Arquivo diário: 14 de Abril de 2023

EDITORIAL Nº 842 – 15/4/2023

Caro Leitor
Governo ou desgoverno
Há dois milhões de portugueses a ter de viver com 550 euros mês. Ora, isto, é o limiar da pobreza, embora oiçamos dizer há muitos anos que ninguém morre a comer pão e água. Não sou médico para saber se isto corresponde à verdade, ou não, mas, que não é justo, lá isso não é!
O ordenado mínimo nacional é de 760 euros, cerca de 676 euros líquido mensal.
Ora vejamos:
Vivendo no interior do País, tem que ter obrigatoriamente carro como meio de transporte, logo, tem que pagar o próprio veículo assim como, todas as despesas inerentes ao mesmo. Se tiver um trabalho à distância de 5Kms de casa, logo aqui tem que fazer 20Kms por dia ou tem que almoçar no restaurante, ou levar almoço, para fazer só 10kms dia. Se tiver um filho, mais 16kms dia, mais ou menos, já são 30kms x 30 dias = 90Kms mês. Números redondos 100kms mês X 10lts de combustível (média) 15 euros, mais 15 euros de despesas do carro, mais seguro e inspeção e mecânica, o que dá uma despesa de mais ou menos 125 euros mês no mínimo. Concluindo, sobram cerca de 550 euros, creio que estou a ser explicito.
Quem está no fundo de desemprego recebe 480 euros de rendimento mínimo garantido!
676 euros!!! Vale a pena trabalhar neste País?
Não existe quem queira trabalhar. As empresas têm falta de mão de obra. Pudera! Ganha mais quem está em casa do que quem trabalha. Poupam o corpo, não gastam em roupa e não são chateados pelo empresário. Vergonha de país.
A estatística diz que trabalhamos cinco para três que não fazem nada.
Apareça quem governe….
Abraço amigo,

SAIBA COMO É

É EMIGRANTE OU CIDADÃO ESTRANGEIRO, E QUER SABER SE PODE CIRCULAR COM O SEU VEÍCULO EM PORTUGAL?
Sabia que os veículos com matrícula estrangeira não podem permanecer em território nacional mais que 180 dias seguidos ou interpolados num ano civil?
Portanto, se é aposentado ou tem intenções de passar férias duradouras em Portugal e vai trazer o seu automóvel, saiba que não pode permanecer com ele em Portugal mais do que seis meses nem não poderá ter residência permanente no país.
Por exemplo, se entrar em território nacional em março de 2023 e permanecer até julho do mesmo ano (4 meses) ainda pode circular legalmente mais dois meses isento de impostos.
Caso pretenda trazer o veículo para o legalizar, beneficia, por ter sido emigrante, da isenção do imposto sobre os veículos (ISV).
No entanto, para que esta isenção seja concedida, é necessário reunir diversos documentos, de entre os quais comprovativos da vida quotidiana, que atestem a sua residência no país nos últimos seis meses, recibos de renda, faturas de água, luz, recibos de vencimento, etc.
Para além disso, são necessários outros documentos, como é o caso do certificado de conformidade europeu, que é obtido junto da marca onde o veículo foi comprado, documento comprovativo da aquisição do veículo (fatura no caso de comerciante, declaração de venda no caso de particular), documento equivalente ao documento único automóvel/livrete português e guia de transporte caso o veículo tenha vindo de reboque ou camião para Portugal.
Será importante ter em conta que se a viatura, tiver menos de seis meses de matrícula ou menos de seis mil quilómetros irá pagar Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), aquando da legalização do mesmo.
Sendo estas duas situações cumulativas, ou seja, para que não esteja abrangido pelo regime IVA, no momento da legalização, não poderá ter menos seis mil quilómetros nem menos de seis meses no país de origem.
Ainda no que respeita à isenção do ISV, é importante ter em consideração que, quando concedida a mesma, o beneficiário da isenção, e proprietário do veículo, não poderá onerar o mesmo no prazo de um ano a contar da atribuição do benefício, como também não poderá emprestar, alugar, entre outros, o veículo seja a familiar ou amigo dentro do mesmo prazo, caso o faça terá de pagar o imposto, de que se encontrava isento.
Importante ter em conta, que estes documentos e procedimentos, aplicam-se a viaturas, vindas de países da União Europeia.
Em caso de dúvida contacte um Solicitador.

DEIXEM OS JOVENS ESCOLHEREM A PROFISSÃO


Estava mergulhado em fofa poltrona cor de palha, assistindo a movimentada novela, daquelas que são produzidas para inculcarem nefastas ideologias e fomentar a malfadada Nova -Moral, quando assaltou-me um sono imperioso.
Enfastiado, peguei na “ Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires” de Frei Luís de Sousa, livro que repousava esquecido sobre o regaço, para possível releitura.
Abri-o ao acaso, folheei-o, e deparo com a seguinte texto, que despertou a indolência preguiceira:
“Dura jurisdição, por não dizer tirania, exercita hoje muitos pais, sobre as condições e natureza dos filhos. Em nascendo, já fazem a um clérigo, a outro frade, a outro soldado; de espreitar a inclinação e jeito que cada um tem para as cousas, não há tratar. Assim fica mal letrado o que fora bom sapateiro, e não é bom soldado o que fora um religioso - Lº1, Cap:II.
Esse parecer faz-me recordar, senhora, que visitava a casa de meu pai, que tendo dois filhos, logo lhes talhou o destino – um seria doutor; outro, padre.
Se o médico foi excelente clínico, o padre, não digo que fosse mau sacerdote, mas ordenou-se sem vocação. Duvido que fosse feliz.
Ouço, por vezes, mães asseverarem rijamente: “Quero que meu filho seja o que eu nunca fui!”, como se o filho não tenha o direito incontestável de escolher livremente a vocação e o destino.
Conheci, também, no Porto, costureirinha que casou com pequeno industrial. Eram pais de garotinha esperta e inteligente.
Certo dia alguém recomendou-lhe que, durante as férias escolares, colocasse a menina a trabalhar na empresa, para melhor conhecer a fabrica, que um dia seria sua.
Abespinhou-se indignada, declarando quase irada: “ Minha filha não tem necessidade de trabalhar. Será doutora!”
Cai bem aqui, igualmente, o que escutei quando era rapazote, a senhora de fartos bens: que a filha havia de casar com um médico, porque dinheiro já o tinha, faltava-lhe ter médico na família!…
No tempo que correm, frequentam a Universidade muitos jovens, porque seus pais exercem a tirania (para usar o termo de Frei Luís de Sousa,) para saciarem o prazer de terem filho doutor.
Aconselhem a criança, mostrem-lhe a vantagem de prosseguirem nos estudos, mas deixem-na escolher livremente a profissão. Caso contrário, teremos médicos que seriam excelentes advogados e professores que seriam ótimos agrónomos.

TEMPO SECO

Elogio ao Pessimismo
Nos últimos tempos tem-se falado muito do pessimismo dos portugueses, em relação ao relançamento robusto da nossa economia, de forma a abandonarmos a nossa persistente e incómoda posição de cauda da Europa.
Como pessimista contumaz que sou, vejo-me obrigado não só a defender esse pessimismo coletivo, que só peca por ser demasiado serôdio, como a minha visão cética da nossa vida, no contexto mundial.
Tal como acontece com o otimismo, há dois tipos de pessimismo: o ativo e o passivo. O último caracteriza-se pela aceitação fatal da adversidade, mas o primeiro implica uma luta para evitar que a mesma aconteça.
Considero-me um pessimista ativo, ou seja uma pessoa que pensa sempre que vai acontecer o pior e ativa os meios disponíveis para que não aconteça. Parece-me uma atitude mais saudável, que a dos otimista passivos, que cruzam os braços na esperança de que o futuro lhes seja favorável. O exemplo mais notório do otimismo passivo é António Costa, que confunde a realidade com os seus sonhos de grandeza ilimitada até ao limite máximo, e até que a desgraça lhe caia em cima e nos arraste a todos com ele.
A História está cheia de pessimistas que mudaram os acontecimentos e o rumo da História. Aí estão: Júlio César, Cromwell, Robespierre, Lenine e Churchill ao qual , até, de catastrofista apelidaram, pelo seu alerta insistente sobre as intenções beligerantes e hediondas de Hitler.
Também há muitos exemplos de otimistas que tentaram fazer frente à realidade. Napoleão parece-me o exemplo mais claro. O seu fracasso provocou a restauração da monarquia absolutista em França.
O principal perigo do otimismo é a sua crença imensurável no progresso. Rosseau, Locke e Hengell foram os três grandes culpados de terem difundido a perniciosa e ingénua ideia de uma evolução racional do mundo, do triunfo de uma ordem ideal sobre a realidade caótica. Mas, não é assim. Pretender que a etapa histórica em que vivemos seja uma fase superior, não deixa de ser uma suposição errada, porque mesmo com Internet e todas as facilidades que ela apresenta hoje, não superamos as muitas vantagens do agora verdadeiro, a tecnologia é apenas um meio, mas não um fim.
Ser otimista comporta uma perigosa confiança no futuro, que pode não acontecer e acarretar uma incorreta valorização das situações atuais. Ser pessimista supõe buscar a verdade por trás da aparência enganosa das coisas.
É muito mais fácil gozar a vida sendo pessimista que otimista, porque enquanto espera o mal o bem é sempre uma grata ajuda, ou uma espécie de dádiva inesperada.
O grande erro dos otimistas é não crer no azar. Mas, o azar existe e condiciona a nossa vida. O otimista é um determinista que crê numa imaginária harmonia universal da qual ele faz parte e isso não existe. O pessimista gravita sobre a dúvida. O otimista sobre a certeza. O primeiro possui uma atitude realista da nossa frágil existência, o segundo empurra-nos para ideias de uma certeza inexistente e absolutistas. Todavia, a experiência empírica demonstra, quase sempre, que o pior é o mais certo e o melhor o mais incerto.

Vergonha na Igreja Católica


Numa conjuntura particularmente turbulenta e incerta, agravada pelo clima de guerra na Ucrânia e ainda mal recuperada da crise pandémica, a Igreja Católica continua a somar mais polémicas, mas alguns dos seus dirigentes parece que não querem entender a gravidade dos factos.
Após décadas de encobrimento de casos de abusos sexuais cometidos dentro da Igreja Católica por elementos do clero, eis que surge finalmente o momento de se denunciar publicamente e encaminhar para a justiça todos os casos conhecidos.
As queixas sobre tais casos foram quase sempre recebidas pela hierarquia da Igreja Católica com ceticismo e desvalorização dos testemunhos, tendo mesmo, bispos a quem foram comunicados casos, argumentado que, não sendo o abuso sexual de menores um crime público, não eram obrigados a denunciá-los às autoridades civis, pelo que acabavam por ser, em vez disso, ignorados pelas autoridades canónicas.
Até mesmo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, católico assumido, viu-se obrigado em Outubro de 2022, a dizer que a fé em nada estava a toldar o seu juízo sobre as denúncias de abusos na Igreja. Foi o resultado de várias declarações polémicas sobre o caso, nomeadamente depois de afirmar que, na sua perspetiva, as 424 denúncias que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, podem “não ser um número particularmente elevado”, o que só reforça a opinião pessoal que o Presidente Marcelo devia falar menos e melhor! Bastava um só caso para ser vergonhoso, Sr. Presidente!
Bem mais assertivo tem sido o Papa Francisco referindo que “Quem minimiza o impacto desta história ou minimiza o perigo atual, desonra aqueles que tanto sofreram e engana a quem dizem servir. Analisar os casos de abusos sexuais na Igreja é um trabalho doloroso, mas necessário”, e alertou, que é fundamental que “as pessoas vítimas de abuso tenham formas claras e acessíveis de encontrar justiça”. “O abuso sexual por parte do clero e o seu encobrimento por parte dos bispos e superiores religiosos deixou uma marca indelével”, disse o Papa, defendendo que “os líderes da Igreja têm feito muito para enfrentar este mal e para evitar que se repita”.
Desta forma, o Papa Francisco finalizou dizendo que “O vosso trabalho (dos bispos) a favor da proteção dos mais vulneráveis é urgente e essencial”. E criticou quem “minimiza” as histórias das vítimas.
Tudo isso despertou em mim um sentimento de indignação, revolta e vergonha. Os problemas não se resolvem sozinhos, muitos menos estes problemas que duram à demasiado tempo e que mancham a reputação de todos, sobretudo quem sofreu os abusos e fica marcado para sempre.
Laborinho Lúcio e, aliás, toda a comissão independente de investigação aos abusos sexuais na Igreja têm tido uma atitude firme, clara e extremamente profissional. Afinal, é possível em Portugal. Gostava de acreditar na justiça portuguesa na resolução atempada destes casos mas o passado recente demonstra outra realidade.

lendas, historietas e vivências

ESTRADA DE PARALELOS
O Bairro da Estação surgiu naturalmente pelo movimento do Caminho de Ferro e os viajantes que o comboio passou a transportar. E que grande azáfama, desde as pessoas que vinham para a vila e arredores tratar dos diversos assuntos do seu dia a dia, ou a simples visita a familiares. A esse tempo a vila, aconchegando o seu casario no planalto, dava uma imagem de algum conforto pelos negócios que proporcionava ligados às diversas actividades – oficinas, serrações, armazéns de tecidos, lojas de produtos para apoio à agricultura - a principal área de produção nos arredores e criação de gados e seus recursos. Esta movimentação implementava ao longo da “histórica Estrada de Paralelos” uma dinâmica muito peculiar. Uma variedade de cidadãos e veículos que por sua vez também traziam ânimo ao pouco comércio que se instalou na borda desta via e que já referi anteriormente. A vida do Bairro também se desenvolvia de modo relativamente simples e um tanto amarrada à sua Estrada, já que todas as casas eram construídas ao ritmo do seu traçado. Os vizinhos eram mesmo vizinhos por todos os lados, para o bom e para o menos bom, já que por vezes- não muitas - surgiam problemas que alteravam os ânimos entre um ou outro. No entanto a harmonia, a interajuda e o divertimento eram o estímulo diário de todos os cidadãos. Se um adoecia a sério, logo os vizinhos se iam apresentando para ajudar ou confortar. Não foram poucas as vezes em que vizinhas se deslocavam a casa duma família onde havia alguém doente para apoiar na medicação, dar uma injecção, ou a refeição, enfim tudo o que fosse necessário para o equilíbrio das pessoas. Nem sempre a família podia estar próxima, noutros casos seria a eterna questão material. Mas esta proximidade dos Amigos Vizinhos era a segurança, o esteio da recuperação da saúde, ou apoio moral. Ao tempo não havia lares ou instituições que prestassem cuidados na própria casa e mesmo que houvesse, na maioria dos casos, não haveria modo de pagamento. Passaram-se algumas décadas sem alteração notória nas condições económicas da generalidade dos agregados familiares. Contudo, aqui nas proximidades, nunca ninguém ficou ao abandono. Em caso de uma situação de saúde se agravar aí começava uma corrida Estrada abaixo Estrada acima, a vizinhança estava sempre pronta para qualquer apoio. Quando um ou uma vizinha morria todos sentiam a sua ausência por largo tempo…Se me detenho nestas descrições é porque também sinto a ausência triste dos Meus familiares, das Minhas vizinhas…e vizinhos. E tudo decorria ao longo desta histórica ESTRADA DE PARALELOS. Por estas vivências, e muitas outras, dos cidadãos que a percorreram, ela merece ser preservada e restaurada com uma certa brevidade.

Velhos são os trapos, ou serão as ideias?


Numa sociedade cada vez mais púdica no palavreado, caracterizar uma pessoa como velha torna-se ofensivo, com argumentação ética e moral para definir, que essa mesma pessoa, é idosa! A delicadeza de ocultar que os idosos deste país, especialmente os que vivem no meio interior, têm limitações na sua autonomia física e mental, retratam a situação que passo a descrever: Um casal de idosos, sem filhos, com pouca proximidade com a família, vê-se obrigado a recorrer várias vezes aos serviços de saúde, devido a acidentes domésticos. Ela, com dificuldades na mobilidade, usa sempre uma muleta ou andarilho, ele, por sua vez, está constantemente a embater nas escadas ou a cair nos terrenos que lhe dão algum sustento alimentar. Ela, dona de casa, cuidadora dos dois, sofre várias quedas, uma até envolveu uma queimadura de 2ª grau na coxa, que limita, ainda mais, a sua autonomia…
A questão que levanto é esta: Que levantamento tem sido realizado, para identificar esta comunidade? Não surgem sorrindo nos cartazes publicitários, alusivos a turismo sénior, mas investiram muito da sua vida na aldeia, concelho, mantendo o parco comércio tradicional… tradicional, é serem olhados como pessoas rijas, que ao pedirem auxílio é revelar fraqueza perante os demais. Receosos de serem despojados das suas casas, ambiente conhecido durante décadas, e lançados para “hotéis” de permanência ambígua, partilhados com pessoas desconhecidas. Aliás, até o fato de terem uma pessoa a cuidar dos seus pertences, coloca muitas preocupações…O que antes era espontâneo, sendo um ritual familiar, estabelecendo uma convivência e encontros que favoreciam a partilha de afetos e valores, hoje em dia, os resultados são o isolamento e a insegurança!
Lembro-me, incrédula, de um idoso acamado, ficar horas infinitas a olhar para a parede do seu sombrio quarto, porque a filha – já reformada…- não queria ter de adaptar a sua própria casa. “Sabe, Srª Enfª, tenho lá o meu neto todos os dias, e era muito chato ter o meu pai lá, em minha casa! Para além da falta de tempo, tenho muitos tapetes e móveis. Acho que o lar é a melhor escolha!” Mais tarde foi para a antecâmara do lar, também conhecida por Unidade de Cuidados Continuados, onde recuperou peso, e melhorou visivelmente… Já a filha, “solidariamente”, ia visitar o pai todos os dias, permanecendo 3 horas ao seu lado a ver a televisão de programação de plástico, enquanto outros cuidavam do seu pai ao mesmo tempo.
Em Portugal, valoriza-se a criatividade burocrática para chegar à simplicidade que é: ser solidário, respeitar e responsabilizar-se com as pessoas mais vulneráveis.