Arquivo diário: 2 de Março de 2022

EDITORIAL Nº 817 – 1/3/2022

O Equilíbrio
As palavras atravessam gerações, os homens não!
O Jornal Renascimento, periódico quinzenal fundado em 20 de Janeiro de 1927, ao longo dos seus 95 anos que já leva de existência, sempre se norteou por ideais de Democracia e de Liberdade de Expressão.
Sempre se assumiu como defensor dos interesses de Mangualde e da Região adjacente, alheio aos poderes Institucionais, quer sejam de natureza política ou religiosa.
Por isso, o seu longo trajecto, a caminho do século, se tem pautado por princípios de isenção, imparcialidade e por uma informação rigorosa e verdadeira.
O Homem é um ser inteiramente livre. A Liberdade é um Direito que todos os cidadãos têm. Faz parte do conceito fundamental da Democracia e está protegido pela Declaração Universal dos Direitos dos Homem e pela Constituição da República Portuguesa.
Desta forma, podemos e devemos, todos exprimir ideias e opiniões, muitas vezes diferentes e às vezes contraditórias.
Chegados aqui, ao podermos expressar livremente, as nossas ideias, chegamos ao ponto de equilíbrio. Esse equilíbrio é fundamental e salutar para a nossa vida Democrática.
O Jornal Renascimento que é um Património de Mangualde existe para defender os mais altos interesses do Concelho e Região.
Este jornalismo de proximidade, sério, com critérios de verdade, defende as Culturas Locais e é um compromisso entre a Região e as pessoas.
A sua independência é fundamental e a sua liberdade vital.
Quando não houver Liberdade de Imprensa é porque a Democracia morreu.
Estamos no século da Comunicação Social para informar e difundir ideias.
A nossa vida é feita de escolhas que fazemos. Quando escolhemos uma coisa, inevitávelmente, deixamos de poder escolher outra.
Não conseguimos moldar o Mundo de acordo com a nossa vontade.
Estamos presos a cadeias de acontecimentos com limitada liberdade.
Nem sempre conseguimos mudar as nossas vidas, alterar o rumo das coisas, mas somos plenamente capazes de alterar a nossa atitude em relação aos acontecimentos. Como dizia o Filósofo Sócrates :- “ É preciso conhecer-se a si mesmo”!
A leitura é o principal mecanismo para a apropriação do Conhecimento e para perpetuar a Cultura.
Para termos equilíbrio, tranquilidade na alma, ou ausência de inquietação, numa sociedade em que abunda o consumismo, em que o “ter” é mais importante que o “ser”, é necessário o nosso autocontrolo e a firmeza para superarmos as emoções destrutivas, porque por mais pequenas que sejam se podem tornar em sentimentos de fúria ou de ira.
Temos de aceitar as situações como elas são e temos de aprender a conviver com elas.
Como dizia o Filósofo Séneca – “O Homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais que o necessário! Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”.

O VALOR DE UMA ASSINATURA


Li há dias um artigo de Luís Valente Rosa, publicado na Visão em que o autor recordava um filme sobre um alemão que teria sido o maior falsário de quadros de todos os tempos. E comparava-o com outro falsário holandês, Van Meegeren.
Este, segundo o mesmo autor, usava uma metodologia perfeita, procurando telas, pigmentos e molduras de cada época. Nos quadros totalmente novos que pintava procurava seguir o “estilo e a mente dos copiados” de modo a que os especialistas pudessem reconhecer a “presença estilística e mental” de um determinado pintor consagrado.
Meegeren não apunha uma assinatura falsa do pintor a quem pretendia que os quadros fossem atribuídos. Deixava aos especialistas a tarefa de fazer a necessária comparação e eram estes que diziam que os quadros pelo “estilo e pela mente” tinham saído da mão do pintor que o falsário havia pretendido imitar.
O falsário do filme “acabou por ser traído por um químico presente numa tinta cuja marca se esqueceu de o incluir nos conteúdos”.
A propósito, o articulista reflete sobre algumas pertinentes questões. Uma delas é a seguinte: será que esta arte “falsa” terá menos valor artístico do que a verdadeira, quando é certo que alguns dos seus quadros foram considerados pelos especialistas como obras excecionais?.
A diferença reside apenas no facto de os quadros “plagiados” estarem associados a um nome que alcançou um grande prestígio. Por isso, atingiram um valor comercial elevadíssimo. É essa a razão pela qual o falsário procura imitá-lo por forma a que os especialistas confundam a autoria.
Este artigo trouxe-me à memória um episódio ocorrido numa viagem que fiz a Nice, uma linda cidade francesa, e me desloquei, em seguida, à vila de Antibes, perto de Cannes. Nesta vila, onde teria vivido um dos principais fundadores do cubismo, Pablo Picasso, foi fundado um pequeno museu com o seu nome, que também visitei. Durante a visita, a guia local, uma senhora com grande espírito de humor, contou-nos uma história.
Picasso sentiu necessidade de mandar fazer um armário para a sua casa. Chamou então um marceneiro a quem explicou o que pretendia que ele executasse. Para sua melhor compreensão, o marceneiro pediu-lhe que desenhasse o pretendido armário, ao que Picasso acedeu, traçando o esboço do armário num papel que tinha à mão. Depois perguntou ao marceneiro qual o preço que lhe iria cobrar pela obra. Com o papel em seu poder, o marceneiro, respondeu-lhe: se o Senhor assinar o papel, não lhe cobro nada.
Este episódio, seja ele verdadeiro ou pura imaginação, é muito elucidativo acerca do valor de certas assinaturas. Um simples papel onde foi desenhado um vulgar armário, sem qualquer preocupação de estilo, pode ser muito valioso se for subscrito por um pintor da estatura artística de Picasso.
A este mesmo grande pintor atribui o articulista a seguinte resposta que deu a uma pessoa que havia qualificado uma obra sua como sendo um simples risco: “sim, é só um risco, mas fui eu que o fiz”.

A INSPECÇÃO DOS MANCEBOS


IR ÀS SORTES  
Com brandos e leves suspiros olhos deslumbrados coração a pular e um nó apertado na garganta perante os números e siglas indecifráveis rodando nervosamente a boina entre as mãos seguiam àvidamente as insípidas listas , consultavam repetidamente as pautas afixadas nas vitrines da Câmara Municipal ou da Junta de Freguesia numa tentativa incrédula de uma absoluta certificação do local de incorporação . Os mais canhestros socorriam-se da ajuda de colegas e amigos para a sua leitura : 

  • O mancebo… deve apresentar-se no dia… no quartel… para inspecção militar.  
    Manifestava-se no seus rostos um desespero mudo que se condensava em lágrimas mas sobrepunha-se a alegria de pela primeira vez estrearem um fato novo com calça vincada de bainha larga e casaco à três quartos com colete a condizer , camisa imaculadamente branca bem engomada , gravata de cores resplendorosas de nó ( nagalho ) grosso , sapato de cabedal bem engraxado e luzente . O momento era único e irrepetível . Era a tropa !…. Dizia-se que era lá que se faziam os homens . Era o ultrapassar da fase de rapazola para homem feito e pronto para a vida . Exibiam com todo o pudor a sua pura nudez numa despida sala de quartel onde todo o seu corpo ardia em chamas de ansiedade contrastando com o murmúrio de sombra , névoa e luz do ambiente que deixava atrás de si o sol poente . 
  • Mexam-se, parecem umas meninas puritanas…. (gritava o sargento com voz autoritária de comando). 
  • Abre a boca … mostra a língua e os dentes …. As solas dos pés… tens alguma doença?!… (balbuciava o enfermeiro (tenente), retorquia o médico (capitão) 
  • Apto para todo o serviço militar .  
  • O próximo… 
    Cabisbaixos e envergonhados seguiam em fila como cordeirinhos que correm para o bardo seus corpos brancos de neve adornados de vincadas zonas tisnadas pelo sol . Apenas não lhes era inspecionada a nudez da sua alma porque era uma coisa só sua íntima que não era partilhada com ninguém . Regressam euforicamente á sua aldeia que toda a vida lhes deu colo e lhes cantou melodiosas canções para adormecerem enquanto meninos e que nem o tempo dissipou já habituados aos seus brandos murmúrios de água e de folhagem com perfumes de flores silvestres e luz de aurora nascente . Exibiam orgulhosamente as suas fitas ou laços na lapela do casaco : vermelha livre , verde apto ou amarela condicionados a uma situação de espera para inspecção no ano seguinte . O dia era de festa . Triste para os que não iriam cumprir o serviço militar condicionados por qualquer estado físico , alegre para os saudáveis que tinham orgulho em defender a pátria mãe , um amor que tinha valor dentro deles . Bravos de génio e inchados de ufania . Nada poderia correr mal depois de um almoço bem regado numa exaltação de juventude , uma espécie de carta de alforria , que com malícia era também um dia especial de “ir ás mulheres“ pela primeira vez para alguns. O acordeonista estava contratado e os foguetes guardados e fechados numa loja a ferrolho corrido não fosse “ o diabo tecê-las” e o fogo estrondosamente rebentar . Havia festa até aos últimos lampejos de um sol poente . Com pálidos murmúrios e reflexo de vozes indefinidas despontava já uma noite de pálido silêncio e lua nova . A vida estava ali , a dois passos para ser louvada e vivida no dia seguinte .  

IMAGINANDO

TERCEIRA LEI UNIVERSAL
PRINCÍPIO DA VIBRAÇÃO
NADA ESTÁ PARADO, TUDO MOVE, TUDO VIBRA
Este princípio vem provar, e pelos Ensinamentos herméticos, que tudo se move, nada está parado, mas vibrando em diversos graus de manifestação, na escala das vibrações.
Exemplificando:
O Espírito num lado do polo de vibração e a matéria no polo de vibração contrário.
O próprio TODO, vibra num grau tão intenso e num movimento tão rápido, que temos a sensação que tudo Nele está parado.
Comecemos pelo próprio átomo:
Todos sabemos através da Física Quântica, que é composto de protões, neutrões e eletrões que se movimentam rapidamente girando à volta uns dos outros manifestando assim, um estado muito rápido de vibração.
Comprovado que tudo o que existe é Átomo e que o conjunto destes formam moléculas que se tornam matéria, este Princípio hermético mostra-nos exatamente que tudo Vibra, nada está parado.
Pelo nosso nosso ponto de vista verifiquemos:
A Energia sendo a mesma, pode apresentar-se em várias escalas vibracionais. Vamos considerar o caso do Homem:
Quando emite um determinado tipo de pensamento, seja ele qual fôr, coloca a energia na frequência desse pensamento.
Aquela imagem que ainda não existia, a partir do momento em que pensa, ela já existe na sua mente. O efeito desse pensamento gera uma imagem que na escala vibracional, correspondente ao grau de frequência emanado. Essa imagem pode variar. No caso de um pensamento de amor, vai ter um grau de frequência, mas no caso de ódio, já é outro grau frequência.
Isto não é mais que um modo de movimento vibratório.
Se pusermos a questão do calor e do frio, chegamos à conclusão que se trata da mesma energia, mas manifestada em frequência num grau vibracional diferente.
Toda a manifestação de um pensamento, vontade ou desejo é acompanhada por vibrações e podem afetar a mente de outras pessoas por sugestão.
É este princípio que produz os fenómenos de telepatia, do poder da mente e sua influência mental. 
Também e quando aplicado com disciplina, o que produzimos no plano mental podemos manifestar no plano físico.
Através de exercícios e algumas práticas aplicando a ciência da transmutação mental e alguma reflexão pelo Princípio da Vibração somos capazes, mas já num estágio bastante elevado, de transmutar as Leis da natureza mudando as vibrações de objetos materiais ou formas de energia.
A isto  chamamos de milagre.
As manifestações devem vibrar num grau que possamos considerar de equilíbrio.
Exemplifiquemos a temperatura;
Não tão demasiado quente ou demasiado frio. Utilize-se o meio termo.
Mestre Siddartha Gautama chamava-lhe o Caminho do Meio.
Um esforço da própria pessoa pode levar a estados mentais de grande nobreza.
O calor, a eletricidade, o magnetismo e a luz, são simplesmente formas de movimento ou ondas vibratórias dotadas duma verdadeira tenuidade e elasticidade, e emanadas de uma substância Etérea que designamos por Éter, ao penetrar no espaço universal.
É um ponto de união entre a energia que tomamos como matéria e a energia ou força.
Nesta Substância Etérea, também se encontram armazenados os Registos Akáshicos, que abarcam tudo o que ocorre, ocorreu ou ocorrerá no Universo.
Repare o Leitor que todos os Princípios estão ligados entre si.
Através deste Princípio vai sentir o Príncipio da Causa e Efeito.
Um ditado de velhos escritores diz:
“Aquele que compreende o Princípio da Vibração alcançou o ceptro do Poder”

Quando a escola complica…


Lidar com pessoas sempre é um estímulo; quase sempre um dilema, às vezes uma montanha-russa de emoções, culminando num âmago de frustração. A crítica, nem sempre tem de ser de repreensão ou acusatória, mas cada vez mais a sensação de estigma é associada às “famosas” reuniões dos pais com o professor\ diretor de turma.
Quer seja por confiança, ou simplesmente por empatia, muitas mães pedem esclarecimentos acerca das dificuldades de adaptação da sua criança ao meio escolar. Recentemente, os pais também participam nesta problemática, mas o papel de educador reconhecido do ponto de vista social ainda é incutido à mãe. Mãe, escolha primária para dialogar, escutar e agir. Mulher, cuja função biológica de gerar e promover a vida, tem por definição empírica estar sempre disponível para cuidar da família. Não sendo surpresa alguma, a pressão de arranjar soluções sem provocar conflitos. Aceitar o dúbio, para evitar distúrbios ou provocações.
Se uma professora apela à dificuldade em realizar a sua função de docente, lamentado o grande número de alunos que a sua turma contém, suscita compaixão. Mas culpar uma criança, por ser impertinente ou irrequieta, impedindo-a de exercer a sua tarefa, suscita uma responsabilização à mãe. Agora, some todo este cenário com a famigerada frase “Tem de o levar ao médico, para ser medicado!”, surge o impasse na mãe, que se questiona: O que faço? Porquê que o meu filho é assim?
O meu assombro em escutar esta narrativa angustiante, foi mal interpretado pela mãe, considerando ser um incómodo a sua descrição. A sua humildade em pedir ajuda aliada à ilusão da orientação “erudita” da professora, silenciaram a minha revolta. A confusão no meu olhar, perante tamanha complicação quase a levou para o facilitismo do “Deixe pra lá!”
Mas afinal a banalização da medicação psiquiátrica é uma mais valia para a tarefa de ser professor? As dificuldades de aprendizagem são desafios que a escola deverá ter ferramentas para colmatar, e trabalhar em conjunto com os pais. A pouca articulação com a terapia psicológica e social, assim como, a grande incidência de prescrição anti psicóticos em crianças no distrito de Viseu, segundo a Infarmed, cria uma cultura de banalização da medicação para alterações de comportamentos em crianças\ adolescentes. A solução não é subjugar o futuro desta nova geração, mas admitir que o sistema é que tem de mudar. Para quê complicar, quando o objetivo é ensinar…

SANFONINAS

As gavetas
Roubo o título a um dos mais recentes livros do nosso cardeal José Tolentino Mendonça, «Introdução à Pintura Rupestre» (Assírio & Alvim, Outubro de 2021). Inserto na p. 35, o poema reza assim:
Uma velha cosmogonia
associava a gaveta à ferida primordial
dizendo ser o buraco por onde escoamos
gota a gota
a porção que nos coube do dilúvio
Não nos coube muito, é certo, mas dá para ir atafulhando coisas e mais coisas e, a determinado momento, «Eu acho que tinha posto isso aqui, mas no meio disto tudo como é que eu o vou encontrar?». E dá-nos na veneta despejar tudo no chão!
Na verdade, aquele foi mesmo um buraco por onde se foi escoando muita coisa, gota a gota!…
A palavra «gavetas» trouxe-me à mente três imagens.
Bem, a primeira é essa, amiúde arreliadora, a da desordem mais completa de algumas das nossas gavetas! Como está habitualmente fechada, a gaveta não mostra o que vai lá dentro e remexê-la à cata de qualquer coisa traz sempre aquele nervoso miudinho a crescer desamparado… Hoje, até já inventaram assim uma espécie de caixinhas com compartimentos, para ajustar na gaveta e dão um jeitão!… Abençoados!
A segunda é a dos contadores orientais que a gente vê nos museus. Cheios de gavetinhas, algumas de segredo. A proprietária (sim, tinha que ser proprietária e não proprietário!) sabia exactamente o conteúdo de cada uma.
A terceira imagem que me ocorreu foi a do quarto de vestir de D. Irene Ferreira do Amaral, esposa de Álvaro Sousa, no Casal de Monserrate, Monte Estoril: «camisas brancas», «peúgas pretas», «botões pequenos»… Uma infinidade de etiquetas a identificar o conteúdo de cada gaveta e a facilitar aquele momento apressado em que já estamos atrasados para a cerimónia… Achei um mimo!
Fez-me bem, na juventude, a leitura d’«A Arte de Estudar», de Mário Gonçalves Viana (Editora Educação Nacional, Lda – Porto, 1945). Obrigou-me a reflectir na importância da organização tanto a física como, sobretudo, a mental. O dar atenção a um pensamento de cada vez, sem atropelos! Ai, mas as gavetas!…