Arquivo diário: 3 de Novembro de 2020

EDITORIAL Nº 786 – 1/11/2020

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As próximas eleições autárquicas
Estamos a um ano das próximas eleições autárquicas.
O que significa que são quase depois de amanhã. O tempo passa veloz e a realidade não tira férias.
Todos nós gostariamos de ver Mangualde numa perspectiva de grande futuro e por isso dou grande valor às próximas eleições, que já mexem e estão à porta.
Ninguém poderá adivinhar o futuro, mas seguindo o raciocínio do escritor Evelyn Wang – “ as únicas certezas que possuimos são as do passado”. E o passado não foi brilhante!...
Todos nós sonhamos! Mas, o sonho faz parte da vida, já o dizia Fernando Pessoa nos seus poemas: -” O Homem sonha e a obra nasce”.
E, é exactamente neste ponto que eu criei grandes espectativas para o Concelho de Mangualde.
Esta nossa Cidade de Mangualde, foi sempre um local estratégico, um centro de distribuição dos tecidos fabricados na Região da Serra da Estela, que fica ao lado, criando grandes armazéns de lanifícios, que hoje estão extintos, ou em via de extinção, de onde eram distribuídos para Portugal e para o mundo. E, o Caminho de Ferro, que passa na cidade, não era estranho a esta distribuição.
Sejamos lúcidos, verdadeiros e concluamos que deste passado brilhante já quase nada resta.
Por isso, o Concelho tem que procurar novas formas de progressão. Servida pela Auto- Estrada A25, que em boa hora substituiu a velhinha e sinuosa Estrada N.º 16 e mais recentemente o IP5, Mangualde está ligada ao País e ao Mundo, o que não acontece com outras cidades, que gostariam de ter, mas não têm esta grande oportunidade.
Mangualde é ainda servida por uma linha de Caminho de Ferro, internacional, onde passam os dois comboios mais importantes do País, o Sud Express que liga Lisboa a Paris e o Lusitânia Expresso que liga Lisboa a Madrid e com paragem obrigatória em Mangualde.
Situa-se em Mangualde a segunda maior empresa de montagem de automóveis, a PSA- Citroen-Peugeot, cuja importância está relacionada com o desenvolvimento da Cidade e da Região.
Mangualde pertence ao reduzido número de cidades, no mundo, que produziu dois automóveis míticos- “o 2CV” e o “ Boca de Sapo”.
Sempre pensei que Mangualde seria uma importante plataforma, ou como agora se diz, um significativo “ Porto Seco” da Região. Tem todas as condições para o ser.
Tomei conhecimento, há dias, que a cidade da Guarda, aproveitando a A25, a A23, a Linha da Beira Alta e a da Beira Baixa e a poucos quilómetros da principal fronteira portuguesa, Vilar Formoso, vai criar uma “plataforma”, ou “ Porto Seco”, para escoar as mercadorias da região. Feliz ideia! É assim que se muda o Interior do País.
Os grandes líderes, os “Homens Grandes”, que ficam na História, são aqueles que conseguem fazer obras difíceis, quase a raiar o impossível, mas estruturais e de futuro.
Não podemos acreditar nos que prometem facilidades, num mundo tão difícil, nos que falam o “politicamente correto”, mas depois, já eleitos, esquecem tudo e todos os que o apoiaram.
A política não pode servir para promoções pessoais, ou de amigos. Não pode basear-se numa suposta democracia que se tem por iluminada, mas muitas vezes ao serviço de objectivos centralistas e pessoais, fruto de conluios, normalmente adversos dos interesses dos cidadãos.
Devemos escolher sempre os melhores, os mais bem preparados, os mais sérios, capazes de cumprirem as promessas que fazem.
A minha curiosidade vai para as propostas dos futuros candidatos à Câmara Municipal de Mangualde.
O que pensam e propõem os futuros candidatos? Os futuros candidatos devem pensar,duas, ou mais vezes nas suas propostas.
Vamos aguardar para ver?...

TÚMULOS DE VIVOS OU QUEM ACODE AOS IDOSOS DA CLASSE MÉDIA?

Humberto Pinho da Silva
A pandemia, que veio da China, abalou o mundo, espalhando: terror e medo, nos povos.
Serviu, porém, para alertar a sociedade, para a situação alarmante de idosos, que vivem, em: lares, asilos e casas de repouso.
Desde longa data venho avisando as condições dramáticas, em que vivem muitos dos nossos maiores, nessas casas sombria, chamadas de: lares.
Grande parte deles, não passam de “ armazéns”, onde os velhos (que só dão trabalho e despesas “,) são depositados, esperando, pacientemente, a chegada da Morte: longe de amigos e da sociedade; e muitos, longe, também, da terra onde nasceram…
A coletividade, em regra, preocupa-se com os jovens; dizem: (e com razão,) serem o futuro…
Quando era moço, também, afirmavam: “que éramos o futuro…” Somos sempre o futuro…. Mas, nunca o presente…
Constrói-se, adapta-se: antigos quartéis, seminários, e até conventos, para acolher estudantes – e bem, – e até quartos de hotéis (em Portugal). E os idosos? o que se faz por eles ?
É inconcebível, que os lares se transformem – neste tempo de pandemia, – em “câmaras de morte “ ou de doença, para as “ nossas queridas “ avozinhas.
Compreendo, que os pais e netos, precisem de ganhar a vida… e, por vezes, os “velhotes “, são também, estorvos para diversões… O asilo é a solução…
O que é o lar? Uma enfermaria? Sim: deveria ser; mas não é. É edifício onde os idosos dormem, em quartos coletivos, sem privacidade. Passam os dias de mantinha sobre os joelhos, a ver (a dormir?) TV; e noites, a meditar na triste sina da longa vida; ou a dormir, à força de medicamentos…
Claro que há residências, que a troco de boas mensalidades e jóia elevada, ficam, os utentes, bem instalados; mas, pode o simples trabalhador, entrar nesses “paraísos”?
Fala-se em subir o salário mínimo (em Portugal) – é uma necessidade, – pois mal dá para viver. Mas, os aposentados?
A classe média (os reformados) ainda antigamente, conseguiam hospedar-se em modestos lares; mas tão esmagada está, que não faltará muito, chegarem todos ao salário mínimo…Esperemos que os responsáveis pela mass-media e a classe politica, abordem o aflitivo e vergonhoso problema, desses “ armazéns”, clandestinos ou não… que existem em muitos países.
Deus proteja os idosos (os “cruelmente descartáveis”, como chama – e bem, - o Papa Francisco, na encíclica “ Frateli Tutti”) para que os governantes, deste mundo, não legalizem a eutanásia, ou simplesmente os leve, para a montanha, para morrerem, como narra a revelha lenda ou história moralista…

REFLEXÕES

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Património cultural 10
Citânia da Raposeira
Quando da estruturação de campanhas de escavações arqueológicas parte-se do princípio que terão de ser encaradas como um trabalho de mérito sob ponto de vista cultural e científico e desenvolver-se num clima de boa cooperação entre os elementos directivos entre si e “trabalhadores” sejam jovens voluntários, sejam contratados . Este relacionamento cordial ajuda a superar os esforços tanto físicos como mentais. No entanto, ao longo dos dias por diversas razões, esse equilíbrio pode sofrer desvios . Entre os jovens podem surgir atritos de vária ordem que exigem compreensão e diálogo permanente tocando por vezes os horizontes da diversão tornando o ambiente mais leve e desanuviado. Em muitos momentos foi precisa uma certa diplomacia para manter o ambiente saudável. Poderiam ser desde quinze a vinte jovens que para lá do trabalho extenuante precisavam de expandir a exaltação da sua adolescência e juventude. “ Numa bela manhã no arranque dos trabalhos vi a alguns metros na orla da escavação um rapazinho muito novo, talvez doze, treze anos, de pé, a olhar para o que se fazia. Achei graça e perguntei-lhe se vinha fazer uma visita tão cedo e se gostava do que via… que sim, eu gosto, mas não sei o que é. Certo. Logo que interrompamos o trabalho eu irei explicar. E assim foi. No entanto não era só isto. Ele também queria trabalhar. Expliquei-lhe que só a partir dos dezassete anos poderia ser inscrito. Oh!! Mas eu gostava de fazer alguma coisa… Tudo bem. Podes varrer, juntar terra, coisas leves… afinal ele queria fazer tudo – picar terra dura, juntar com enxada, carregar carros com uma pá… ele não queria brincar com vassouras. O que parecia um simples entretenimento era afinal trabalho sério e no fim da semana teve direito ao dinheiro da semanada que todos recebiam.” Há inúmeros momentos que mereciam ser contados por serem insólitos outros anedóticos…Os dias iam-se sucedendo com descobertas aliciantes – ora eram secções de alicerces da casa que de repente desapareciam - por terem sido arrancadas pedras ao longo dos trabalhos agrícolas ou para plantação de árvores - para voltarem a encontrar-se mais à frente, num outro quadrado escavado. Digamos em trabalhos desta natureza as surpresas são permanentes por isso a necessidade de se estar bem preparado para não cometer erros que poderão anular as bases de um estudo sério e verdadeiro. E assim com as campanhas que se foram desenvolvendo ao longo da década de 80 conseguimos deixar à vista uma verdadeira rede de muros que iam determinando diversos espaços de uma “habitação” de origem romana…

Outubro 2020

OS PORTUGUESES PELO MUNDO

juiz
A partir do século XV, sob o impulso do Infante D. Henrique, os portugueses lançaram-se na tarefa dos descobrimentos e, através de todos os oceanos, alcançaram todos os continentes. Segundo as palavras de Luís de Camões, em Os Lusíadas: “e, se mais mundo houvera, lá chegara”. Porém, foi de tal ordem a vastidão das terras descobertas que se tornou impossível manter o domínio das que abrangiam “toda a costa oriental da África, de Sofala ao cabo Guardafui, e se estendia pelo golfo pérsico e litoral indiano até Malaca e às ilhas de Samatra, Java, Bornéu e Malucas”. “O grande Império Português tendia a desmoronar-se”. No que toca à índia, os holandeses e os Ingleses apoderaram-se de várias das nossas possessões, de modo que “no fim do século XVII, pouco mais restava a Portugal no continente indiano do que os territórios de Goa, Damão e Diu”. Por fim, em 18 de Dezembro de 1961, o exército indiano invadiu e ocupou todos estes territórios.
Quando, há alguns anos, visitei Goa, verifiquei que ainda havia pessoas que falavam a língua portuguesa e mantinham certos costumes e tradições de Portugal. Por iniciativa de um Amigo residente em Lisboa, que todos os anos no Verão visitava Goa, porque o pai dele ali havia trabalhado, foi-nos oferecido um jantar (a mim e à minha mulher), no qual participaram várias pessoas goesas, entre as quais os dois únicos Juízes portugueses que se mantiveram em Goa. Nesse jantar tivemos o prazer de ouvir cantar o fado (em português, claro).
Há dias tive a oportunidade de ler a história de algumas tribos da América e da Ásia que ainda falam crioulo, baseado na língua portuguesa. Eram referidas, como exemplo, os casos da Birmânia, do Senegal, da Malásia, do Ceilão, da Indonésia e do Korlai (na Índia).
Na impossibilidade de fazer referência a todas elas, por falta de espaço, vou apenas mencionar este último caso.
Korlai é uma aldeia que fica perto das ruínas da antiga fortaleza de Chaul, construída pelos portugueses em 1534. Chaul, situada a 60 Kms a Sul de Bombaim, foi uma das cidades estrategicamente mais importantes do Império Português do Oriente. Em 1546, durante o 2º cerco de Diu, foi notório o empenho com que os seus habitantes ofereceram os seus bens e até as joias das mulheres com a finalidade de cobrir as despesas da luta. Chaul manteve-se sob o domínio português até 1729, altura em que, apesar da heroica resistência dos portugueses, foi conquistada por Marata.
O português Korlai é uma língua crioula baseada no português falado por cerca de 1000 cristãos, numa área isolada, ao redor da aldeia, no distrito de Raigad, do estado de Maharashtra, na Índia. Fica situada na foz do rio Kundalika, defronte da antiga cidade de Chaul, conquistada pelos portugueses.

SANFONINAS

dr. jose
As Artes – necessárias e incompreendidas
Confesso-me fascinado com a iniciativa de as aberturas de um programa televisivo serem preenchidas, ainda que por escassos minutos, por uma coreografia. Também atuações de cantores são mui frequentemente sublinhadas por um corpo de baile. Encantam-me as interpretações coreográficas de uma Companhia Portuguesa de Bailado, por exemplo – e cito estas por serem as que melhor conheço. O coreógrafo a dar forma física a uma melodia, a imaginar os mundos, os gestos, as ideias quiçá sonhadas pelo compositor…
Diariamente se salienta, neste período pandémico, o papel imprescindível que a Arte nas suas mais diversas modalidades tem desempenhado e continuará a desempenhar. Aqueles músicos vizinhos que decidem ir para a varanda e tocam durante largos minutos para delícia da vizinhança, a distraí-la dos males quotidianos…
Encanta-me, por isso, que no concurso televisivo Got Talent (só não gosto é do anglicismo, mas isso é outra ‘música’!...) apareçam artistas circenses, bailarinos (aquele ‘menino’ português que tem dado cartas a nível mundial, António Casalinho), grupos de dança…
O filho de uma colega minha estudou violoncelo no Conservatório de Lisboa. Ao fim-de-semana lá ia ele, de comboio, a caminho de Coimbra, sempre de pé, porque no comboio não havia espaço para o violoncelo. Admiro-o e é bom ver como este instrumento está a ser cada vez adotado para acompanhar inclusive fadistas. A sua sonoridade cava empresta ao conjunto dos instrumentos melancólica profundidade quentinha…
Sónia é uma dinâmica amiga minha. Uma fura-vidas. Por isso – ou talvez não por isso, que a vida está repleta de surpresas e ainda bem, para quebrar eventuais monotonias… – dei com ela, outro dia, a mudar de casa.
– Mudaste de casa outra vez? Arrumações de novo, claro, caixotes, malas, onde é que eu vou pôr isto…
– É verdade, mas tem que ser. Digo-te, porém, uma coisa: os quadros já estão nas paredes!
Congratulei-me. No meio das confusões, queda o olhar na paisagem preferida, naquela simbiose de cores que fomentam serenidade… Bravo, Sónia!

Refazer Portugal

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O ano de 2020 não tem corrido de feição por todos os motivos e mais alguns. Com a pandemia virá uma crise económica e social, esperemos que não seja agravada por mais uma crise do sistema financeiro em Portugal o que poderá demorar anos a resolver e custar mais uns valentes trocos aos contribuintes portugueses.
Para enfrentar estes enormes desafios esperava-se que houvesse coragem da parte dos políticos para a construção de uma sociedade com mais justiça social e em que a política estivesse ao serviço do bem-estar dos cidadãos ao invés de estar sempre dependente de interesses dos grandes interesses partidários (e dos calendários eleitorais!).
Assume particular importância a resiliência dos pequenos e médios empresários (e todas as famílias em geral!) que apesar da brutal carga fiscal que têm suportado nestes últimos anos, tudo têm feito para manter abertas as portas dos seus negócios, em alguns casos, sacrificando as pequenas (e já de si depauperadas) pequenas poupanças familiares. Numa análise a dez anos, a carga fiscal de Portugal foi das que mais cresceu em 2018 na OCDE tendo o país a sexta maior variação, passando de 31,7% do PIB para 35,4%. Um aumento de 3,7 pontos sem que se veja uma melhoria real dos serviços públicos.
Nesta grande viagem que é a vida, cada geração é chamada a viver tempos bons e tempos maus. Dos escombros desta pandemia devemos a todos os que lutaram diariamente por manter viva a esperança, um pais mais justo e mais equitativo, onde a meritocracia fosse uma realidade, onde houvesse uma verdadeira justiça, um sistema nacional de saúde devidamente equipado em termos humanos e materiais e liderado por gente competente…no fundo, o que devia sair desta tempestade era a oportunidade de refazer Portugal com um rumo bem definido, com todos no mesmo barco e ao mesmo nível.
A nossa memória coletiva e comunitária sabe o que de bem se fez mas também tudo o que de mal está feito. Esta pausa nas nossas vidas dever-nos-ia lembrar que todos fazemos parte de uma comunidade, uma comunidade humana diversificada e cheia de vontade de fazer um pacto intergeracional e com uma visão mais inclusiva do contributo das diversas gerações. Somos o que somos porque vivemos em comunidade, com todos os defeitos e virtudes, mas sobretudo com uma grande vontade de ser parte da mudança.
A verdadeira crise resulta da forma desproporcional como a distribuição da riqueza destrói a vida de milhares de pessoas que não encontram um futuro melhor em termos económicos e sociais. Custa-me ver alguns “abutres” a esfregar as mãos à espera dos milhões que vêm da Europa para recuperar a economia. Entristece-me ver um país que tinha tudo para ser mais rico ser liderado por gente sem capacidade para ver para além das palas partidárias e dos seus próprios interesses pessoais, veja-se o caso do hidrogénio em que vamos investir mais dinheiro que a Alemanha, pasme-se!
Muito se fala em mudança, sobretudo por alturas de celebrar o 25 de Abril, mas a verdade é que apesar dos lindos discursos feitos de chavões e frases feitas, nada se faz e continua tudo na mesma. Por mais apelas que se façam para “apurar tudo até às últimas consequências”, a verdade é que passando a espuma dos dias tudo se esquece e tudo se mantêm exatamente na mesma.
Após quase nove séculos, Portugal é e será, uma viagem que fazemos juntos e uma grande viagem é como um grande amor.

IMAGINANDO

francisco cabral
PARTE 82
Continuando com as lendas da Vila de Sintra, conta-se, e já no Século XIX, a grande rivalidade entre as gentes da Vila de Sintra e  as gentes de S.Pedro.
Isto tinha para ambos os lados, uma razão pouco digna que não devia acontecer e talvez inconscientemente, por culpa da nossa monarquia que ignorava o que se estava passando. Apenas queriam desfrutar de um bom fim de semana ou umas férias tranquilizadoras, não dando qualquer relevo ao assunto, deveras preocupante.
Era ao tempo considerada  Vila de Sintra, o centro pròpriamente dito e os seus monumentos, não dando qualquer atenção à localidade de S.Pedro, mesmo ali ao lado.
No entanto para que os Monarcas, viajantes estrangeiros, além dos viajantes das redondezas visitassem ou se dirigissem à Vila de Sintra, tinham obrigatòriamente de passar por S.Pedro, incluindo os próprios comerciantes ambulantes, que transportavam em seus albergues incómodos colchões de tufos (lã ou penas), portadores de milhares de percevejos. Quando coincidia com o dia de feira em S.Pedro, provocavam uma reação pouco digna aos vendedores de rua e proprietários das tabernas, cujas portas naquela localidade estavam voltadas para a estrada.
Havia assim um contraste que se manifestava com preocupação como se a riqueza estivesse de um lado e a pobreza imperasse no outro lado.
Ainda e com certa revolta, quando os moradores em S.Pedro queriam montar suas festas em Santa Eufêmea, tinham que pedir uma autorização para suas carroças chegarem ao Parque da Pena.
Ainda outra lenda que achei uma certa graça e passo a relatar:
Estava D.João VI na companhia de alguns fidalgos, numa caça às lebres e coelhos em Vale de Flores.
Era um dia de grande calor e após uma longa caminhada, Sua Alteza suava por todos os lados, além de ter muita sede.
A dada altura do percurso, avistou uma humilde casa e apressadamente se dirigiu para lá, pedindo um pouco de água a uma senhora, que tentava apanhar algum fresco à porta de casa.
A senhora prontamente acedeu ao pedido, mas contudo, verificou o Rei que a limpeza não abundava. Então sofregamente e quase sem respirar engoliu a água naquele imundo copo.
Após ter saciado a sede, D.João perguntou à Senhora o nome daquela localidade. Ela respondeu que ali era o Vale de Flores.
Sua Alteza fixou o rosto da senhora e disse:
A partir de hoje, decreto para esta localidade o nome de “Vale de Porcas”.

A água, o Rio Dão, a Barragem de Fagilde

aida correia
Uma crise de água é considerada uma das cinco maiores ameaças à humanidade e também uma das mas prováveis, juntamente com as alterações climáticas, os fenómenos meteorológicos extremos e a perda de biodiversidade. O aquecimento global intensifica as crises de água, que por sua vez afetam a biodiversidade, que levam à escassez de alimentos e a inevitáveis crises alimentares. É este efeito “bola de neve” que temos que aprender a combater e impedir que a interação dos vários riscos nos levem a um “colapso sistémico global”.
A Terra vista do espaço, sobressai o azul da água, já que 3/4 da sua superfície é coberta de água. Mas, na sua maioria é do mar, salgada. Apenas cerca de 3% do total da massa de água existente é água doce. E desta só 0,1% corresponde à água doce disponível para a nossa utilização. É uma quantidade ínfima, muito pequena. A percentagem de água no organismo humano é de 70%, a mesma proporçao da água no planeta Terra. Parece coincidência, mas acredito que se trata de mais um dos mistérios da Natureza, cujo equilibrio permite manter a sobrevivência da vida na Terra.
A água é um bem comum. Os seres humanos além de a utilizarem para beber, também a utilizam para a agricultura, indústria e limpeza. É preciso ter consciência que o aquecimento global e os fenómenos climáticos extremos resultam da acção humana, da forma como nos comportamos e utilizamos os recursos que a Terra nos dá. É fundamental preservar o ciclo vital da água, que no fundo significa preservar a natureza, os ecossistemas e a vida. Urge preservar os rios, reflorestar as margens, evitar desperdícios, utilizar a água de forma consciente, evitar a todo o custo a poluição. Porque a poluição é uma ameaça real à qualidade da água, à saúde pública e ao meio ambiente. Utilizar a água de uma forma sustentável deve ser a grande preocupação de uma sociedade responsável tendo em vista as gerações futuras.
A água é muito importante e só lhe damos verdadeiro valor, quando falta. Em muitos locais a água é escassa. E ricos são aqueles que a têm em abundância. Mangualde pertence ao número de terras que afortunadamente têm rios onde é possível construir barragens. Possuir uma barragem no Concelho de Mangualde é uma riqueza incalculável. Refiro-me à Barragem de Fagilde no Rio Dão. Ter esta riqueza implica a preservação da Barragem de Fagilde, um potencial activo turístico muito importante no Concelho. Mas, é preciso começar pelo princípio e não fazer tudo ao contrário. Primeiro deve preservar-se o rio (Barragem), eliminando focos de poluição e só depois atrair os turistas. Conseguidos estes resultados, então sim, construir praias fluviais, limpas e classificadas.