei, Princípios, a sua própria metodologia (ask the boy) e é através dela, fazendo o que eles mais gostam de fazer (jogar), que eu/chefe, alegre e calmamente, quero sempre chegar ao objectivo final – jovens/adultos felizes, cidadãos ativos e bem integrados na sociedade!
Baden-Powell foi bem claro quando disse que “os princípios do Escutismo estão todos certos. O êxito depende do chefe e do modo como ele os aplica”. Assim sendo, há, de facto, uma grande responsabilidade inerente à missão de um chefe de escuteiros….
A satisfação que sinto depois de verificar que cumpri o meu dever, assumido livremente na minha promessa, por vezes à custa de algumas desilusões….. é a Recompensa

RENASCIMENTO - Na vinculação assumida, que será sempre afectiva, qual a importância dela nos jovens?
CECÍLIA PINA - A autoridade de um chefe de escuteiros é simplesmente a de quem ama!
O Chefe é sempre o “irmão mais velho” dos seus escuteiros! Aquele que ri com eles, que chora com eles, que os ouve e que os entende… aquele que guia e orienta sem empurrar, que os ajuda a chegarem onde eles pretendem, atingindo o máximo das suas potencialidades.
O chefe consegue que o seu escuteiro, todos os seus escuteiros, confiem nele sem hesitar!
Há, entre chefe e escuteiro, uma relação de cumplicidade e amizade que fica para toda a vida!

RENASCIMENTO - Tem alguma influência especial na condução dos jovens escuteiros, o facto de ser mulher? Com quem se dá melhor? Com os rapazes ou com as raparigas?
CECÍLIA PINA - Sinceramente, penso que não. Poderá ser que, em algumas situações pontuais, haja da parte de uma chefe, um pouco mais de sensibilidade mas… o inverso também se aplica!
Quanto à 2ª parte da pergunta e também sinceramente, nunca tinha pensado nisso! Nunca tive essa perceção….
Penso que o facto de eu nunca me ter apercebido disso, deve-se ao “espírito escutista” que nos une… que, pelos vistos, não tem sexo! São crianças e jovens, iguais a si próprios e a/o chefe lida com todos e cada um de acordo com a sua personalidade.

RENASCIMENTO - Nessa relação, o que é que sobressai do facto de ser mãe?
CECÍLIA PINA - Ser mãe é sem dúvida uma mais- valia. No entanto, quando os meus filhos nasceram eu já era chefe e, então, penso que mesmo em casa, sem dar por isso eduquei os meus filhos com o “colinho” de mãe mas sem nunca conseguir dissociar-me do Método Escutista que, para mim é o mais correto e o que resulta em melhores resultados finais.
Assim sendo, pouco sobressaia; digamos que o Escutismo era o prolongamento do que acontecia em casa e vice-versa. A potenciar, existia também o facto de, em casa, todos sermos escuteiros, até o cão se chamava Balú (urso no Livro da Selva, de Rudyard Kipling, que inspira o imaginário dos Lobitos)

RENASCIMENTO - Que tipo de desafios vive quando orienta os jovens nas suas actividades. Experimenta necessidades de produzir mudanças, na orientação dos jovens?
CECÍLIA PINA - O/a chefe, como irmã/o mais velho/a, é capaz de ver as coisas sob o ponto de vista dos seus jovens. “Inventa” novas actividades para satisfazer-lhes a sede de “aventuras” e assim, fazendo o que gostam, vivendo em pequenos grupos (micro sociedade), cada um com a sua função, aprendem (jogando) e desenvolvem-se harmoniosamente em todas as áreas. O/a chefe, que conhece bem cada um dos seus escuteiros, só tem que, discretamente, “enriquecer “essa atividade de modo a que sejam superadas todas e cada uma das suas fragilidades!

RENASCIMENTO - Nas actividades que conduz, sente-se limitada pelo facto de ser mulher? E quando surgem conflitos, como é que os vive?
CECÍLIA PINA - Obviamente que não! Bem pelo contrário, como já referi, o facto de ser mulher e mãe é apenas uma mais-valia!
Conflitos? O melhor meio para desenvolver o carácter dos nossos jovens, é atribuir-lhes responsabilidades.
Os escuteiros vivem em pequenos grupos e é aí, cada um com as suas responsabilidades, e sob a orientação de um Guia, que os conflitos têm que ser resolvidos! O/a chefe (irmã/o mais velho/a), vai aconselhando e lembrando a responsabilidade que têm pelo facto de serem escuteiros e terem sempre em linha de conta a Lei, os Princípios e a Divisa.
Cada escuteiro compreende que ele é, por si, elemento responsável e que a honra do seu Grupo depende, de algum modo, do seu comportamento….
No Escutismo, o jovem auto-educa-se, em vez de ser instruído!

RENASCIMENTO - Em Mangualde, como é que se vivencia como escuteira? Sente alguma perceção especial sobre si pelo facto de ser escuteira?
CECÍLIA PINA - Quando, há 35 anos, fiz a minha promessa de dirigente (chefe) do CNE (Escutismo Católico Português), não tinha dúvidas que era um compromisso sério; que seria “o primeiro dia do resto da minha vida”. Tinha acabado de adotar um modo de vida que sabia ser de felicidade mas de muita responsabilidade e entrega…
Assim sendo, em Mangualde ou em qualquer parte do mundo, fardada ou não, a minha vida será sempre fazendo os possíveis por ser fiel à promessa – “cumprir os meus deveres para com Deus a Igreja e a Pátria, auxiliar o meu semelhante em todas as circunstâncias, obedecer à Lei do Escuta e desempenhar o melhor que puder as obrigações da missão que é confiada.
Há, de facto, por parte da comunidade, uma expetativa elevada em relação às atitudes de um Escuteiro. Não me incomoda! Entendo isso apenas como um estímulo e/ou um “lembrete” e fico feliz tentando “deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrei”

RENASCIMENTO - Nesta situação epidémica que, hoje, vivemos, quais são os tipos de propostas que o escutismo apresenta e/ou poderá apresentar aos jovens?
CECÍLIA PINA - Baden-Powell diz - “É preciso andar. De nada serve estar parado. Não há alternativa: é o progresso ou a inércia. Avancemos e…com um sorriso no rosto!”
O escuteiro está preparado para enfrentar, resolver e contornar as dificuldades com que se depara.
Perante esta situação epidémica e fazendo jus ao lema ALERTA e SEMPRE ALERTA PARA SERVIR, chefes, caminheiros e pioneiros do agrupamento 299, uniram-se de imediato, em rede, à autarquia e instituições a fim de alertar, prevenir, proteger e ajudar no que fosse necessário, possível e viável.
Desde a participação diária no CCOM, na preparação de espaços e montagem de camas em lares para isolamento de utentes, nas limpezas, nas passagens semanais pelas aldeias do concelho com mensagem sonora, na elaboração de vídeos e cartazes temáticos para apoiar os alunos no regresso às aulas, na dinamização de sessões de esclarecimento nas turmas que regressam às aulas presenciais, em conjunto com a equipa de saúde escolar, tudo foi feito, como dizemos na nossa oração, “…. dar-me sem medida, a combater sem cuidar das feridas, a trabalhar sem procurar descanso…”
No que diz respeito às nossas actividades semanais, obviamente, não nos deixámos vencer! Até chegar o dia em que de novo todos vamos acampar, fazer jogos,aprender-fazendo…, encontram-nos online e, assim, vamos mantendo bem vivo o nosso “espírito de grupo”. Fazemos projectos para o futuro próximo e, desafiando um pouco o Escutismo, adaptamo-lo ao modo virtual, cheios de fé e de esperança de, em breve, podermos viver o Escutismo na sua essência

RENASCIMENTO - A finalizar, explique-nos um pouco a importância do escutismo na formação dos jovens
CECÍLIA PINA - Penso que, se esta entrevista for lida pela ordem das perguntas que me fez, já terão a resposta para esta.
No entanto e, tendo em conta que poderá não ser assim…, direi:
O Escutismo, a nível mundial, tem como finalidade contribuir para o desenvolvimento integral das crianças e jovens, ajudando-os a realizarem-se plenamente no que respeita às suas possibilidades físicas, intelectuais, sociais e espirituais.
Educa segundo um método próprio – aprender fazendo; educa de dentro para fora; não se ensina por palavras nem por definições escritas em livros.
Prepara para a vida e educa para a cidadania!
Obrigada