Arquivo diário: 1 de Abril de 2021

EDITORIAL Nº 796 – 1/4/2021

Na Edição de hoje publicamos duas entrevistas.
Uma com a Senhora Secretária de Estado do Turismo, Engenheira Rita Marques e outra com a Senhora Dr.ª Maria João Fonseca, Directora da Biblioteca Municipal de Mangualde.
Tudo à volta do Turismo e da Cultura do nosso País, elementos fundamentais para a sua recuperação e desenvolvimento futuro.
Cultura, conceito amplo que inclui as tadições, as crenças e os costumes de um povo de uma certa região.
Sem cultura, não havia Humanidade, nem progresso!
Não há Culturas superiores a outras culturas. O que há são Culturas diferentes.
Há uma Cultura dita popular e outra chamada de erudita. A primeira relaciona-se com as tradições e os saberes. A segunda é fruto da pesquisa e do estudo.
A popular é expontânea, orgânica. A erudita está ligada aos equipamentos, museus e bibliotecas.
A Biblioteca, cujo nome vem do grego, significa depósito de livros. Mas, é muito mais que isso. São locais de leitura, de consulta e de estudo. E tem a função de preservar, cuidar da manutenção e catalogar as obras para que sejam fácilmente consultadas.
As Bibliotecas, as grandes Bibliotecas do Mundo não são outra coisa que grandes Templos da Sabedoria. E existem desde que o Homem aprendeu a escrever.
E ainda há outra Cultura, a material, do Património construído.
A Cultura popular é formada pelos elementos intangíveis ( saberes, tradições, hábitos e costumes) transmitida de geração em geração pelas lendas, danças e outras manifestações populares. E não é imóvel, estática, mas evolui de geração, em geração.
A Cultura é uma forte componente do desenvolvimento económico de um País, base do seu crescimento.
Turismo e Cultura que estão intimamente ligados.
No caso do Turismo, não havia Turismo sem Cultura!
Podemos considerar mesmo a Economia da Cultura que é estratégica e que gere produtos com alto valor acrescentado.
Por isso a necessidade de políticas culturais. Curioso que o termo “cultura” vem do latim. Mas, foi em França que tomou o significado de cuidar da terra, cultivá-la. Termo que é usado entre o nosso povo. Mas a Cultura no sentido usual não é outra coisa que o cultivo, a educação do espírito.
É a Cultura que determina a separação do Homem dos outros seres. A Cultura é a Civilização, na sua dimensão colectiva e que se forma ao longo de gerações.
Não há sociedade estática, nem histórias imóveis. Tudo está em constante mutação, tendo como limite o bem estar dos indivíduos.
Devemos dar mais atenção à nossa Cultura. Preservá-la, transmiti-la. E isso compete prioritáriamente ao Estado e às Autarquias.

IMAGINANDO

Parte 92
 O Ego – Parte 2
 Dando continuidade ao texto anterior e já existindo a capacidade de domínio sobre o Ego, focalizemos a criatividade.
E o que vamos descobrir?
Que os outros são nosso espelho, aquele espelho que nos podemos ver a nós próprios, e que Tudo o que existe é uma Manifestação da Mente Cósmica, que normalmente chamamos de DEUS
Começamos a perceber que entre o que realmente somos (Multidimensionais), e a matéria (energia condensada), há um grande nevoeiro, em que o sonho é o nevoeiro que se revê em todos, porque desconhecemos nossa verdadeira essência, ou seja:
Eu sou o espelho enevoado vendo-me a mim próprio em vós , embora não nos reconheçamos devido a este mesmo nevoeiro entre nós, aquele nevoeiro que é o Sonho, e o espelho que somos nós os sonhadores.
Todos temos a capacidade de aprender a sonhar ensinados por quem nasceu antes de nós, porque também aprenderam assim e por estarmos numa Sociedade em que todos somos experimentadores como acima referimos. Já e a partir de bébé, entramos num conceito de vivência que mais tarde uma maioria começa a perceber que não é aquilo que quer.
Por isso devemos alcançar uma certa capacidade que há em nós:
A de nos focarmos naquilo que queremos ver, e isso chama-se Atenção.
Mas cuidado:
Quando prestamos atenção a um professor, pai, mãe ou pastor, que tentam captar a “tua atenção” impondo seus princípios, e embora contrariado aceitas seguir o caminho que eles querem, não estás a ser tu próprio mas sim autómato, porque teu sonho exterior te manipula para aquilo que querem que tu acredites, usando a língua que falas, que é o código para todos nos comunicarmos e nos compreendermos, aceitando tudo aquilo como “verdades”.
Como não escolheste falar aquela língua, seguir a religião que te querem impôr, nem tão pouco escolheste o teu nome, dirige tua atenção para o teu sonho interior, o verdadeiro, o que te dá felicidade, o que te faz seres tu genuino, o ser multidimensional, buscando em ti toda a capacidade de mover montanhas.
Não finjas ser diferente só para agradar aos outros, porque parece bem. Acabamos por nos tornarmos uma outra pessoa e não nós verdadeiros. Tem a coragem de amorosamente dizer “não” e embora compreendas, afirma não ser aquele o teu caminho. Quando nos encontramos em verdadeiro estado de harmonia, tudo o que possam dizer a nosso respeito, não tem a ver conosco, sim com o outro.
Nunca esqueçam:
Todas as palavras ou atitudes inconvenientes que nos dirijam, não são nossas emoções, mas sim de quem as projeta. Só somos se acreditarmos naquelas afirmações.
Quando começamos a dominar nossos pensamentos, nossa atenção apenas se está expressando no momento presente. Assim a consciência tem a capacidade causal de transformar as ondas de possibilidades em partículas “reais”, que chamamos de “Causação Descendente”. No entanto um alerta: Essa escolha tem que ser feita no momento presente, senão o que está a acontecer são partes de recordações do passado, ou projeções num futuro, eles são contínuos.
Dentro de cada um de nós há “um potencial probabilístico”. Transformemos esse potencial probabilístico em “realidade”:
Basta desejarmos focando a atenção, e ela nos leva à intuição.
Quando somos criativos escolhemos naquele instante, desafiando no momento transcender ao condicionamento do Ego.
Às vezes isso requer grande paciência, porque há um trabalho no Inconsciente, que é a focalização e determinação para aceitação. Temos que insistir e dar um certo tempo.
Repare o Leitor, que quando atinge este patamar, começa a ver o seu mundo numa perspectiva diferente. O que pretende para o seu dia a dia, já não é aquele objeto rudimentar para colocar como adorno numa mesa ou secretária ou outros que o obrigam a um consumismo desenfreado condicionado pelo seu Ego, mas sim dirigir a sua consciência para algo muito superior.
Começa a sentir “SER” e não “ter”.
O seu objetivo irá potencializar suas escolhas para atingir a felicidade interior. Utilizará apenas objetos estritamente necessários para sua própria evolução.
Tem já uma visão do seu Céu na Terra.
Continua

Telemedicina, uma realidade forçada!


Viver em Lisboa, Porto ou Coimbra confere um beneficio que qualquer habitante em outra região reconhece: acesso a cuidados médicos especializados. A diferente distribuição de cuidados médicos especializados em Portugal é de tal forma evidente, que há 20 anos atrás implementou-se um grupo de trabalho - hoje em dia com os estrangeirismos isto seria traduzido por Task Force!- para desenvolver a Telemedicina. Resumidamente, é a utilização de tecnologias de informação e comunicação pelos profissionais de saúde para realizar consultas à distância, que podem ser com os utentes e os profissionais de saúde ou até entre profissionais de saúde para esclarecimento de casos clínicos. O objetivo principal seria fornecer mais acesso de cuidados de saúde a quem está geograficamente isolado, adquirindo um equilíbrio na distribuição da utilização das especialidades médicas e, por conseguinte, um menor gasto de tempo nas deslocações. Isto significa que houve uma distribuição de equipamento informático para realização de videoconferências entre o hospital e um local estipulado pelo agrupamento de centros de saúde. Isto significa que as consultas à distância sempre foram uma realidade na gestão da saúde desde há 2 décadas em Portugal, em que o médico que observa o utente poderia recorrer ao colega especialista dos grandes centros urbanos para clarificação do diagnóstico e inicio mais precoce de tratamento adequado. E de fato isso aconteceu, de 160 equipamentos fornecidos apenas 76 foram consideradas ativos, segundo Matos et al.,(2014), Telemedicina em Portugal. Onde Estamos, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. A questão que se coloca é: porquê que existem mais de 80 equipamentos que não foram utilizados
Numa altura em que trabalhei num hospital em Lisboa, esse equipamento estava cuidadosamente guardado no armazém, porque “era caro” e “ninguém sabia utiliza-lo”! Ora aí está o foco de estar a redigir este texto: podem fazer grupos de trabalho/ Task Forces, escolher ou nomear uma centena de indivíduos para pertencer a essa elite, mas o importante é formar e informar quem está no terreno! A começar pela valorização dos intervenientes, profissionais de saúde e utentes, porque qual o mérito de falar com alguém por telefone, ecrã de telemóvel ou afins se não foi clarificado como lidar com o equipamento e qual o ganho que existe em realizar consultas à distância! A falta de confiança da informação veiculada desta forma é tão visível, que a maioria dos utentes que têm consultas médicas de especialidade hospitalar via telefónica, dirigem-se aos cuidados de saúde primários validar\ confirmar o que escutaram! Pois é… “Colocar a carroça à frente dos bois”, exige criatividade com previsão de muitos coices e dissabores!

REFLEXÕES

Património cultural (20)
Ruinas romanas da quinta da Raposeira
Numa próxima reflexão voltarei aos trabalhos no campo arqueológico, porquanto há ainda muita matéria em análise para dar a conhecer. Vou por agora remexer na memória de acontecimentos que interferiram em toda a área denominada“citânia”. São pontos de vista que não resultam apenas do conhecimento de alguns factos históricos, que não os há em abundância, mas sobretudo pela reflexão sobre evidências que se foram acumulando através da observância in loco. Pesquisas até 1985, não foram mais que as de 1889, e as muito escassas aquando de um pequeno trabalho que em 1966 me foi pedido na disciplina de História de Arte. A ocupação romana neste local naquela longínqua época histórica antes de Cristo até ao fim do Império Romano, localizada que foi no sopé do monte teria de ter defesas convenientes contra os invasores sempre no horizonte. Essas defesas seriam segundo a lógica grandes muros, muralhas de considerável altura como poderemos observar em Conímbriga tendo sido esta também uma cidade plana. Porém, não se encontra aqui por todo o território que já fui delineando, uma única evidência de que tal defesa existisse. Nem grandes pedras, nem traços de portas de acesso, nem pilares, nem colunas…nada. Muralhado existiria o já referido castro no cimo do monte, (uma citânia, talvez como a de Sanfins, de Briteiros ou outras assim designadas pelos investigadores do século XIX ) e sob o domínio romano ter-se-iam consolidado essas defesas. Lá poderemos ver ainda um curtíssimo pano de pedras almofadas características, o único vestígio que resta da sua presença lá no alto.
Voltemos de novo à planura do sopé, onde na realidade teria havido um extenso aglomerado populacional sob o domínio romano ao longo de, pelo menos, quatro séculos se considerarmos todos os testemunhos (digamos, vestígios materiais) comprovadamente do séc. I a.C. até ao séc. IV d.C. Quais foram então esses testemunhos? Iremos a devido tempo enumerar os mais significativos…
…Situemo-nos agora na década de 1990, já com um acordo firmado entre o IPPAR e a Câmara Municipal para protecção da zona suspeita de ocupação criando-se normas a seguir para qualquer futura remoção profunda de terras em toda a superfície já assinalada por ponteado no Levantamento Topográfico. Assim, qualquer obra nessa zona ficaria sujeita a sondagens prévias. E isto queria dizer o quê? Que para a abertura de poços ou valas para qualquer tipo de obras fossem casas, armazéns, ou outras, teria o interessado de proporcionar as condições para que um arqueólogo pudesse avaliar o sub solo antecipadamente. Esta decisão não teria sido do agrado dos interessados, porém, foi fundamental para se ficar com a cobertura real dos vestígios na área de interesse arqueológico. Tudo o que fica exposto serve também para algumas das pessoas que a esse tempo se sentiram algo afectadas possam entender melhor a razão de todas aquelas acções. E delas daremos notícia.
Março 2021

MONTE DA SENHORA DO CASTELO – UMA BÔLHA DE AMOR


( continuação do numero anterior ) 
Maria Rosa era a imagem do sonho e do mistério , espelho de uma paisagem radiosa cravejada de lumes e de cores . 

  • Eu o acompanharei !!..quero mostrar-lhe umas coisas lindas .. 
  • Lá no cimo enquanto as ovelhas sossegam podemos visitar as capelas das escadinhas da Senhora do Castelo .. Tenho por ela uma grande devoção . Por caminhos estreitos e veredas acidentadas , pastor e pastora guiaram seus rebanhos com muita mestria , que agora eram um só . O céu marmóreo cinzento aos poucos e ao longe por cima do cume do monte começa a colorir-se de tons flamejantes com o clarear do dia . Ouvem-se os primeiros cantos dos galos e o latir dos cães ao longe nos quinteiros da aldeia dos Passos. Os pássaros animam a natureza que desperta ensonada ainda com seus chilreios de louvor a Deus por mais um dia e mais longe um peneireiro sobrevoa o cimo do monte e repentinamente num sôfrego vôo vertiginoso , avistando a presa apetecida , voa em direção ao solo quando o pastor e a pastora , já se encontram junto das capelinhas . Deitaram-se ao comprido na erva , fecharam os olhos quentes e sentiram o corpo deitado na realidade de uma tarde agreste que se espraiava numa onda de sentimento . A sua alma de pastores conhecia o vento o sol e as suas vidas eram guiadas pela mão das estações no infinito silêncio da montanha , toda a paz da natureza se tinha sentado ao seu lado . Zé das Trindades sentou-se na erva ainda com gotas de orvalho tremeluzindo onde o sol brilhava dentro delas , ao lado de Maria Rosa . Tirou do bornal a sua velha flauta de cana e com um sopro de paixão começou a dedilhá-la …e cantou num tom cor de terra e penedia , num doce canto de alma que soava no coração : 
    Toda a vida fui pastor 
    Toda a vida guardei gado  
    Já tenho um nódoa no peito 
    De me encostar ao cajado  
  • Vocemecê gostou Maria Rosa ? !!…( perguntou o Zé com uma voz de suspiros leves e brandos de avezinha a expiar ).
    ( continua no próximo número ) 

SANFONINAS

O mistério da mina-galeria
Aquelas entradas escusas, meio escondidas por entre a vegetação, despertam a curiosidade, acicatam a imaginação. Quantos de nós não recordamos idas à socapa da autoridade paternal para aquela caverna?! Que estaria lá dentro? Só morcegos pendurados? Algum tesouro? Recordo os olhos iluminados dos meus netos quando lhes propus entrarem comigo nas «misteriosas galerias» (disse-lhes eu) da Quinta da Regaleira, em Sintra! E, em moço, como eu gostava de espiolhar tudo o que, por essa Serra de Sintra, parecia escondido atrás das penedias!…
Não me admiro, pois, que a mina-galeria da Quinta da Soenga bailasse amiúde no pensamento de José Manuel Azevedo e Silva. E foi esperando, esperando, até que não resistiu. Sabia ele que o Canto tivera judiaria; mas judiaria sem sinagoga é como pão sem fermento! «Os topónimos Canto e Mortórios instalara no nosso espírito a hipótese, a forte probabilidade, quase-certeza, de que a sinagoga estava na mina-galeria» (p. 9).
Assim se explica a razão da escolha da capa apresentada na crónica do passado dia 1: uma luz ao fundo de escuro túnel! Azevedo e Silva entrou na mina, interpretou os «desenhos de simbologia judaica gravados na rocha granítica» e logo pensou que deveria trazer toda essa realidade «à superfície com a ilustração fotográfica».
O seu livro «A Judiaria do Canto, Tibaldinho, Mangualde – Um caso único em Portugal e no mundo» vale, pois, por essa ‘reportagem’ muito bem acompanhada por outras fotografias deveras elucidativas (capítulo III), pelo texto explicativo e seus anexos.
Não quis deixar de, a princípio, mormente para os seus compatrícios, gizar a traços largos o que foi a odisseia judaica nas terras peninsulares, a necessidade de às ocultas – aqui, concretamente, nas entranhas da terra – praticarem as suas devoções, como os antigos cristãos haviam tido necessidade de fazer nas catacumbas de Roma.
O I capítulo trata dos Judeus em Portugal. Não é apenas uma súmula do que se conhece, mas também uma chamada de atenção para a mobilidade que levou os cristãos-novos a fundarem núcleos rurais, de que o autor refere 34 casos na Beira Alta, com destaque para a comunidade judaica de Belmonte. Trata o capítulo II da judiaria do Canto, bom pretexto, por exemplo, para incursões no teatro de Gil Vicente. Então não é que há um pastor Tibaldinho no Auto de Mofina Mendes?…
Enfim, pela saborosa pena do Doutor Azevedo e Silva há todo um mundo, porventura ignorado, que se ressuscita. E ainda bem!

Eleições autárquicas – o desencanto com os partidos políticos (e o fenómeno do Chega)

Em ano de eleições autárquicas, todas as máquinas partidárias aceleram para apresentar os seus candidatos. Distrito a distrito, concelho a concelho, freguesia a freguesia, as diversas estruturas partidárias fervilham em contactos e entram em ebulição.
Enquanto uns ficam mais satisfeitos por ver os seus nomes escolhidos por encabeçarem a lista e com autonomia para escolherem os restantes, outros, dececionados e desapontados por se verem relegados para segundo plano, ou se resignam e aceitam ser segundas escolhas ou vão à luta noutros partidos ou mesmo como independentes (vamos ver o que vai dar a revisão desta lei!).
Para o cidadão que acha que os partidos são todos iguais e quem os representa não faz parte da solução mas sim do problema, vê no surgimento de novos partidos e de novos movimentos independentes uma alternativa, isto, porque baseiam o seu discurso numa estratégia antissistema e contra a corrupção. Nesta complexa equação, destaco o partido Chega que pela primeira vez se vai apresentar em eleições autárquicas e pode ser a grande surpresa na próxima noite eleitoral.
Após as últimas eleições legislativas, em que elegeu o seu primeiro deputado, que o Chega não perdeu tempo e, ao mais alto nível, tem feito convites a inúmeras pessoas, mais ou menos conhecidas, procurando aumentar a sua exposição mediática.
É neste enredo em que há um claro desfasamento entre a sociedade e a política, em que os partidos políticos estão sob suspeita permanente, em que se fecharam à sociedade, em que a democraticidade interna é limitada, onde faltam mecanismos de participação eleitoral, com falta de transparência financeira e uma clara falta de respeito pela divisão de poderes que vamos a votos em ano de pandemia.
Num país em que a partidocracia foi colonizando e aprisionando o Estado, fica cada vez mais claro que o eleitor comum, que não tem interesse na política nem vive de favores políticos, quer à frente da sua Câmara Municipal ou Junta de Freguesia um presidente honesto e sério, competente e dedicado.
Como em muitos casos isto não tem acontecido (felizmente ainda existem bons exemplos!), há um afastamento objetivo dos cidadãos das eleições, dos partidos e da política. Uma deslegitimação de instituições e eleitos, que aumenta a desilusão e a descrença nas instituições criando um terreno fértil para a demagogia e para os populismos há esquerda e há direita.
Pior do que isso, a política e a democracia desvalorizaram-se fruto da incompetência de vários governantes. Desde o governo nacional à política local existem variadíssimos exemplos. Incapazes de resolver os problemas por si criados, os governantes em vez de mudarem de estratégia prosseguem alegremente a caminho do precipício e quando os tempos são de grande imprevisibilidade devido à pandemia e às suas consequências, isto torna-se duplamente problemático.
Não admira portanto que possam surgir grandes novidades nas próximas eleições autárquicas, que, na minha modesta opinião, deviam ser adiadas para evitar o agravamento da pandemia.

A MULHER PERANTE O DIREITO INTERNACIONAL

A propósito do dia internacional da mulher, que é celebrado anualmente no dia 8 de Março, ocorreu-me fazer uma rápida retrospetiva com referência a alguns diplomas legislativos que contribuíram para que fossem eliminadas certas descriminações entre homens e mulheres. A Convenção para a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra as Mulheres foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 18 de Dezembro de 1979, tendo sido subscrita por Portugal em 24 de Abril de 1980. Na parte preambular o diploma começa por definir o que se entende por descriminação contra as mulheres, esclarecendo que é “qualquer distinção, exclusão ou limitação imposta com base no sexo que tenha como consequência ou finalidade prejudicar ou invalidar o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das mulheres, independentemente do seu estado civil, com base na igualdade de homens e mulheres, dos direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político, económico, social, cultural e civil, ou em qualquer outro domínio”.
Os Estados signatários ficam, portanto, obrigados a desenvolver todas as medidas necessárias com vista à eliminação de descriminação contra as mulheres em qualquer das suas formas. Por falta de espaço, referiremos apenas algumas delas.
Deixa de existir alguma diferença no domínio da legislação penal. Todos nos lembramos, por exemplo, que o adultério da mulher era punido muito mais severamente que o do homem.
Procura-se eliminar o tráfico de mulheres ou a exploração da prostituição. A prostituição deixou de ser punida, embora sejam punidos os que a encorajem, facilitem ou explorem.
Passou a ser garantido à mulher o direito de exercer cargos ou funções públicas e também o de votar. Em 1911, no primeiro ato eleitoral após a implantação da República, estavam aptos a votar “todos os cidadãos portugueses com mais de 21 anos que soubessem ler e fossem chefes de família”. Como não se estabelecia qualquer distinção entre homens e mulheres, Carolina Beatriz Ângelo, médica, viúva, dirigiu ao presidente da comissão recenseadora do 2º Bairro de Lisboa, um requerimento para que o seu nome fosse incluído. O Juiz João Batista de Castro decidiu favoravelmente o pedido com o fundamento de que “excluir a mulher, só por ser mulher, é simplesmente absurdo e iníquo e em oposição com as próprias leis da democracia e justiça proclamadas pelo Partido Republicano”. O nome da reclamante foi incluído no recenseamento eleitoral. A 28 de Maio de 1911, Carolina Beatriz Ângelo votou, tendo sido a primeira mulher portuguesa a fazê-lo. Foi, porém, sol de pouca dura, porque 3 anos depois, ficou especificado que o direito de voto era apenas para os homens.
A mulher passou a ter os mesmos direitos no campo da educação, na escolha da profissão e a ter direito a remuneração igual à dos homens, sendo proibido o seu despedimento com base na gravidez ou licença de parto.

De onde saíram tantos coelhos?


Grandes, pequenos, coloridos, de chocolate ou de louça, é certo que na altura da Páscoa, vai haver coelhos
Mas o que é que os coelhos têm a ver com a Páscoa? E porque é que trazem ovos?
Conta uma lenda que uma mulher pobre pintou alguns ovos de galinha para oferecer aos filhos na altura da Páscoa e os escondeu no quintal e que quando as crianças descobriram os ovos passou um coelho a correr. Desde então as crianças acreditam que são os coelhos que trazem os ovos da Páscoa.
Uma outra lenda com origem nos povos germânicos, evoca a Deusa da Primavera e da Fertilidade, Ostera. Devido à sua enorme capacidade de reprodução, o coelho foi escolhido como o símbolo de culto a essa Deusa. Quando rompe a Primavera, dá-se o início ao renascimento, à floração, sendo que os coelhos são os primeiros a sair das suas tocas e começarem a reproduzir-se. A Caça ao Coelho era um ritual de culto a Ostera, onde as crianças, enquanto caçavam, encontravam ovos de aves pintados, que acreditavam terem sido deixados por coelhos.
Desde as civilizações antigas, como a egípsia, que se associa o coelho à fertilidade, à primavera e ao renascimento. A troca de ovos no equinócio da primavera, comemorado no dia 21 de março no hemisfério Norte, era um costume que celebrava o fim do inverno. Na Idade Média, o culto a Ostara passou a ser associado à Ressureição de Cristo. A apropriação deste mito pelo cristianismo fez com que a prática da entrega dos ovos pelos coelhos passasse a estar associada à Pascoa e não tanto à Deusa. Os cristãos, passaram a ver o ovo como um símbolo da ressurreição de Jesus.
Outra versão, diz que um coelho teria ficado preso no túmulo de Jesus de Nazaré e que teria sido o primeiro ser vivo a testemunhar a ressurreição de Jesus. Por essa razão, ganhou o privilégio de anunciar a boa nova às crianças do mundo inteiro na manhã da Páscoa.
Não existe uma única origem desta tradição, cada povo, cada cultura terá a sua história, que evolui e passa de geração em geração ao longo dos séculos.
E no que respeita aos ovos, estes tambem evoluiram. Por volta do século 18, os confeiteiros franceses resolveram experimentar uma nova técnica, esvaziando os ovos e recheá-los de chocolate. Um século depois, os ovos passaram a ser feitos de chocolate e recheados por bombons.
O coelho é assim o símbolo mais associado à Pascoa, à ressurreição, sobretudo nos paises ocidentais e simboliza a fertilidade, o renascimento, uma nova vida. As crianças agradecem, especialmente pelos ovos… de chocolate.