Arquivo da Categoria: Editoriais

EDITORIAL Nº 683 – 15/04/2016

SR

Caro leitor,

Múltiplas situações marcam a nossa vida ao longo desta caminhada terrena.
Situações ou acontecimentos que nos acompanham e que a nossa memória jamais apagará, que se prendem na sua essência com memórias carinhosas, até das primeiras bofetadas, o primeiro dia de escola, as reguadas da professora, a primeira namorada, o primeiro trabalho, o amor, o casamento, o nascimento dos filhos, a morte de um familiar, a escolha profissional, etc.
Uma grande parte destas situações ocorre em fase de crescimento. Mais flagrantemente, a escolha profissional acontece numa época em que o adolescente ainda anda à procura de si próprio.
No 10º ano, o aluno vê-se confrontado com uma escolha, um caminho que será deveras importante para o seu futuro. Aqui conta o seio familiar com o seu apoio, contam os seus educandos, mas no final, só a cada um cabe e cada um conhece a sua vocação. Manifestamente que lhe cabe a ele o verdadeiro papel e protagonismo deste processo. A opção deve ser totalmente respeitada por quem o rodeia, embora se saiba que a adolescência é uma fase difícil com falta de experiência e uma certa crise de personalidade.
Impõe-se pois, que o adolescente faça um exame de consciência profundo, analise bem as suas capacidades e as suas limitações, e assim poder escolher livremente. Em tempos longínquos era fácil um homem fazer outro homem e nascia-se capacitado, engenheiro, economista, doutor, professor, carpinteiro, resineiro, agricultor, etc.
Atualmente não é assim tão fácil e é necessário ter os pés bem assentes na terra para poder vencer neste mundo de vastas e difíceis oportunidades. Assim, é necessário ter consciência da escolha que melhor se coaduna com a sua personalidade, interesse e capacidades para, no futuro, não ter de se queixar da sua sorte.

Um abraço amigo,

EDITORIAL Nº 682 – 1/4/2016

SR

Caro leitor
A nossa Europa e o seu manto vai-se rasgando aqui, ali ou acolá.
Todos vivemos da Europa, daí, ou todos vivemos bem e em paz ou todos vivemos sobressaltados.
A Europa corre mal, nota-se económicamente e agora com os atentados estamos a perder segurança. Logo, a liberdade está em causa e passa a existir o medo, mesmo assim a Europa já passou por muito pior com duas grandes guerras mundiais no centro da Europa, com países quase vizinhos que eram inimigos e que, se vinham deteriorando em conflitos e conseguiram unir-se em esforço de soberania pelos altos valores da pátria. Aqui, a Igreja foi também fundamental para se por termo a estes conflitos que em nada nos dignificavam. Na história da humanidade a Europa mostrou um grande projeto e gerou prosperidade, liberdade e progresso. Passamos mais de duas décadas a olhar o futuro sem sombras e sem rodeios. Parecia que tudo corria às mil maravilhas. Estalou o verniz e damos conta do fraco que somos e daquilo que Portugal esbanjou da Comunidade Europeia e agora todos pagamos com suor sangue e lágrimas.
Portugal e Espanha ajudaram ao projeto europeu, aderindo ao mesmo em 1986 e perfazendo assim uma dúzia de países que constituíram nesse ano a Comunidade Económica Europeia (CEE).
Agora, ao todo, 28 países fazem parte deste grande projeto europeu, estando ainda mais países candidatos, tais como: Albânia, Antiga República Jugoslava da Macedónia, Islândia, Monte Negro, Sérvia, Turquia, Kosovo, Bósnia e Herzegovina.
Este é um grande projeto, vamos acreditar nele e nos seus intervenientes pois a união faz a força. O terrorismo vai ser eliminado, assim os grandes líderes o queiram, pois com a tecnologia atual, sabem onde se encontra qualquer ser humano. A Europa para ser governada não necessita de medo, mas parece ser esse o caminho.

Abraço amigo

EDITORIAL Nº 681 – 15/3/2016

SR

Caro leitor,
Todos os dias sou abordado por pessoas que me sugerem com incentivos que eu assuma mais responsabilidades na contribuição para o desenvolvimento de Mangualde, nomeadamente que me envolva mais na participação política. Respondo-lhes, no entanto, que como empresário não tenho tempo para esse tipo de devaneios. Gosto bastante de ser empresário, pelo que contribuo assim para o desenvolvimento local, com o que posso fazer e com o que faço por gosto.
Com vinte e dois anos fui admitido na Guarda Fiscal, na altura uma corporação honrada na medida de poucas outras. Ainda hoje tenho memórias bastante claras e saudades daquelas vivências. Felizmente, fiquei jubilado da mesma. Ficou ainda na bagagem, um louvor atribuído na quinta companhia de Aveiro que ainda hoje me enche de orgulho, assim como aos meus.
Nos seguintes anos 80/90, construí a minha própria casa, com os saberes que tinha aprendido aos 19 anos.
Por baixo dessa mesma moradia, no bairro da Imaculada Conceição, abri uma oficina de granitos. Os passeios do bairro cheios de pedra são uma imagem que quem lá vivia ainda guarda.
Depressa se tornou pequeno esse espaço e, crescendo, investi num pavilhão na Zona Industrial do Salgueiro, cujo emprendimento me parecia bastante moroso. No entanto, volvidos dez anos, a falta de espaço levou-me a adquirir mais terreno e um novo pavilhão, este com área coberta superior a 4000 metros quadrados. Desta vez com tecnologia moderna, para melhor continuar a fazer face às necessidades dos clientes, também agora cada vez mais exigentes, felizmente.
Em 2012, fui contactado para ficar com parte da empresa Jornal Renascimento. No início não ponderei sequer dizer que sim, mas à procura de um desafio, rapidamente aceitei, sabendo que os mangualdenses não podiam nem deviam perder este órgão de comunicação social, que em 2027 vai fazer um século. Infelizmente, outros marcos regionais não resistiram, como foi o caso da rádio voz de Mangualde. Subsistiu este jornal, feito com os contributos do povo, para o povo.
No final de 2015, aceitei um novo desafio, desta volta mais melindroso e de maior responsabilidade e dignidade. Com a compra de 50% da Ferraz e Alfredo, procuro agora manter o respeito, a dignidade e honestidade na empresa, a par com o trabalho.
Posto isto, não tenho de facto tempo para contemplar coisas ademais, e por vezes, a mim alheias. Prefiro manter-me com a seriedade de sempre, e assim continuar a dar-me no dia-a-dia com toda a comunidade, mais rica e mais pobre. Neste registo, tenho e terei a disponibilidade necessária para ajudar todos os que de mim precisarem.

Abraço amigo,

EDITORIAL Nº 680 – 1/3/2016

SR
Caro leitor,
A maior invenção do mundo foi há muito tempo considerada a roda, considerando todas as facilidades que criou e os desenvolvimentos que assim permitiu.
De igual forma, a internet é agora das melhores candidatas ao título. Com ela veio a era da informação e a vida de muitas pessoas, a par com as suas realizações pessoais e sucessos profissionais, viu-se para sempre tranformada. Não obstante ter contribuído para o acesso indescriminado do conhecimento, tornado acessível a todos, gerou também alguma dependência dos meios tecnológicos.
Sempre apostei na informática. O primeiro computador que comprei, de marca Schneider, custava na altura quinhentos mil escudos, o que atualmente corresponde a cerca de dois mil e quinhentos euros. Com este valor comprava-se, naquele tempo, um lote de terreno urbanizado para construção de uma moradia. No entanto, foi uma aposta que decidi fazer na época, para o desenvolvimento, descoberta e deleito do meu filho. Tinha apenas oito anos de idade, mas foi com o entendimento precoce do que era o computador que se manteve até hoje interessado nesse e noutros brinquedos que a tecnologia produziu.
Ainda hoje, e de hoje em diante, criam-se novas ferramentas e instrumentos, que são surpreendentemente facilitadores de trabalho e gestores de vidas profissionais e pessoais. Mas lembro-me bem de outros tempos, com outros trabalhos, mais manuais e morosos e bastante menos virtuosos. Tive de apostar no trabalho diário, sem ajudas automáticas. A primeira máquina que comprei para cortar pedra foi paga com uma dúzia de cheques pré-datados, com todo o meu vencimento mensal em cada um da minha ex Guarda Fiscal, que dela estou aposentado. Vivemos na era das redes sociais e muitas vezes dou comigo a pensar que não existe tempo que chegue para falar tanto, quando há ainda muito por fazer neste mundo. Tenho de zelar pelo dia-a-dia e certas ferramentas não me servem.
Sou, contudo, nos tempos atuais, obrigado também a não descurar esse novo mundo que é já tão imensamente distinto do seu começo. Vou utilizando o que de bom encontro, mas com o discernimento de ignorar as inúteis ferramentas que só consomem tempo.

Um abraço amigo,

EDITORIAL Nº 679 – 15/2/2016

SR

Caro leitor,

Sabemos que uma imagem significa mais do que mil palavras e sabemos também que qualquer imagem é percepcionada de forma diferente porque todas as pessoas também são diferentes. Ora, sabemos também que a imagem pode ser retocada com inúmeros e variados aperfeiçoamentos.
Podem-se assim criar Marcas e incutir perceções favoráveis. Munidos com as armas tecnológicas desta era moderna, procedem-se a pequenos ajustamentos, provocam-se pequenas nuances e fazem-se infusões de cores. Colocam-se no sítio aconselhado, na altura ideal e da forma acertada para maravilha do mercado.
Prometem-se fundos e mundos, com a artificialidade da perfeição que encanta e convence qualquer transeunte. E podemos estar a falar de batatas, de tesouras que fazem crescer o cabelo ou, até mesmo, do orçamento de estado para 2016.
Mexe-se em tudo, na previsão do défice, no IVA, nas pensões, nas sobretaxas, nos escalões do IRS e nas horas semanais de trabalho. Põe-se à mostra e vamos ver o que acontece.
Insurgem-se todos em críticas dispersas, como sempre de resto.
Voltam ao desenho, baralha-se mais um pouco a imagem. Mais um jeito, um ajuste e um retoque e espera-se que o “povo” se cale. Dizem rapidamente o bloco e o PCP que o acordo não era assim. A União Europeia diz por sua vez que o orçamento não é o desejado. E lá vai o Primeiro-Ministro a marcar passo.
Volta-se aos conteúdos originais, a formatos menos originais e às cores de sempre. A imagem não fica no entanto a mesma. Deixa-se uma marca e a imagem muda, mas esquece-se a ideia da Marca. Faz lembrar um ditado antigo... Pobre de quem vende nem puxa nem estende.
Um abraço amigo,

EDITORIAL Nº 678 – 1/2/2016

SR

Caro Leitor,
Somos um pequeno país, à beira-mar plantado, com grandes homens de alma e coração. Mas neste pequeno país nasceram milhões de pessoas que, com a pequenez das cirscunstâncias, foram obrigadas a partir de sua casa.
Há já centenas de anos que Portugueses partem rumo a outros países. Começaram desde cedo com a motivação pela descoberta até que mais tarde foram levados pela necessidade. Nunca tivemos políticos que soubessem criar condições e fazer de Portugal um país digno, que devolva aos seus o que eles lhe dão. Não houve nem há visão a longo prazo, focada nas pessoas e no emprego, pelo que fomos perdendo muito do nosso potencial para outros países que mais facilmente conseguiram cativar o valor que produzimos nacionalmente.
Todos os ex-governantes deviam ter visão a longo prazo. A mesma que os actuais e recentes governantes precisam para fazer face às evidências do presente e estancar a emigração crescente. Muito se fala sobre isto e pertence ao reino da concordância geral. No entanto, a falta de políticas e atitudes adequadas, contrariará tanto esta tendência como as mesmas têm contrariado a baixa natalidade/envelhecimento da população e a poluição do ambiente.
Vejamos: a língua portuguesa é a sexta mais falada no mundo, a quinta mais utilizada na internet e a terceira mais usada nas principais redes sociais. Devemos agradecer a quem? À nossa atitude na altura certa, quando poucos ou nenhuns a tinham. Deixámos a nossa marca no mundo inteiro e com ela a nossa lembrança.
Por motivos mais inglórios, agora também deixamos. As pessoas que vão à procura de trabalho e melhores condições de vida levam consigo as raízes, a história, a cultura e a língua do nosso país. Temos embaixadores em muitos emigrantes. Foram anos difíceis mas estamos um pouco por todo o Mundo. No entanto, vai faltar em Portugal quem enriqueça o país e o sustento de cada pessoa ficará crescentemente mais caro, para o Estado e para cada um. Somos um país mais pobre e a empobrecer, e vamos sentir falta da padeira de Aljobarrota.

EDITORIAL Nº 676 – 1/1/2016

SR

Caro leitor

Vou falar-vos de um episódio, coisa que faço habitualmente neste espaço. Histórias de vida.
Na minha juventude tinha um amigo com quem desabafava e afirmávamos conceitos. Esse amigo, encontrava graça nas moças, era um sortudo, mas não primava pela inteligência e somava o facto dos pais serem da classe média baixa.
Um dia, o rapaz conheceu uma menina e apaixonou-se por ela. A moça, não sendo de família nobre e endinheirada, tinha nome e o suficiente para parecer rica. Esta, sem experiência na arte de amar, engraçou com o meu amigo, demonstrando nos seus modos o que lhe ia na alma.
As famílias eram amigas e visitavam-se regularmente. Era hábito no meu tempo, uns com maldade, outros sem ela.
A mãe do moço viu com bons olhos este amor, mas o mesmo não aconteceu com os pais da jovem, porque a prudência assim o aconselhava.
Certo dia, estavam nas férias do Natal, encontraram-se para confraternizar e provar um bolo da nova pastelaria. A mãe da moça encaminhou a conversa para casamentos e disse que gostava que a filha casasse com um engenheiro, pois queria ter na família alguém formado em engenharia, uma vez que o pai era construtor civil. “A menina ainda é muito nova para pensar nisso”, disse a mãe do rapaz. Retorquiu a mãe da moça, “mas é bom alerta-la já para o futuro, não venha a ser enganada por um caçador de dotes”.
O rapaz tudo ouviu em silêncio e veio contar-me destroçado. Entristeceu-me profundamente o coração quando me disse “se pudesse seria engenheiro, mas não tenho inteligência para tal”.
Certo é que a moça, deixou de corresponder aos olhares do rapaz, possivelmente por recomendação de seus pais.
Os anos passaram e passam.
Um dia de verão, encontrei o meu amigo na doca de Portimão. Demos um abraço e disse-me que já estava casado. Perguntei-lhe se foi com a Mafalda. Ficou com um ar tenso e sério, e acrescentou, que se tinha casado também, mas não com ele, referindo ainda, “sabes, nunca a esqueci, vivo com esse martelo a martelar-me todos os dias, mas tenho que seguir em frente”. Coitado do meu amigo, se tivesse um pouco mais de inteligência e dinheiro na bolsa, teria sido o marido ideal da Mafalda, a moça que lhe tocou o coração.

Feliz 2016 e um abraço amigo,

EDITORIAL Nº 675 – 15/12/2015

SR

Caro leitor,
É Natal! Já entrámos no espírito e vamo-nos entretendo com as compras e troca de palavras festivas que têm lugar nestes dias. Trata-se de um tempo de reflexão e de família. Reflectimos face ao passado ano e ao ano que se aproxima, ao bom e mau que caracterizaram estes 12 meses de tantos outros. Reflectimos também em família e partilhamos um pouco de nós com os nossos, valorizando o tempo que vivemos em reunião natalícia.
Temos agora um tempo de paz, que nos isola dos horrores e desgraças alheias a que somos sujeitos, e obrigados a assistir todos os dias quando a outros aflige. A Europa, nossa casa, tem sido o palco de infortúnios neste último ano. Tivemos, e temos, uma vaga de imigração de refugiados que fogem de uma morte anunciada e que muitos perderam também a família e a dignidade. Nestes dias, lembramos também os atentados em Paris e pelo mundo, que nos fez mais uma vez relembrar a nossa fragilidade e a imprevisibilidade que acompanha as tragédias. Faltam líderes, faltam valores, falta humildade, falta comunhão e conjugação de esforços.
Não deixa de ser irónico, muitas vezes, que o grande berço das maiores religiões do mundo, é a região com mais violência gratuita, que ostraciza entre outros povos, também o seu. João Paulo II deu os primeiros passos para unir religiões e conseguiu-o em alguns casos. É este o caminho. Não se podem deixar as pegadas de grandes intenções esquecidas no tempo.
A fundação Champalimaud criou há dias um desafio - como será o mundo daqui a 100 anos? Desconhecemos a resposta na mesma medida em que o dia de amanhã é uma incógnita, mas será essencialmente um reflexo do homem, que contra tendência terá de mudar algumas das correntes nefastas que se têm verificado de ano para ano.
Natal é o dia do nascimento de Jesus Cristo. Vamos também nós nascer neste Natal e começar a dar e fazer feliz aqueles que sempre nos rodeiam e a quem devemos muito de nós. Porque é em vida irmão, em vida.

A todos os nossos assinantes, leitores, colaboradores e amigos Votos de um Santo e Feliz Natal para si e para os seus.

Um abraço amigo,

EDITORIAL Nº 674 – 1/12/2015

SR

Caro leitor,
Tudo o que nasce é novo e diferente de tudo o resto que existe. Cresce e vai definindo as suas próprias formas e significâncias. Por entre flora e fauna, o ser humano é o mais notório caso de evolução causal. Nascemos, como se de uma tela vazia nos tratessemos, e vamos assimilando o exterior com toda a curiosidade e aprendizagem que nos é inerente. Pouco a pouco, vamos construindo a nossa maior riqueza, a nossa alma, carácter e conhecimento. Pois é no íntimo de cada homem e de cada mulher que se começa a construir o mundo e que grandes ideias se nutrem. Os homens não se fazem sozinhos e sozinhos ninguém são. Só um homem consegue nutrir outro homem.
Quando construímos, compramos ou alugamos uma casa, curamos e cuidamos dela para que toda a família se sinta feliz nesse assim chamado lar. Devemos cuidar dele e enriquece-lo como um espaço de partilha e comunidade, para assim podermos dar-nos aos outros. Pois que há-de dar quem nada tem?
Temos a obrigação de nos construir e de construirmos algo, nomeadamente até outros. Muitas vezes é o nosso cérebro que dita ou desdita a nossa felicidade. É nesses casos, que o conhecimento certo nos permite ter consciência que o pouco chega e que muitas vezes já somos felizes quando o tentamos ser. O caminho é aquilo que nos dá vida, muito para além do destino da viagem. É ele que nos enche e deve encher de felicidade. Viver toda a gente sabe, mas o que toda a gente quer é saber viver.
Pessoalmente, já ando em construção há 56 anos. Em viagem, já tive momentos de tumulto, mas também de serenidade. Em aprendizagem, os sobressaltos e erros não se podem contornar, assim como a construção de uma casa não pode começar pelo teto. Ferimos sem dar conta, para lá da consciência disso. A nossa própria consciência limita-nos face ao que é a percepção dos outros.
E por entre percepções alheias, ligamos amiúde à nossa história e pouco à das que se ouvem. Trilhamos caminho sozinhos, em que somos nós o protagonista da nossa vida, enquanto que por vezes os outros são meros soldados e figurantes na nossa história. É o flagelo de quem se encontra em construção. A cada dia que passa, afinamos a nossa casa esperando que os outros afinem também a deles.
Abraço amigo,

EDITORIAL Nº 673 – 15/11/2015

SR

Caro leitor,

O Homem ou o País. Desta volta salva-se o homem, quando o país de Homem precisa. Põe a fé toda em si mesmo e procura convencer todos que é a pessoa certa para o recado, levar o país a bom porto, para lá do Cabo da Boa Esperança. Alia-se ao adamastor e segue todo pimpão de vento em popa. Acredite quem quiser.
António Guterres demitiu-se. Durão Barroso demitiu-se. José Sócrates demitiu-se. E até Vítor Gaspar se demitiu do executivo da coligação. Por motivos bem distintos, mas todos o fizeram por necessidade política ou pessoal. Mas António Costa, este senhor, cisma em ser Primeiro Ministro. Reconhece a perda de legitimidade mas abdica da honra política para chegar ao palco. Diz que é desta. Contudo, Costa não gosta de partilhar ribaltas. Costa quer um governo seu. Um governo que, ainda que possa ser instável e quiça insustentável no longo-prazo, não deixará de ser seu.
Não tenho nada contra a opção que se formou. Tem o condão de construir um governo histórico e dar a oportunidade de governação a partidos que sempre estiveram à margem de a ter. Ainda assim, paira no ar um ambiente de desonestidade política. Não sendo fruto de ilegalidade, este governo não é constituído pelo partido mais votado nas legislativas. Não foi a votos nas eleições. Mas na altura, um argumento demagógico criou a premissa necessária à esquerda e a esta opção de governo: “Porque a grande maioria dos portugueses não votaram na coligação”. Foi desonesto. Seguiu-se um jogo de cadeiras, na festa de Costa. Foi uma competição de boas impressões, mas também um fingir fazer de vontadinhas. Muita coisa não esteve certa.
Mudaram-se os jogadores e o jogo é o mesmo. Mas o resultado não se sabe. Será bem diferente. Ora, estes jogadores nunca jogaram juntos. É como se Portugal estivesse em condições de experimentar, nesta altura em que outro campeonato já ia longo. Onde já se viu! Finalmente restituímos direitos, mas equilibrem-nos com os deveres! Não ouvi palavras de investimento, crescimento ou emprego, a não como de costume.
Ora vejamos: toda a gente gosta de peixe, mas uma mentalidade de pescador também se veio a desenhar nestes anos difíceis. Não nos esqueçamos portanto de ensinar Portugal a pescar.

Um abraço amigo,