Arquivo mensal: Junho 2023

TEMPO SECO

Portugal: país sui generis
Na minha vida nunca gostei de charlatões. Como herdeiros do 25 de Abril, temos o ônus de nos submeter ás ideias e ações, dos charlatões que surgiram nessa data e dos que já germinaram depois dela. Acho que como eu há muitos mais a julgar pela abundância de abstencionista que existem neste país.
Ao contrário dos que muitos pensam, a abstenção não é um conflito ocasional, de quem declina participar em atos eleitorais, por se sentir mal representado, por um ou outro partido político na área da sua ideologia. É um dilema mais complexo e enraizado no nosso país. É uma indiferença total por quem abomina o oportunismo, a corrupção e o nepotismo, e na política do nosso pais, infelizmente, é o que mais abunda, com liberdade absoluta, e em qualquer quadrante político.
Não só as mazelas atrás referidas prejudicam o nosso país, e afastam definitivamente os eleitores das urnas. Também os passeios, e outros gastos supérfluos e sem rigor, por parte dos nossos governantes, contribuem para a indiferença penalizadora dos mesmos. Não se pode pedir tanto sacrifício ao povo, quando os gestores da nossa infelicidade, passam o tempo em gaudérios dispendiosos, por países que pouca empatia por nós nutrem, se é que não, há da parte deles, uma latente animosidade.
São exemplo disso as comemorações do 10 de Junho, na África do Sul, onde existe, na realidade, uma comunidade portuguesa abrangente, mas que nutre por este país o mesmo sentimento que os abstencionistas aqui residentes. Marcelo Rebelo de Sousa, não deveria esquecer, na qualidade de Presidente da República, e de descendente de representantes, do tempo da velha senhora, nas ex-colónias portuguesas, que os emigrantes portugueses na África do Sul, foram, na sua maioria, refugiados de algumas das ex-colónias mais preponderantes do “tal ex-império português”. Foi gente que se viu forçada a abandonar as terras que amavam e abandonados, por alguns dos seus compatriotas, que os tomaram como malditos, e perseguidos e odiados pelos obesos ditadores abrileiros, marxistas-lenistas, que ainda hoje se julgam os donos disto tudo.
Se para reverem as carreiras dos docentes, e outros servidores do estado português, alegam falta de condições financeiras, porque não começar as poupanças por onde afetam menos a vida do cidadão comum? Comemorações balofas e para “inglês ver”, que somos os bons da fita, quando na realidade até sordidamente nos desprezam, não prestigiam ninguém, além de transformarem um ato que se quer nobre em verdadeiras palhaçadas, para alem do desperdício de dinheiros que fazem falta a quem trabalha neste país.
Será que a África do Sul, Angola ou Brasil, para não falar de outros países, algum dia virão a Portugal comemorar os seus dias nacionais? Claro que não! Porque têm um sentido de Estado, que os nossos governantes turistas, ainda não alcançaram. Como dizia Charles de Gaulle em “O Fio da Espada”: “o prestígio também se alcança através do recatamento”. Um bom conselho para os políticos de um país pobre, mas sempre em festa, como o nosso.

O 10 de Junho – Dia de Camões


No seu discurso na cerimónia militar do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que decorreu no Peso da Régua, Marcelo Rebelo de Sousa pegou na vocação universalista do país e na luta da região do Douro para se projetar e aproveitou para deixar alguns recados, numa altura em que a política portuguesa continua envolvida na polémica em torno do incidente no Ministério das Infraestruturas e no envolvimento do SIS na recuperação de um computador de um adjunto do ministro João Galamba.
O Presidente da República considerou ser necessário “cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda”, advertindo que, só se não se quiser, é que “Portugal não será eterno”. Eu acrescento que há muito que a “árvore” se encontra contaminada e urge mudar o “podador” sob o risco de não haver solução possível. Não deixa de ser lamentável andar sempre com este tipo de discurso de que é necessário mudar mas nada muda.
Há 11 anos, António Sampaio da Nóvoa foi Presidente das Comemorações do Dia de Portugal. No seu discurso afirmou que existem muitos “portugais” invisíveis no país. Muitos dos problemas que detetou em 2012 mantém-se, afirmou recentemente, lamentando que António Costa tenha perdido a oportunidade de se tornar no “grande estadista do Portugal democrático” para se limitar a ser “um chefe partidário”. Não se arrepende de ter apoiado o PS nas últimas legislativas mas sente-se “desiludido” com a incapacidade política deste governo para lidar, por exemplo, com a turbulência na educação, na saúde e na justiça.
António Sampaio não é o único socialista desiludido com a maioria absoluta de António Costa. Veja-se o que se passou na última Comissão Nacional do PS. Muito têm sido os que vão mostrando o seu descontentamento com o governo de António Costa, mesmo dentro do PS!
Estamos saudosistas de tempos idos, tempos em que os Portugueses eram o farol do mundo, tempos que o orgulho nos guiava, tempos em que Portugal dava nos mundos ao mundo, tempos em que havia governantes que eram verdadeiros estadistas e que tinham noção do sentido de estado. Mas a saudade não chega se não for acompanhada de ação, não sairemos do mesmo sítio, que é a cauda da Europa. Nestes dias, os políticos de Lisboa, adoram vir à província distribuir beijos e dar abraços, mas acabada a festa, retornam à capital e rapidamente se esquecem do resto do país que é o que temos de melhor em Portugal e que, na correria do dia-a-dia, nem valorizamos devidamente. Olhamos pouco para dentro, para nós próprios, para a nossa essência enquanto povo.
Por vezes sinto, como escreveu Fernando Pessoa no poema Mar Português da obra Mensagem, que falta mesmo cumprir-se Portugal!

“Quem te sagrou criou-te português,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.”

No dia em que celebramos a língua portuguesa, “Só Camões valeria uma Literatura inteira”, disse o romântico alemão Friedrich Schlegel…
Viva, então, Camões, Portugal e as Comunidades Portuguesas, muito embora a “vil tristeza” que paira nesta pátria, por vezes tão ingrata!

lendas, historietas e vivências

A ESTAÇÃO DOS CAMINHOS DE FERRO DE MANGUALDE
Muito havia a dizer deste local onde memórias nasceram desde há décadas e foram sendo ultrapassadas ou apagadas porque, daqueles que viveram os factos e conheceriam os lugares já poucos restam. Como nasceram estes verdadeiros documentos e mais uma infinidade de tantos outros que já se perderam no tempo e só voltarão ao conhecimento se entretanto alguém lhes manteve a vida através das palavras. É pois provável que só as pessoas de provecta idade ainda se possam dar ao prazer de deixar para o futuro a menção de alguns mais significativos. É com o passar dos anos, décadas, séculos ou milénios que tudo o foi e é criado pelo homem, se perdurar, ficará a fazer parte da História dos Povos. Para que tal aconteça é preciso que a palavra e se possível a imagem se tornem espólio do tempo que vai passando.
Então muito do espólio que desde o nascimento da Estação se foi erguendo neste local como imperativo exigido pela funcionalidade plena, já foi desaparecendo – o pavilhão do cais aonde se procedia à entrada e ao despacho de encomendas de maior volume trazidas ou levadas pelos comboios de mercadorias já há anos desapareceu por via da reformulação de todo o espaço e o acesso à entretanto aberta da Av. Conde D.Henrique. Foi a construção desta via muito necessária, sem dúvida, à fluidez do transito a partir de Mangualde para todo o território da beira Serra. Mas foi esta via a principal causa da degradação presente da nossa querida e memorável “estrada de paralelos”. Já não a escrevo com maiúsculas porque pertence a um passado tão esquecido ou desconhecido das autoridades autárquicas que prevejo que venha a ser abastardada. No entanto não devia. Pela década de 80 alguns moradores do bairro da Estação propuseram ao Executivo da época que esta estrada fosse restaurada mantendo-lhe as características, mas eliminando algumas das curvas mais fechadas e que o piso fosse corrigido onde houvesse mais afundamentos. “ Que não, porque era uma estrada turística (!?) “ Textual…Não se percebeu muito bem este conceito, porque… enfim… Agora o que nos parece é que este DOCUMENTO, ainda vivo, da história de Mangualde já tem os dias contados, tal como outros que deviam ser tratados com inteligência e cuidado.
No entanto as casinhas “caixas de sapatos” que a começam a adornar são já um mau agoiro. O futuro o dirá e já não vale a pena alimentarmos desgostos…

“Vai-me fazer um fato, Sôra Enfermeira?”


Desde que, a palavra obesidade surgiu de forma habitual no discurso diário, houve um esforço para realizar dados objetivos para avaliar esta epidemia. Desde a sua origem, à sua evolução e seu controle, tudo tem sido observado, medido e avaliado. O episódio que descrevo é muito comum em qualquer unidade de saúde. A enfermeira, em contexto de consulta individual, poderá ter a necessidade de medir o peso e a cintura (perímetro abdominal) do individuo, e por desconhecimento do motivo inicia-se uma cena, típica de teatro de revista:

  • Oh, Sr. Amaro, deixe-me ver a sua cintura! - ergue-se a enfermeira olhando para o ecrã do computador, pegando numa fita métrica, tão semelhante a uma modista ou costureira.
  • Vai-me fazer um fato, Sôra Enfermeira? – graceja, com uma expressão trocista.
  • Bem, Sr. Amaro, podia até ser um complemento para o meu salário… Mas, não! Estou a ver o volume da sua barriga. Quanto maior, maior o risco de ter problemas!
    A gordura pode ser localizada ou visceral (intra-abdominal). A primeira é incómoda, mas afeta mais a autoimagem, e localiza-se mais na zona da anca e coxa. Já a segunda, é mais prejudicial, porque localiza-se na cavidade abdominal e envolve órgãos, tais como, fígado, estomago, pâncreas, podendo atingir até o coração. Há um aumento do risco cardiovascular associado em homens com cintura maior de 94 cm e mulheres com cintura maior de 80 cm.
    Já é tão banal, o descrédito de informar acerca dos riscos dos excessos alimentares, que as enfermeiras adotam um comportamento de omitir os motivos de medir, avaliar, palpar, ouvir. As desculpas são muitas: “Já é de família” ou “Já passei fome quando era miúdo, agora se morrer, que morra farto” ou então “Então hei-de comer o quê?”
    É de senso comum, considerar uma relação entre o sedentarismo e o aumento da obesidade numa população, de fato, era raríssimo existir este problema há 40\50 anos, tirando alguns casos associados a problemas hormonais ou indivíduos que demonstravam a ostentação financeira através da gula… Este último fato ainda está muito enraizado nas mentes de alguns portugueses. Dar preferência ao peixe cozido, invés dos enchidos (a famosa chiça!), ou investir na fruta e pôr de lado o bolinho, vem sempre acompanhado com um abanar de cabeça. Todos sabemos que os conselhos não se oferecem, mas duvidar de quem está a ajudar é meio caminho andado, para o conselho passar a ser amargo.

SANFONINAS

Esta Babel em que estamos!
Chama-se Fonética a ciência que estuda os sons humanos. Linguística é, por seu turno, a forma de os exprimir por signos.
Admiramo-nos, de vez em quando, com a infinidade de línguas e dialectos – e respectivos signos estranhos – vigentes pelo nosso mundo. Conta a Bíblia, no livro de Génesis (11, 1-9), cujo inspirado autor também terá ficado pasmado ao verificar tamanha diversidade, que foi esse um castigo de Deus, por o Homem O ter querido alcançar, construindo imensa torre, a «torre de Babel». E que castigo! – podemos exclamar nós, hoje, ao sentirmos a dificuldade em nos entendermos nessa verdadeira babel.
Foi, em tempos, o Latim uma língua quase universal, em boa parte do mundo dito, então, “civilizado”. Houvera antes, diz-se, o indo-europeu. Em 1887, Ludwik Lejzer Zamenhof criou o esperanto, em jeito de aglutinação, para todos nos entendermos; o inglês aspira, agora, a ser esse elo privilegiado. O certo é que… as diferenças mantêm-se e até se corre sério risco de se acentuarem, haja em vista, por exemplo, o que se passa na vizinha Espanha, com a crescente afirmação do catalão, do basco, de galego, do valenciano… face ao castelhano adoptado há muito como língua oficial.
Vêm estas considerações a propósito das bem oportunas crónicas «Mais linguagem à moda antiga», inseridas por João Lourenço Roque no seu mais recente livro Digressões Interiores 3 (Palimage, Coimbra, 2021). Mostra João Lourenço Roque com inúmeros exemplos como é que a população da sua zona beirã (freguesia de Sarzedas, concelho de Castelo Branco) se exprime no quotidiano, Há expressões e palavras próprias; mas há, sobretudo, uma forma própria de as pronunciar: o som ar final transforma-se em er – escuter (por escutar), esbarrguer-se (por esbarregar-se)…
Vale a pena sorrirmos com uma das pitorescas frases que cita (p. 34) e que só pronunciada em voz alta se logra compreender:
«Antontem andava a labrar com os bezerros, espindurei a marenda numa carrasqueira baixa, quando dei pela trilha um cão esfrangalhou-me a bolsa toda, comeu-me o conduto e abalou com o pão nos dentes».

CONSULTÓRIO

SUPLEMENTOS ALIMENTARES: 4 GRANDES ERROS A EVITAR
O mercado dos suplementos alimentares é muito grande. Em diferentes períodos da nossa vida, e em função de situações particulares, somos tentados a recorrer a eles. Tomamos vitaminas, sais minerais e outros oligoelementos para reencontrarmos a boa forma e nos sentirmos melhor.
No entanto é preciso tomar atenção, pois há situações de conflito entre os suplementos alimentares e aquilo que comemos ou tomamos.
Suplementos alimentares e medicamentos nem sempre ligam certo!
Alguns princípios activos presentes nos alimentos (sumo de toranja, cafeína, chá, crucíferas) podem interferir com alguns medicamentos: eficácia diminuída ou, inversamente, aumentada, aumentos dos efeitos secundários, etc.
É o caso de alguns antibióticos, calmantes, antidepressivos ou anticoagulantes como os anti-vitamina K, cuja eficácia diminui com o aumento de consumo de crucíferas (brócolos, couve-flor) pois estes legumes são ricos em vitamina K.
O mesmo tipo de problema pode surgir com um suplemento alimentar. Os alimentos e os suplementos alimentares a evitar, quando de um tratamento medicamentoso, devem ser indicados pelo médico e devem estar claramente indicados na bula que acompanha o medicamento. Se não houver essa indicação, e por uma questão de precaução, deve existir um intervalo de uma ou duas horas entre o consumo alimentar e a tomada do medicamento.
Suplementos alimentares e alimentação desequilibrada: atenção aos excessos!
Alguns desequilíbrios alimentares são pouco compatíveis com os suplementos alimentares. Trata-se, essencialmente, de regimes alimentares desequilibrados pelos excessos: comem-se determinados alimentos em demasia, enquanto outras categorias alimentares ficam no esquecimento, uma suplementação pode ter um efeito positivo sobre uma determinada carência orgânica, mas ao mesmo tempo, pode provocar alterações que contrariam o seu efeito benéfico.
Antes de tomar um suplemento convém analisar a sua alimentação e reajustá-la, se necessário, para evitar o risco de uma suplementação provocar novas perturbações, em vez de atenuar as que pré-existiam.
Não se devem associar diferentes suplementos alimentares!
A maior parte dos suplementos alimentares são “cocktails” de vitaminas, minerais ou oligoelementos reivindicando diferentes tipos de efeitos: anti-stress, anti-envelhecimento, memória, potência sexual, etc.
Por vezes, a tentação em associá-los é forte, o que é um erro porque eles contêm, muitas vezes, algumas vitaminas e minerais em comum, o que aumenta o risco de sobredosagem. É preferível, por isso, não acumular os produtos e, em caso de dúvida, perguntar ao seu médico ou ao farmacêutico.
Não tomar suplementos alimentares durante muito tempo!
É fortemente desaconselhado comprometer-se com uma suplementação durante tempo prolongado sem uma vigilância mínima ou sem acordo médico.
Tomar uma suplementação inadaptada, a longo prazo, pode ter repercussões variadas. É preferível tomar os suplementos alimentares sob a forma de cura, durante 10, 20 ou 30 dias, de acordo com os objectivos a atingir.
Em conclusão
É preferível, antes de iniciar uma suplementação alimentar, pedir conselho ao seu médico.
E nunca é demais lembrar que uma alimentação variada e equilibrada contém todas as vitaminas e minerais necessários ao bom funcionamento do organismo.

Marchas Populares voltam a animar Mangualde


Gastronomia típica dos Santos Populares, música e muita animação
Na noite de 25 de junho, as ruas mangualdenses vão, mais uma vez, encher-se de cor, música e muita animação com as tradicionais Marchas Populares. Pelas 21h30, os grupos saem em desfile do Largo do Rossio até à rua 1º de Maio (paragem de autocarros). A iniciativa é organizada pela Câmara Municipal de Mangualde.
As coreografias que vão assinalar esta época de Santos Populares vão ser protagonizadas pelas Marchas Populares locais: Marcha Popular de Quintela de Azurara, Marcha Popular da Associação Mangualde Azurara, Marcha Popular de Santiago e Póvoa; Marcha ConVida da União das Freguesias de Moimenta de Maceira Dão e Lobelhe do Mato; e Marcha Popular “Alcafache 2023”.
A noite terá ainda a gastronomia típica dos Santos Populares, com as Tasquinhas Típicas no Largo do Rossio e na Rua 1º de Maio e muita animação.

LOBELHE DO MATO REALIZOU II FEIRA MEDIEVAL

Nos passados dias 9, 10 e 11 de junho, a localidade de Lobelhe do Mato, recuou ao Século XII, com a realização da segunda edição da Feira Medieval.
Foram mais de uma centena de pessoas que trajadas à época, desfilaram pelas ruas da localidade encenando a Idade Média, participando da Feira, dos jogos e animações, contribuindo para as delicias das centenas de visitantes que naqueles dias se deslocaram a Lobelhe do Mato.
O facto de este ano, estarem já melhor preparados e a grande divulgação que a Feira teve contribuiu para que ao certame acorressem pessoas de vários pontos do país como Porto, Lisboa, Chaves, Guarda, que, em conjunto com os habitantes de Lobelhe deram vida às 42 barracas existentes.
Animação, Teatro de Rua, Musica, aves, carrossel, jogos de criança e tantas outras coisas, contribuiram para engrandecer este certame de 2023.

ANO LETIVO 22/23 CHEGA AO FIM

Chegou ao fim o ano letivo 2022/2023.
Este ano letivo, fica marcado pelo normal funcionamento pós pandemia, pela sua divisão em semestres (neste agrupamento) e também pela saída de Agnelo Figueiredo, depois de 35 anos, do cargo de Diretor do Agrupamento de Escolas de Mangualde.
Para sabermos um pouco mais sobre todas estas questões, Renascimento falou com Agnelo Figueiredo

  • Sr. Engº como decorreu este ano letivo, tendo em conta que foi o retomar da normalidade pós pandemia e, porque foi também a primeira vez que o ano letivo foi dividido em semestres?
    Pode dizer-se que o ano decorreu de forma tranquila e previsível, embora pudesse ter corrido muito melhor. Todavia, para que tal acontecesse, o ministro da Educação deveria ter adotado uma diferente política no que toca à dotação de professores de cada escola. De facto, se nos tivessem alocado mais professores, sobretudo do 1.º Ciclo, teríamos feito muito melhor. Basta dizer que começámos o ano sem professores em Moimenta do Dão e, durante todo o ano, sempre nos faltaram professores aqui e acolá, o que causou problemas por deficiência de compreensão por parte de alguns pais, já que colocaram o ónus na direção da escola em vez da política do governo. De resto, avisei para este constrangimento logo na cerimónia de abertura do ano. Deviam ter ouvido.
    Quanto à organização em semestres, parece-me que não irá prosseguir. Pessoalmente, julgo que é uma medida positiva, uma vez que dá mais tempo para o ensino e a aprendizagem, espaçando mais os momentos de avaliação formal. O ano fica mais calmo. Para os professores, também, já que deixam de ter uma maratona de reuniões em simultâneo com as aulas. Contudo, a avaliação da medida, que a escola já fez, mostrou que a maioria dos professores prefere o sistema clássico dos trimestres. Também os alunos se mostram com a mesma opinião, mas aí com fundamento, uma vez que, por falta de experiência da escola – foi o primeiro ano – os alunos suportaram uma estopada de testes logo nas duas semanas após as férias de Natal, o que foi péssimo.
    Assim, julgo que a escola irá voltar aos 3 períodos letivos.
  • Como avalia a escola e os alunos, no antes pandemia e pós pandemia? Acha que existem muitas dificuldades resultantes desse período?
    A pandemia foi devastadora para a escola. Ou melhor, o que foi devastador foi o exagerado confinamento geral que os políticos decretaram, e não propriamente a pandemia. Esse longo confinamento levou-nos para o ensino a distância. Ora, o ensino a distância funciona bem para alunos com maturidade. Nós temos, há seis anos, ensino secundário a distância, para adultos, e funciona muito bem. Mas é absolutamente imbecil pretender que uma criança aprenda a ler e escrever a distância. Não aprende. Aqueles que têm a sorte de ter pais preparados e disponíveis, ainda vão fazendo aquisições, mas a maioria não aprende nada. E não estou a restringir-me ao 1.º Ciclo. O mesmo se passa com a generalidade dos alunos, de todos os anos, embora vá melhorando com a idade e a maturidade.
    Em suma, foram 2 anos perdidos.
    O problema é que os alunos passaram de ano, e passaram com altas classificações, isto é, aprenderam muito pouco, mas tiveram altas notas. Isto acabou por convencê-los de que não é preciso trabalho, esforço e dedicação, o que ainda foi pior.
    Claro que pusemos em práticas programas de recuperação, com aulas suplementares, sobretudo a Português e Matemática, mas, mesmo assim, os nossos alunos, globalmente, estão muito abaixo do patamar em que deviam estar.
    A esta distância, entendo que o confinamento deveria ter implicado a repetição do ano para todos os alunos. Demoravam mais um ano a concluir a escolaridade, mas não perdiam aprendizagens, e o prejuízo relativo era nulo. Teria sido muito mais eficaz, mas seria necessária uma coragem política que os nossos governantes não têm.
  • E a nível do aproveitamento? No geral como está o Agrupamento de Escolas de Mangualde?
    Importa distinguir aprendizagens de classificações. Os professores, genericamente, são unânimes quando verbalizam o atraso na aprendizagem dos alunos. Por essa razão, não podem avançar no currículo ao ritmo previsto. Contudo, a avaliação tem de ter em conta o que se ensinou e não o que deveria ter sido ensinado. Daí o facto de as classificações não terem baixado. De todo o modo, não se pode comparar um 18 de agora com um 18 de há 4 anos.
  • Sr. Engº uma questão que se torna inevitável. No próximo mês terminará o último mandato como Diretor das Escolas de Mangualde. Depois de 35 anos qual o sentimento que fica?
    Sim, foram 35 anos ao serviço dos Mangualdenses na direção das escolas.
    Neste momento do despedimento, fico dividido entre um sentimento de infelicidade e uma grande serenidade.
    Infeliz, porque, ao longo dos anos, trabalhei com vários presidentes de câmara - Mário Videira Lopes, Soares Marques, João Azevedo – sem que houvesse intromissões da Câmara ou partidarização da escola. E foi preciso chegar o Marco Almeida para que este salutar relacionamento acabasse. Nunca pensei que obsessão do Marco em controlar todas as organizações do concelho atingisse o nível paroxístico que se viu. De facto, não houve qualquer um dos 21 elementos do Conselho Geral que não tivesse sido abordado, pressionado, chantageado, pessoalmente ou através de homens e mulheres de mão, no sentido de me despedir. E, desses 21, houve dois que me deixaram especial mágoa: o Rui Costa, que durante tantos anos requisitei para que ficasse em Mangualde em vez de ficar no Algarve, (mais tarde fiz o mesmo à mulher), que agora retribuiu com uma ingratidão sem vergonha; a Cristina Matos, que foi uma grande amiga desde a infância, mas que se deixou manietar pela pressão pelo partido, vindo a conduzir o processo de forma a permitir a consumação do golpe da ACAB, ou seja, trocou a amizade pelo partido. Foi muito triste. Com tudo isto, a escola, que sempre se manteve suprapartidária, privilegiando a competência, veio a transformar-se numa arena política, onde o que conta é o cartão de militante. Julgo que o Marco Almeida pretende vir a ter na escola uma espécie de capataz, a quem dará ordens, como se fosse ao encarregado do estaleiro da câmara.

“A esta distância, entendo que o confinamento deveria ter implicado a repetição do ano para todos os alunos.”

Por outro lado, saio com uma grande tranquilidade, uma vez que faço um balanço francamente positivo de tudo o que consegui para a escola e para Mangualde, ao longo dos anos. Deixo um legado de uma escola organizada e focada no que é essencial: os alunos, as suas aprendizagens e os seus resultados. Mas também uma escola que equilibra a sua função com as necessidades individuais dos professores, dos funcionários e das famílias, de modo harmonioso e natural. Uma escola que se cota entre as melhores do distrito, no que tange a resultados e a práticas. Uma escola que inova de modo responsável e intencional, vindo a ser seguida pelas suas congéneres de outros concelhos; são muitos os diretores que nos visitam e nos perguntam como fazemos isto e aquilo, o que é indiscutível sinal de vitalidade.
Integrando a missão da escola, hoje temos uma Classe de Ginástica vastamente premiada, com a devida vénia à professora Paula Cunha, bem como uma pujante Orquestra Juvenil, para além da sede nacional do Ensino Recorrente à Distância e de um Centro Qualifica. Nestes 35 anos, a escola fez um percurso sempre em crescendo e está melhor do que nunca. Hoje, a escola é a organização que mais projeta o concelho de Mangualde além-fronteiras, muito acima do futebol e até da feira.
Portanto, não fui despedido por ter feito algo de errado na escola: não dei prejuízo, não fiz negócios ruinosos, não tenho de pagar indemnizações, não dei avenças a filhos de amigos, e não descurei a formação dos alunos. Fui despedido por razões políticas e não por alguma irregularidade ou incompetência, o que me dá um grande sentimento de tranquilidade.

  • Uma mensagem ou algo que julgue pertinente e queira deixar neste momento
    Tenho 48 anos de trabalho na educação. Destes, tenho 25 anos em acumulação na fundação e desenvolvimento da Desinel. Fui deputado municipal e vereador. Fui membro de órgãos sociais de uma série de organizações mangualdenses. Isto é, dediquei a minha vida a fazer crescer e engrandecer a nossa terra.
    Mas hoje não se pode viver em Mangualde. O poder político é asfixiante. Atropela todos os que têm pensamento próprio e o expressam publicamente. E estes, por medo de represálias, acabam por se submeter, em vez de se revoltar.
    Por isso, se a minha casa tivesse rodas, levava-a para outro lado mais sadio. Ainda assim, se a conseguir vender, sairei de Mangualde.
    É este o conselho que deixo a todos.