Arquivo diário: 2 de Novembro de 2023

EDITORIAL Nº 854 – 1/11/2023

Caro leitor
Ao longo da nossa vida ouvimos palavras que brilham como um farol.
Neste mundo repleto de incerteza e desafio, cada vez é mais difícil ter motivação para seguir em frente.
O sentido da vida é cada passo que damos, ao longo desta vida, em cada ação, ou seja, em tudo o que fazemos com a alma. A motivação, tem de estar sempre presente dentro de nós e em cada um.
Eu podia ou posso fazer melhor. Sim, podia e devia. Fui bom, mas devia ter sido excelente!
Viver intensamente não é mal nem pecado. Jesus disse: “Quero que tenhais vida e vida em abundância”, João 10:10.
Uma tragédia não é quando um ser humano morre. Tragédia, é quando morre a motivação, quando morre a alma dentro do mesmo. É hábito ouvirmos de vez em quando: “antigamente é que era bom, ricos tempos!” Eu, respondo logo e sem rodeios: “Mentira. Hoje existe fartura. Antigamente, no tempo dos meus avós passavam fome. A única coisa boa do antigamente era o convívio a entreajuda, mas também, por necessidade, na sacha do milho, nas ceifas, na arranca das batatas, nas desfolhadas, na matança do porco que era uma festa. Tudo isto porquê? Porque não havia máquinas como hoje. Eram obrigados à partilha de entreajuda.”
O mundo sempre teve guerras. Em 1919 foi a gripe espanhola que matou milhões de pessoas. A guerra de França, a II Guerra Mundial, a última de Espanha, agora a Rússia/Ucrânia e Palestina/Israel, o COVID….
Entre o nascimento e a morte, neste intervalo de vida, vamos viver como Jesus mandou “VIVER EM ABUNDÂNCIA”.
Visite Mangualde, nesta Feira secular de 3, 4 e 5 de novembro.

Um abraço amigo,

Meu tempo de Maduro


Muitas vezes na minha vida acordo a contar meus anos e descubro que tenho menos tempo para viver daqui para a frente do que vivi até agora. Tenho mais passado que futuro. Não temo a morte porque não sei o que ela é, não sei se ela é melhor ou pior do que a vida.
No percurso intemporal da minha existência, já fui amassado, pisado, humilhado e quantas vezes me senti sem importância, mas nem por isso perdi a minha dignidade, o meu valor, a minha humildade intrínseca que tanto tempo me leva a percorrer. Não posso ser avaliado por aquilo que pareço ser, mas apenas por aquilo que sei e que fiz, pela postura na vida para comigo e para com os outros.
Disperso num brumoso longe oriental, sinto-me como menino que quando recebe uma vistosa taça de cerejas, as primeiras as aprecia e saboreia gostosamente e com displicência, mas percebendo que já poucas lhe restam, desfruta de um redobrado prazer roendo o caroço num caótico gesto de loucura.
O que perdi no passado não ensombra aquilo que posso desfrutar no presente como ser, num ardente estado febril sublimado. Sei que vivo um mundo imperfeito com sombras que batem asas e ocultam ansiedades misteriosas como eu e como todos nós mas procuro pautar a minha vida pela coerência, enfrentando o mundo na sua evolução misteriosa. Ainda mora em mim um dos aspetos mais bonitos da vida e das coisas que me cercam refletido na matéria dos sonhos.
E numa sombra que nasce e num corpo que se esvai, já não me resta tempo para lidar com mediocridades. Não gosto de convívios onde desfilem egos inflamados. Como homem de boa vontade, adoro ser brando, conciliante e amoldável às circunstancias. lnquieto-me com invejosos que tentam destruir quem eles admiram, cobiçam seus lugares, talentos e sorte. Penetrado de humano sentimento, enfado-me com conversas intermináveis discutindo assuntos inúteis sobre as vidas alheias que nem fazem parte da minha.
No sangue que percorre as minhas veias, com velhos sofrimentos passados, já não tenho tempo para gerir mexericos de pessoas que apesar das sua idade empenham-se em afirmar a sua imaturidade.
Procuro um sentido de vida mais belo, mais claro, mais profundo. O tempo torna-se me escasso. Já não me contento com debater rótulos de amigos e conhecidos, quero a essência, a minha alma tem pressa na escassez do tempo. No meu perfil já doirado de penumbra, procuro o convívio de gente humana, de bem consigo e com a vida, gente que sabe rir dos seus tropeços, não se deslumbra com triunfos, não se considera abençoada de uma superioridade ridícula, não foge da sua mortalidade refugiando-se numa mística hipocrisia contagiosa. Adoro pessoas de verdade, acontecimentos altruístas.
A essência faz a vida valer a pena. Passado foi lugar para criar memórias e não raízes. Lembrar é fácil para quem tem memória, esquecer é difícil para quem tem coração.

IMAGINANDO

PARTE 135
Os Essénios – Parte 1
Para conhecermos a Tribo Essénia, vamos recuar no tempo, e compreender a sua origem.
Comecemos pela Tribo Levi, que tinha como seu lider Moisés, acompanhado de Arão a exercer o cargo de Sumo-Sacerdote, no momento em que o povo de Israel se encontrava no Egipto em regime de escravidão.
Entre a Tribo Levítica, havia um jovem e aqui existe uma dúvida, se seria filho adotivo de Moisés, ou filho biológico de Nadab e neto de Arão.
Seu nome era Essen.
Foi um seguidor de Moisés e merecedor da sua confiança.
Aprendeu com o Seu Mestre como comunicar com seu “Eu Superior” e conhecimentos sobre a reencarnação e técnicas de cura.
Acompanhava-o sempre que ele se deslocava no cumprimento de uma missão. A confiança do Mestre por este menino era tal que muitas vezes dizia e passamos a citar na íntegra:
Essen, menino de cera e de mel, toma tua cítara e esvazia Minha mente, que uma grande tempestade encrespou as águas da Minha fonte. Essen tocava cítara, e Moisés orava, chorando e clamando à Divindade, que transbordava sobre Ele como um grandioso manancial de estrelas e de sóis.
Foi este jovem de nome “Essen” a origem dos Essénios, ao tomarem seu nome.
Quando Moisés sentiu o aproximar do seu desencarne dirigiu-se para o Monte Nebo na Cordilheira de Albarin. Sem este se aperceber, Essen às escondidas acompanhou o Mestre, que só o veio a descobrir, quando já ambos se encontravam do cume do Monte.
Permitida a sua permanência junto de Moisés, Essen prestou-lhe juramento, que nada diria sobre a partida do mesmo para outras Dimensões.
Moisés havia instruido o seu sucessor Josué e restantes seguidores com o seguinte aviso:
Se durante trinta dias eu não aparecer, escusado será procurem-me na Terra, porque nessa altura já Jehová me levou para a Sua Moradia.
Quando Essen confirmou a partida de Moisés para outros Mundos, recolheu seu corpo e levou-o para o Vale Beth-peor no Monte Nebo onde o sepultou, juntando as duas tábuas que ele havia gravado ( num momento em que entrou em extase) e partidas, como indignação ao ver o povo judeu adorar um bezerro, quando ao regressar descia o Monte Horeb.
Ficou então determinado que o Monte Nebo e o Vale Beth-Peor onde o Mestre foi sepultado, seria um um Grande Templo Essénio, que perdurou até à vinda do Mestre Jesus aos planos terrenos.
(Baseado em Harpas Eternas-Josefa Rosália Luque Alvarez)
Continua

O SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA FEZ 190 ANOS


Na semana de 18 a 23 de Setembro do corrente ano, com vista à comemoração do 190º do Supremo Tribunal de Justiça, todos os dias houve lugar a eventos no Salão Nobre do Supremo Tribunal, os quais terminaram com momentos musicais. Sem desprimor para qualquer das várias intervenções, apraz-nos salientar a atuação do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, na noite de 22 de Setembro.
A comemoração do primeiro centenário realizou-se em sessão do dia 14 de Outubro de 1933 por ter sido impossível ser realizada na data comemorativa da instalação do tribunal, ou seja, a 23 de Setembro de 1933.
Procura-se evidenciar uma relação histórica com os tribunais da Coroa do Antigo Regime (séculos XVI a XVIII) quando, na verdade, o Supremo Tribunal de Justiça emergiu do regime constitucional que saiu da Revolução de 1820.
No Antigo Regime vários poderes estavam concentrados nos tribunais régios: Conselho da Fazenda, Mesa da Consciência e Ordens, Conselho da Guerra, Conselho Ultramarino, Junta dos Três Estados e o Desembargo do Paço. Estes órgãos superiores da administração da Coroa tinham capacidade para apresentar consultas ao monarca sobre diversas matérias, fora das suas competências ou geradoras de conflito jurisdicional. Na sua esmagadora maioria, estas consultas eram aceites pelo monarca que seguia as orientações de governo dos seus tribunais. Estes tribunais podiam ainda legislar sobre as matérias da sua jurisdição, como podiam fazer justiça, julgar conflitos ou incumprimentos. Esta concentração de poderes foi considerada pelos liberais como manifestação aviltante do absolutismo régio e contra ela propuseram a divisão tripartida dos poderes.
Ao ser consignado o princípio da separação e independência de poderes (legislativo, executivo e judicial) a Constituição de 1822 criou o Supremo Tribunal de Justiça, composto de Juízes letrados nomeados pelo Rei, mediante proposta do Conselho de Estado, no topo da hierarquia dos tribunais portugueses. A Carta Constitucional de 1826 volta a colocar o S.T.J., ainda composto de juízes letrados, mas agora oriundos do Tribunal das Relações pela ordem das antiguidades.
Existiam, porém, tribunais régios do Antigo Regime exclusivamente dedicados à justiça, os tribunais de primeira instância, na sede de cada município, cujos presidentes eram os presidentes de câmara, e os tribunais de recurso, por apelação ou agravo, a Casa de Suplicação e a Relação do Porto, consoante o território em que se situava a jurisdição. A Casa de Suplicação com jurisdição para o território abaixo da linha do Mondego e a Relação do Porto com jurisdição para as terras acima do Mondego. Como não havia Supremo Tribunal de Justiça, esses tribunais eram a instância máxima.
Havia ainda um tribunal muito especial, o Desembargo do Paço. Era um tribunal de graça e não um tribunal de justiça. Podia dispensar as leis e perdoar o cumprimento das penas ou fazer a comutação das mesmas, conceder certos privilégios, suplemento de idade e mercês. Também podia intervir na resolução de conflitos jurisdicionais, mas em articulação com outros tribunais.
Pelo que fica exposto, verifica-se que não podemos estabelecer uma ligação jurisdicional, orgânica e funcional entre os tribunais do Antigo Regime e o Supremo Tribunal de Justiça.

CONSULTÓRIO

DISBIOSE INTESTINAL – O QUE É? – PARTE II
Quais são as causas da disbiose?
As possíveis causas da disbiose intestinal são o tipo de dieta e o uso de medicamentos. Contudo, outros fatores como o consumo exagerado de bebida alcoólica e o estresse também podem gerar a disbiose.
A dieta é a principal causa da disbiose e pequenas mudanças, excessos ou restrições na alimentação podem piorar a qualidade e a quantidade das bactérias no intestino. 
A ingestão excessiva de proteína animal como carnes, peixes e ovos aumenta a produção de compostos que são tóxicos para as bactérias benéficas do intestino, podendo causar a disbiose. 
Além disso, dietas com muita gordura e compostas por alimentos ricos em gordura do tipo saturada, como a presente em carnes vermelhas, leites, queijos e sorvetes, contribui para a diminuição das bactérias boas e aumento das bactérias ruins, causando inflamação na flora intestinal.
Alguns estudos mostram que uma dieta rica em alimentos com pouca ou sem fibras, como o açúcar refinado, farinhas refinadas, e glicose, encontrada em bolachas, doces e outros alimentos industrializados, também favorece o aumento das bactérias ruins no intestino, podendo causar a disbiose.
O uso de alguns medicamentos sem o devido acompanhamento médico também pode causar alterações no equilíbrio da flora intestinal, resultando na disbiose. Alguns anti-inflamatórios, como aspirina e ibuprofeno, quando usados com medicamentos que diminuem a acidez natural do estômago, alteram o equilíbrio das bactérias no intestino, causando a disbiose. Muitos antibióticos causam alterações na flora intestinal e, quando tomados por muito tempo, podem gerar mudanças mais graves, gerando o crescimento de bactérias ruins e resistentes à ação do medicamento, dificultando o tratamento de doenças que necessitam do antibiótico, como as infecções intestinais. 
Outros factores - Além dos medicamentos e dietas ricas em proteína, gordura ou baixa em fibras, fatores como o consumo exagerado de bebida alcoólica, idade, ansiedade, stress, e algumas doenças intestinais já existentes, como síndrome do intestino irritável, diverticulite e inflamação intestinal, também favorecem o desequilíbrio da flora intestinal e, consequentemente, causam a disbiose.
Qual o tratamento?
Na maioria dos casos, o tratamento da disbiose é feito por meio de mudança nos hábitos alimentares, no entanto, em alguns casos pode ser necessário o uso de suplementos probióticos e, dependendo da gravidade, a realização de um transplante fecal.
Mudança de hábitos alimentares - Para tratar a disbiose, além do acompanhamento médico é importante receber orientações de um nutricionista porque o tratamento é focado principalmente em recuperar a saúde da flora intestinal com uma alimentação adequada. Dessa forma, é recomendado: 
Dar prioridade a alimentos ricos em gordura insaturada, como azeite de oliva, abacate e amêndoa, pois promovem o aumento de bactérias benéficas no intestino, melhorando os sintomas da disbiose;
Ter uma dieta rica em prebióticos, um tipo de fibra presente em alguns alimentos como a aveia, alho, biomassa de banana verde, mel e alguns tipos de batata, pois são fundamentais para recuperar a flora intestinal, uma vez que são os nutrientes essenciais das  bactérias boas do intestino;
Comer alimentos ricos em fibras como, feijões, frutas com casca e vegetais frescos diariamente é fundamental, pois aumentam a variedade das bactérias benéficas no intestino, melhorando também a absorção e produção de vitaminas e minerais pelo intestino;
Consumir alimentos ricos em probióticos, que são as bactérias boas para o intestino, como iogurte, kefir e kombucha, promovendo o equilíbrio da flora intestinal, melhorando a disbiose.
É importante também evitar alimentos com lactose, como os leites e iogurtes, alimentos com hidratos de carbono simples, como açúcar refinado, sorvetes, e chocolates, assim como o consumo excessivo de hidratos de carbono como pães, massas, doces e geleias. Estes tipos de alimentos causam o aumento da fermentação, da produção de gases no intestino e diarreia, prejudicando a flora intestinal e piorando a disbiose.
Para o tratamento da disbiose, além de mudanças no hábito alimentar, a prática regular de atividade física, orientada por um profissional, também é muito importante.
Suplementos - O uso de suplementos probióticos, que contêm a quantidade e os tipos adequados de bactérias boas como os lactobacillus e as bifidobactérias na forma de cápsulas, saquetas ou líquidos, também pode ser indicado no tratamento da disbiose. Estes suplementos equilibram a flora intestinal, ajudam a tratar os sintomas e melhoram a produção e absorção de nutrientes pelo intestino.
Para se ter os benefícios dos suplementos probióticos, é importante que a ingestão seja diária na quantidade e tipo de bactéria necessária para cada sintoma ou doença causada pela disbiose.
Transplante fecal
O transplante fecal, que é a transferência de uma flora intestinal de uma pessoa saudável para outra com disbiose, é utilizado para equilibrar as bactérias intestinais e melhorar os sintomas da disbiose. Este procedimento somente é indicado em casos de infecções intestinais muito graves e recorrentes.

lendas, historietas e vivências

Memórias da Estação em tempo de Guerra, lá longe…

Pois, na verdade, como tenho escrito, a Segunda Guerra Mundial ficou muito para lá da fronteira, para nossa sorte. Ouvia-se o comboio, mas não se ouviu o ruido de aviões a passar e as bombas a cair. Também nada se viu excepto algumas fotografias que acompanhavam as notícias dos jornais que o Pai comprava diariamente. Daí que, desde sempre, me fez confusão como é que nos meus sonhos infantis eu via as bombas caírem no telhado dum barracão vizinho, deixando ali um largo buraco nas telhas?! E não foi só uma vez…Eu acordava lavada em suor a chorar agarrada à minha irmã com quem dormia, num grito “ a bomba” a bomba…mas onde raio é que eu tinha visto uma bomba e os seus efeitos, se nem havia televisão?!…E logo a minha irmã, mais velha que eu, me tentava sossegar. Mas acalmar daquela aflição, não era fácil, e por vezes lá tinha de vir um dos Pais transmitir confiança. Pois, era isto…não tínhamos guerra, felizmente, mas as notícias da rádio eram suficientemente realistas. E para isso, lá estava o grande locutor e jornalista FERNANDO PEÇA que, de Londres, acompanhava e transmitia momentos trágicos daquela grande desgraça. Eu já referi noutro texto como o governo de Portugal e o de Espanha conseguiram passar ao lado da 2ª Guerra Mundial com acordos de fornecimento à Europa de muitos bens de várias espécies que eram transportados de noite nos longos comboios que já referi. Chegados a 1945, para bem de todos, esta terrível guerra terminou. Assim sendo vários dos nossos bens já não eram tão necessários, e alguns ficaram acumulados nos espaços disponíveis, e ainda eram muitos, nas imediações da Estação/ Gare, sobretudo madeiras em rolo e grandes barricas de resina ou pês louro, de que as inúmeras matas de pinheiro bravo da Beira Alta eram pródigas. O maninho entre a aldeia de Cubos e o Bairro da Estação era o armazém do material que já não seguiu para a Europa. No verão com o calor intenso projectado sobre as barricas provocava a liquefação da resina que ia saindo pelas fendas abertas nas madeiras. Nos anos que se seguiram à Guerra sentia-se a miséria que desabara sobre a população de fracos recursos. Um dos grandes problemas era a falta de iluminação à noite. Recorrer ao petróleo ou ao azeite era incomportável, então criavam-se estratégias. A cera de abelhas em bruto era prensada num caco com um pavio improvisado de um pedacito de trapo a que se ateava o fogo. Havia por aí pessoas mais espertas que deram conta do manancial de resina que saia em bolas amarelas reluzentes, pelas fendas das barricas. Muniam-se de bugalhos grandes e secos retiravam-lhe o recheio feito pó e substituíam-no por bolas de resina com um fio de tecido que servia de pavio e chegavam-lhe o fogo com uma palhinha; até os fósforos eram um bem caro e difícil de arranjar…Deste modo muita gente fez frente à escuridão por largo tempo.

“E com o frio, vem o reumatismo…”


O frio regressa novamente, trazendo consigo as mazelas como constipações e gripes. De fato, já os nossos avós sabiam que com o frio os pulmões eram, quase sempre, afetados. No entanto as dores ósseas e musculares, também são “visitas” sazonais pouco bem-vindas! Não é por caso que, a maior parte, dos anti-inflamatórios e analgésicos são medicamentos não sujeitos a receita médica, sendo indicados para causas de dor ligeira a moderada.
O termo “Reumatismo”, para peritos de medicina mais minuciosos, é incorreto, dado que retrata de forma popular um conjunto de doenças que afetam as articulações, músculos e ossos. A origem da palavra “Reumatismo”, vem dos gregos ( “Rheuma+ tismós”- fluxo + movimento). Ninguém mais erudito é capaz de negar a sabedoria dos gregos, de fato os médicos, ainda hoje, têm que fazer o juramento de Hipócrates, grego reconhecido por ser o pai da Medicina Ocidental. Sendo que a sua teoria dos humores (que em latim, humore significa líquido) corporais foi aplicada até ao surgimento do método científico. De fato, uma das doenças, mais frequentes que afetam as articulações é denominada por “Gota”, por existir um excesso de fluído\humore na zona afetada. Para os peritos que têm uma linguagem mais técnica, o correto seria denominar doenças reumatológicas, ou utilizar termos como “artrite” ou “osteoartrose”, ao comum “Reumatismo”. Mas como o objetivo é todos fazermos parte da mesma linguagem, mesmo quem é leigo em Medicina, volto a fornecer termos médicos que ajudaram a explicar a significância dos relatórios\ prescrições médicas… Só assim poderá existir uma compreensão positiva para um resultado confortável, estarmos todos a mesmo nível linguístico para formalizar um compromisso de cura! Adiante…Prefixo Osteo= Osso; Prefixo Art = relativo a articulação; Sufixo ose= processo, patologia e Sufixo ite= inflamação.
O sintoma principal é a dor e a incapacidade na movimentação da (s) articulação (s) afetada (s).
Até chegar ao ponto de serem encaminhadas aos Reumatologistas e\ou Fisiatra, sendo este último uma mais-valia para alívio da dor através da prescrição de movimentos que serão supervisionados por fisioterapeutas, muitos indivíduos andam a gemer e claudicar diariamente. Muitos estão a tomar medicação em excesso para tolerarem a dor e conseguirem exercer a sua profissão, porque escutam conversas de conhecidos e desconhecidos a relatarem responsos de profissionais de saúde que associam estas queixas a exigência de baixas médicas para escapar ao serviço laboral.
Na realidade, a causa principal de faltas ao trabalho e reformas antecipadas é devido a doença degenerativa do foro ósseo, muscular e articular. É considerada uma preocupação em Saúde Pública, mas não existe um sistema fidedigno para despistar os casos críticos. Apesar de, na teoria, estar criado esse sistema, na prática quem está no terreno vê um crescendo de procura de especialistas que não satisfaz a necessidade. E a dificuldade em gerar o diagnóstico específico da doença reumatológica, faz surgir um proveito malicioso para quem o trabalho é para os tolos e que de valor é estar a usufruir dias em casa e ainda ganhar subsídios à conta da ingenuidade de quem acredita nos sintomas inventados. Daí muitos profissionais de saúde terem dificuldade em acreditar em quem se queixa sem sinais aparentes, ou quando existem duvidam da subjetividade da dor expressada… Típico “paga o justo pelo pecador “ por o médico achar que “são todos farinha do mesmo saco” !
Assim, há múltiplas causas para ter dor numa articulação, mas o profissional deve ter tempo e escutar a pessoa sem julgamentos e a pessoa deve ser isenta de subterfúgios….
Existem várias estratégias não farmacológicas para alívio da dor numa articulação (artralgia), muitas oriundas pelo senso comum e bons resultados de remédios caseiros e familiares. Na realidade as famosas botijas de água quente, trouxeram muito alívio a muitos queixosos de dores viscerais e articulares. Também na falta de botija, o famoso escalda-pés com um punhado de sal era prática frequente na tia “reumática”, ou no tio “gotoso”…Os cataplasmas de repolho eram ridicularizados pelos peritos de Medicina, mas em última instância mais vale um joelho embrulhado em couve com película aderente do que uma dor de estomago provocada pelo anti inflamatórios… Já referi antes, mas não deixa de ser triste pensar que um dos primeiros medicamentos para alívio da dor tem origem da casca do salgueiro, e agora quem prescreve satiriza com as origens da medicação.
O que deve ficar assente é que o estilo de vida interfere muito nestas maleitas, não é por acaso que a “Gota” ou hiperuracémia, também foi conhecida pela doença dos Reis, devido aos excessos alimentares acometidos por estes. A falta de exercício, ou a repetição de movimentos aumenta o risco de ter dor articular. O motivo de existir cada vez mais este problema tem haver com a falta de consciência de aquecer os músculos antes de uma atividade física intensa e os excessos alimentares. Não hesite em questionar os profissionais de saúde…. Por vezes temos de ser desafiados através de perguntas certeiras!

SANFONINAS

Caldos de castanha
Conta o Padre António Vieira, num dos sermões, a faina do estatuário desde o arrancar da pedra na montanha até ao afilar dos dedos duma estátua. Ciência de experiência feita, a do estatuário; saber de experiência feito, o do pregador.
Instintivamente, a cena ocorreu-me ao ler o livrinho «Caldos de Castanha», que Alberto Correia cinzelou, dez municípios apoiaram, Sernancelhe e a Confraria da Castanha, fundada a 22 de Outubro de 2006, editaram.
Oito são as receitas apresentadas, colhidas em restaurantes da zona e, também, no Curso Técnico de Cozinha/Pastelaria da Escola Profissional de Sernancelhe. Qual delas, a melhor – no sabor, na maestria e no respeito pela tradição.
Louve-se, naturalmente, a iniciativa, não apenas por veicular em papel informações a não perder, mas – de modo especial – por os executivos dos vários municípios envolvidos se haverem disponibilizado a apoiá-la.
É um livrinho pequeno, de escassas 24 páginas. Na da esquerda, sempre, as excelentes fotografias, saídas do apurado sentido estético de José Alfredo; na da direita, os textos.
E se as receitas obedecem ao rígido e esclarecedor formulário do ritual culinário e vão carecer, por isso, de toda a atenção de quem as quiser pôr em prática (os caldos, os cremes, as sopas…), já o mesmo se não dirá dos três ‘capítulos’ iniciais, onde Alberto Correia deu largas ao seu estro poético. António Vieira, dum pedregulho fez saltar uma estátua; Alberto Correia, de banal castanha, atira-nos para um universo poético, a mostrar como, na vida de todos os dias, a sabedoria do olhar deve prevalecer a desfazer negridões e penumbras.
Ora vejam-se os títulos:
– «Soutos da Lapa – Epopeia sobre a montanha»;
– «Castanha – O fruto que se fez pão»;
– «A Malga de calado – Um elemento fundador».
Abre-nos o apetite para os caldos, os cremes ou as sopas; mas aguça-nos a curiosidade o que cada capítulo ensina.
«’Caldo’, palavra derivada da antiga língua latina, calidum, que significa quente, porque quente se servia esse primeiro manjar preparado no primeiro fogo do lar à gente do trabalho, aos filhos pequenos, como pão de cada dia, e era ritual festivo, era pão de viajante numa pausa do caminho, era esmola de pobre que batesse à porta».
E eu, garanto, vou mesmo bater à porta!

A importância económica da castanha


Em tempos idos a castanha era um bem essencial para a subsistência das famílias portuguesas nas regiões de montanha de tal forma que se dizia que matava a fome a muita gente. Contudo, a castanha viu a sua produção cair 64% em cerca de 60 anos. Entre os fatores responsáveis pelo declínio estão as pragas e doenças do castanheiro.
A castanha portuguesa é reconhecida internacionalmente pela sua elevada qualidade e também pelas suas excecionais propriedades para transformação industrial. Assim, há ciência na escolha das nossas castanhas com impacto no sabor, na produção local e também na nossa economia.
Portugal é o segundo maior produtor de castanha a nível europeu, o segundo país exportador da Europa e o quarto do mundo. De acordo com os dados oficiais, a exportação é o destino de mais de um terço da castanha produzida em Portugal, sendo o segundo fruto com maior taxa de exportação atual, a seguir à pera Rocha.
O facto de a produção de castanha em Portugal assentar principalmente em variedades autóctones é um importante fator de diferenciação a favor da identidade da Castanha Portuguesa.
A produção de castanha concentra-se essencialmente na região Norte do país, que representa 88% da área de produção e 82% da produção declarada de castanha. Foram criadas em Portugal quatro regiões demarcadas com Denominação de Origem Protegida (DOP): DOP da Terra Fria, abrangendo uma área de 12.500 hectares, inclui 10 variedades (Longal, Judia, Cota, Amarelal, Lamela, Aveleira, Boaventura, Trigueira, Martaínha e Negral); DOP da Padrela, abrangendo uma área de 6.000 hectares, inclui 5 variedades (Judia, Lada, Negral, Cota e Preta); DOP dos Soutos da Lapa, abrangendo uma área de 4.000 hectares, inclui apenas 2 variedades (Martaínha e Longal) e DOP de Marvão-Portalegre, que ocupa cerca de 900 hectares e inclui 3 variedades (Barea, Clarinha e Bravo).
De tradição milenar, o castanheiro (Castanea sativa) viu decrescer a sua influência na subsistência das famílias e o seu peso na economia nacional. Apesar disso, estima-se que, somando todos os contributos ao longo da fileira, o valor da castanha ascenda a perto de 109 milhões de euros, 43,8 milhões dos quais relacionados com o mercado informal. Para além de ser um alimento muito interessante do ponto de vista nutricional, a castanha é também vital para os pequenos e médios agricultores que vêm nos seus soutos uma forma de fazerem algum dinheiro.
Para todos aqueles que aguardam por esta época do ano para se degustarem com a bela da castanha quentinha depois de um repasto em família, nada como visitar algumas das numerosas festas e feiras organizadas na região onde a castanha tem sempre um lugar de destaque, como a Festa/Feira da Castanha de S. Simão em Sernancelhe e Trancoso. Para aqueles que não se puderem deslocar, têm sempre a possibilidade de participar nos magustos que se fazem em todas as associações e coletividades por essas aldeias fora. No meu caso, tenho uma predileção especial pela castanha da variedade Martaínha! E não se esqueçam de acompanhar com uma jeropiga caseira!!!