Arquivo mensal: Julho 2021

Os combustíveis, o ISV e as ex-scut – o mito do fim da austeridade

O Ministro das Finanças João Leão afirmou no dia 7 de Julho numa audição parlamentar que “Portugal não voltará à austeridade“. Não sei se o Sr. Ministro sabe o significado da palavra austeridade mas a verdade é que os impostos têm subido e o contribuinte sente-o todos os dias, os automóveis são um exemplo flagrante: nos combustíveis, no ISV e nas ex-scut.
Os portugueses têm de trabalhar, em média, quase o dobro dos espanhóis para conseguir abastecer um depósito com 50 litros de gasolina. A taxa de esforço em Portugal não tem paralelo nos restantes países da Europa Ocidental e equipara-se às economias de leste (com rendimentos baixos). Portugal é o 3º país com a gasolina mais cara e o 6º país com o preço do gasóleo mais elevado entre os 27 países da União Europeia. Acresce que os países com gasolina e gasóleo mais caro que Portugal têm todos um poder de compra muito superior. Na verdade, comparando, a título de exemplo, o preço médio de venda ao público em 2008 e em 2021, conclui-se que a cotação do preço do petróleo está agora mais baixa, mas que o preço final é mais alto devido, sobretudo, ao aumento do peso do IVA e do Imposto Sobre os Combustíveis.
Em 2016, quando o preço do petróleo baixou de forma significativa, o executivo de António Costa subiu o Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos para não perder receita, comprometendo-se a reajustar em baixa, no caso de o custo da matéria-prima voltar a subir. Tal compromisso, todavia, não foi cumprido.
Também durante este mês fomos brindados (ironia) com mais um aumento de impostos sobre as carrinhas com peso bruto de 3500 quilos e sem tração às quatro rodas. Basicamente, todas as viaturas fabricadas na PSA de Mangualde, até agora isentos de pagar ISV, passam a pagar 10% desse imposto.
No dia 1 de julho, entrou em vigor a Lei do Orçamento do Estado que prevê um desconto de 50% no preço das portagens das ex-SCTU. Esta proposta apresentada e aprovada com os votos contra do PS (Partido Socialista) era muito clara mas, num passe magia (ironia), como a receita iria baixar drasticamente, “em vez de aplicar uma redução de 50% sobre o preço que estava em vigor, veio a aplicar uma redução de 50% sobre o preço inicial das portagens, passando por cima de todos os descontos que entretanto tinham sido instituídos desde 2011” acusa Luís Garra, um dos elementos da Plataforma ​​​​​​​P’la Reposição das SCUT A23 e A25.
Esta falta de seriedade não cumpre o que foi decidido pela Assembleia da República mas, mais uma vez, o Governo do Partido Socialista, em vez de ser sério e honesto, continua a brincar com o contribuinte Português.
Podem-lhe chamar o que quiserem mas a verdade é que a austeridade está bem presente, na verdade, ela nunca acabou, muito menos nos (des)governos do punho cerrado de António Costa.

Pior ano do turismo, mas não para todos…

É inegável que a Pandemia afetou o turismo a nível Mundial, mas também resultou numa oportunidade para aqueles que a souberam aproveitar.
O ano de 2019 foi o melhor ano de sempre no turismo do Algarve. Portugal tem sido considerado um dos melhores destinos Turisticos Europeus e do Mundo e previa-se uma evolução natural neste setor nos proximos anos. A pandemia trocou as voltas, não só aos portugueses, mas ao mundo inteiro. Os dados oficiais revelam que 2020 foi o pior ano de sempre no que toca ao turismo. As regras impostas pelos governos dos vários países, restrições à circulação, aliado ao medo generalizado e ao desconhecido, fez com que o mercado estrangeiro em Portugal reduzisse 74% face a 2019. Verificaram-se perdas de 60 milhões de euros e 600 mil postos de trabalho em risco.
Ainda assim, foram 6,5 milhões de estrangeiros que se deslocaram a Portugal, somados aos 4 milhões de portugueses que fizeram pelo menos uma viagem turistica em 2020. E para onde foram? Que destinos escolheram estes 10 milhões de turistas estrangeiros e nacionais? Que locais foram considerados seguros em plena pandemia?
Curiosamente, a pandemia fez inverter as preferências turisticas. Na região norte, o interior do país atraiu 80% dos turistas, especialmente os nacionais, tendo tido um verão excelente com lotação esgotada, a superar os resultados de 2019 e a atingir taxas de ocupação nunca vistas. Com Lisboa e Porto estagnados, também o Alojamento Local cresceu em várias regiões do interior do país. Bragança, Vila Real e Guarda lideraram as taxas de ocupação. O Turismo termal e as regiões onde se inserem também registaram aumentos da procura e têm nesta nova realidade uma grande oportunidade para se afirmarem como destinos turisticos de saúde e bem estar, seguros e saudáveis.
Longe de multidões, os nacionais dão preferência a férias em família e escolhem as zonas do interior do país, à procura de segurança. O Turismo rural é o motor desta procura do interior. Um destino desmassificado, em unidades de alojamento turisticos de menor dimensão e que proporciona momentos de lazer e contacto com a natureza. É uma grande oportunidade, que tem que ser trabalhada de forma a não voltar ao que era. Uma tendência que tem que se manter e que depende essencialmente dos turistas nacionais.
Em pleno verão, prevê-se que 2021 seja ainda pior que 2020, com mais insolvências e aumento do desemprego. O que ainda nos reserva esta pandemia? Ninguém sabe responder ao certo, mas há uma coisa que todos sabemos, vai levar anos para recuperar e voltar aos níveis atingidos em 2019.
Com o plano de vacinação em curso e a “luz ao fundo do túnel”, à medida que o turismo recupera gradualmente, é imperativo que as as autoridades de turismo e o governo apoiem empresas de pequena escala, em áreas do interior do pais, reduzindo as desigualdades económicas e criando novos meios de subsistência, especialmente em áreas rurais.

CONSULTÓRIO

PERDA DA VOZ – AFONIA – E ROUQUIDÃO!

A perda da voz é devida, habitualmente, a uma inflamação da laringe, designada laringite.
Quais são as circunstâncias que, mais frequentemente, levam à perda da voz e como tratar?
Quando as cordas vocais são atingidas, a voz pode desaparecer
O nosso organismo é dotado de duas cordas vocais situadas na laringe. São as suas vibrações que dão origem aos sons. Se uma das cordas está lesada, a nossa voz pode atenuar-se ou, mesmo, desaparecer. Quando se perde a voz, frequente no inverno e também no verão, as cordas vocais deixam de vibrar ou vibram mal devido a uma inflamação da laringe (laringite).
Tusso e não tenho mais voz
Quando se tosse porque se está constipado, por exemplo, as cordas vocais podem estar atingidas, podem aumentar de tamanho e chocarem entre si. Isto porque a tosse repetida e persistente pode conduzir a um inchaço ou edema das cordas vocais modificando os sons emitidos. Como resultado, a voz modifica-se e torna-se rouca podendo mesmo levar a uma afonia (perda de voz).
Mas também, muitas vezes, a ingestão de bebidas muito frias pode levar a um fenómeno de inflamação das cordas vocais e suceder o mesmo!
Cantei ou gritei demais
Se há um exagero na utilização da voz as cordas vocais ficam fatigadas e inflamam-se. É o que se passa, por exemplo, após ter gritado a plena voz quando de uma manifestação (desportiva ou outra) ou quando se cantou durante horas a fio, agora que este tempo de verão pede diversão.
As cordas vocais ficam com dificuldade em vibrar e os sons emitidos são mais roucos e atenuados, ou pode, mesmo, ficar-se sem voz (afonia).
É grave?
Nada de pânico: o desaparecimento da voz é um fenómeno benigno que desaparece habitualmente ao fim de 24 a 48 horas, podendo demorar mais um ou dois dias, em casos mais extremos.
Em qualquer caso, uma rouquidão ou uma afonia que dure mais de uma semana deve levar a consultar o seu médico que o poderá enviar a uma consulta da especialidade. Este conselho é também indicado para as situações de voz bitonal ou voz de palhaço (voz a dons tons) ou de dor de ouvidos associada.
Se a rouquidão ou a afonia está associada a uma dificuldade respiratória, pode ser uma situação mais grave. Neste caso convém consultar rapidamente um especialista de otorrinolaringologia (ORL), em particular se se trata de uma criança, porque a sua laringe pode estar muito inflamada.
Que fazer em caso de rouquidão?
Não fale, as cordas vocais precisam de repousar, é imperativo! E, sobretudo, não tente murmurar porque o ar frio que entra pela boca agrava a situação.
Evitar ambientes frios – atenção ao ar condicionado muito frio no ambiente de trabalho, ou de diversão, e no carro. Atenção às bebidas frias!
Gargareje com água morna com sal ou com mel, várias vezes por dia.
Humidifique o ambiente do seu quarto de dormir.
Tome um anti-inflamatório (tipo ibuprofeno ®, por exemplo).
Como prevenir?
Se está na rua tente inspirar sempre pelo nariz. Assim, o ar inspirado, ao passar pelo nariz, é filtrado, humedecido e aquecido ou arrefecido, o que diminui o risco de inflamação
Não pense em cantar, gritar ou falar com voz mais alta e, ainda, durante muito tempo. Evite tomar produtos lácteos enquanto está assim – ajudam a manter as cordas vocais inflamadas.
Masque gengibre fresco e beba água com limão à temperatura ambiente.
Porque é que acordamos muitas vezes com a voz empastada?
De manhã, as cordas vocais podem estar mais distendidas, seja na sequência de ter ressonado toda a noite, seja porque respirou pela boca e não pelo nariz porque este está um pouco congestionado, seja porque tossiu uma boa parte da noite. As cordas vocais podem estar recobertas de muco acumulado durante a noite devido a um corrimento nasal posterior mais abundante. Resultado, ao acordar, a voz está mais grave o tempo suficiente até elas se limparem com as primeiras vibrações e retomem a sua forma normal.

TENHO UMA VIAGEM PARA O REINO UNIDO. QUE DIREITOS ME ASSISTEM APÓS O BREXIT?


Desde o dia 1 de janeiro do presente ano, que o Reino Unido passou a ser considerado um país terceiro à EU, apesar do acordo celebrado no dia 30 de dezembro de 2020. Que direitos nos assistem?

DOCUMENTAÇÃO

  • Apenas necessita de apresentar o passaporte a partir de outubro de 2021. Até 30 de setembro poderá apresentar apenas, o cartão de cidadão para poder viajar, validamente, para o Reino Unido.
  • Para estadias inferiores a 6 meses não necessita de visto para circular entre o Reino Unido e a UE.

SAÚDE

  • Tem direito a assistência médica durante o período de estadia temporária.
  • Certifique-se que tem um seguro de saúde que possa cobrir eventuais despesas médicas.

ALUGUER DE VEÍCULO

  • Poderá ser solicitado uma carta de condução internacional e um seguro adicional.

DIREITOS DOS PASSAGEIROS

  • Aplica-se o direito da UE, aos passageiros que partam do Reino Unido com destino a um aeroporto situado no território de um Estado Membro da UE com uma transportadora da UE.
  • Nos casos em que o voo seja operado por transportadoras que não sejam da UE, essa legislação deixa de ser aplicável aos passageiros. Contudo, o acordo celebrado entre as partes a 30 de dezembro de 2020, prevê que ambas as partes assegurarão medidas efetivas para proteger o acesso à informação, os direitos dos passageiros com deficiência ou mobilidade reduzida, reembolso e compensações e um tratamento eficiente de reclamações.

VIAGEM ORGANIZADA

  • se adquiriu uma viagem organizada a uma agência localizada no Reino Unido mas que dirige a sua atividade ao mercado português, continua a beneficiar dos mesmos direitos previstos na legislação nacional.
    A DECO aconselha a informar-se, antes da realização da viagem, junto da embaixada portuguesa, sobre eventuais cuidados adicionais a ter em consideração. DECO

A VIDA NUM ROTEIRO DO MANGUALDENSE PEDRO COELHO

O autor Pedro Coelho nasceu em Mangualde em 1972. Licenciou-se em Sociologia na Universidade Nova de Lisboa e especializou-se em Coordenação de Necessidades Formativas. Foi formador de “Cidadania e Igualdade de Género” e concretizou o sonho de conhecer novas culturas, o que o levou a mudar-se para o Luxemburgo país onde vive e que defende ser o “ideal de uma sociedade”.
Com o confinamento, o autor recuperou muitas das suas reflexões sociológicas e sentiu que numa altura de crise pandémica como a que se vive era importante mostrar às pessoas que o fundamental do “Stay at home” era  o olhar para interior do EU, perceber o EU, modificar e aperfeiçoar.
A VIDA NUM ROTEIRO foi a apresentada em Mangualde no passado dia 28 de maio e no próximo dia 30, pelas 18H30, será a vez de ser apresentada em Viseu nos Cláustros do Museu Nacional Grão Vasco.
Em entrevista ao Renascimento Pedro Coelho, dá a conhecer um pouco do autor e da sua obra.

Quem é Pedro Coelho?
Sou uma pessoa normalíssima, com gosto e entusiasmo pelas Pessoas e pelas Sociedades. Desde as lides do associativismo que já sentia esta vontade de intervir, de participar com otimismo. Somos sempre um pouco de nós, mas somos também um pouco o reflexo do que os outros pensam de nós.
Mas sou e serei sempre um inconformista, um inquieto, um insatisfeito, um exigente de mim mesmo.  Continuo inquieto com as desigualdades.
Trabalha-se muito em Portugal e as pessoas não conseguem passados tantos anos da entrada na UE serem remuneradas com dignidade. Insatisfeito, por sentir que não consigo, apenas por palavras transformar o Mundo, o indíviduo.
Exigente com o que se passa no meu Tempo e nos Tempo que se avizinham. 
Sempre tive esta dimensão de ser uma pessoa franca, lúcida e ouvinte, dimensão que a minha educação me foi proporcionando, fazendo de mim uma pessoa aberta ao mundo.
Mas também tenho o meu lado divertido e disperso-me pelos meus gostos: adoro o Mar, adoro crianças, fazer caminhadas, gosto imenso de futebol, gosto de livros, gosto do simples.

Que idade tem, que ‘hobis’ tem na vida?
Tenho 48 anos. Sou Sociólogo, Sinto que sou um peregrino por viver fora de Portugal, no Luxemburgo.
Aqui devido à diversidade de nacionalidades, a minha vida pertence à Europa, pois os meus amigos mais íntimos, com quem partilho reflexões, dúvidas, alegrias e tristezas são portugueses, luxemburgueses, franceses, belgas, alemães e africanos. Por isso digo que sou um peregrino sempre a deambular entre Portugal e o Luxemburgo.
Aqui no Luxemburgo encontrei um País onde existem muitas oportunidades e onde o ideal de sociedade é apaixonante, aqui ninguém fica para trás.

Como vê a Sociedade de Hoje?
Preocupam-me estes tempos depois da Pandemia, preocupações pesadas (apesar de ser otimista, vontade de transformar, de mudar), acerca da Vida das pessoas, dos enormes contrastes sociais de Norte a Sul do país. Mas Amo ser Português, gosto dos portugueses, agora mais do que nunca, uma vez que estou a viver fora.
Quando falo com as pessoas sinto que dentro delas, lentamente, existe todo um mundo de palavras, que necessitam vir cá para fora.
Portugal está a necessitar de novos indivíduos, novos cidadãos que tenham uma linha de pensamento para Pensar Portugal nos próximos 20 a 30 anos. Educar, educar, educar é o caminho.

Como nasceu a ideia de escrever este livro?
Sempre fui muito ativo. As palavras foram uma maneira de me ligar aos outros. Sempre tive perguntas invisíveis, olhares de quem vai olhando atentamente, ouvir e ir atrás das palavras do outro e por entre as palavras desorganizadas da oralidade, da sociedade, a escrita é uma atividade contemplativa. As palavras, por vezes são música, música pura, as palavras são conceitos, são ligações difíceis de estabelecer com os pensamentos que queremos transpor para as folhas.
Escrever  é dar um pouco do nosso coração aos outros.
Com o confinamento recuperei muitas das minhas reflexões sociológicas e senti que numa altura em que vivíamos esta crise pandémica era importante mostrar às pessoas que o fundamental do “Stay at home” que o Mundo vivia, era  olhar para dentro do nosso interior, perceber o meu EU, modificar e aperfeiçoar. E assim nasceu o Livro que espero ser um bom instrumento para se ter junto à cabeceira da cama.
 
Porquê este título?
A VIDA NUM ROTEIRO é um título que pretende demonstrar aos leitores que a nossa Vida é construída por percursos. Cada um de nós, enquanto pessoas, deve construir o seu Roteiro que orienta, que guia a inquietação dos nossos dias. Não há tempo para as pessoas pensarem hoje em dia, tempo para parar. Como podes evoluir, como te  podes  potenciar mais, se não te aperfeiçoas? É um livro atual e que pode ser lido e relido vezes sem conta e com a certeza que aprendemos algo mais sobre nós e os outros.
 
De que fala?
Dividido em 15 Capítulos o LIVRO retrata temas actuais da Sociedade de Hoje. Fala de o individuo se conhecer melhor, a si mesmo, olhar para dentro, mudar, seguir em frente, cair mas saber que a queda provoca em nós um novo amanhecer e um novo levantar.

Porquê a sua apresentação na cidade de Viseu?
Sou um Beirão e pretendo apresentar o ROTEIRO por todos os concelhos para incentivar a Leitura, para incentivar a “olhar o EU” de cada individuo, poder debater questões e dar o meu exemplo. Já o fiz nas cidades de Mangualde, Santa Comba Dão e agora será a vez de Viseu e Coimbra abraçarem A VIDA NUM ROTEIRO.

Tem mais projectos na manga?
Sim tenho um projecto comunitário. Um sonho para melhorar o dia a dia das pessoas mais carenciadas, mas não queria ainda alargar-me muito sobre este trajecto que já esta a ser preparado.

“Mangualde – Patrimónios Municipais” foi apresentado publicamente este mês de Julho

Apresentação esteve a cargo de Jorge Sobrado,
que partilha a sua leitura nas páginas do Renascimento

Uma publicação é, muitas vezes, uma luta contra o esquecimento, contra os efeitos da erosão do tempo. Outras vezes um ato de amor. No caso de “Mangualde – Patrimónios Municipais”, da autoria de António Fortes, e Edição do “Renascimento”, ela é as duas coisas, na mesma medida. “Foi a pensar na beleza das pedras que brotou este livro”, diz a certa altura o autor.
Tive o gosto de apresentar publicamente esta nova obra, no passado dia 2 de julho, na Biblioteca Municipal de Mangualde. Nessa ocasião, tive a oportunidade de destacar que esta publicação – pequena em tamanho, mas expressiva em significado – constitui um “inventário amoroso” dos patrimónios mangualdenses, materiais e imateriais. Se o indelével José Mattoso confessava que “a minha visão da história humana é contemplativa”, não deve ser diminuído o valor de obras afetivas como esta – uma espécie de “viagem na minha terra” de António Fortes. Ela atravessa lugares de história e de memória, achados arqueológicos, tradições e estórias.
Se a cultura é de todas as inutilidades a mais útil, este inventário configura uma espécie de guia de viagem, um “livro de registo” útil, quer a um visitante motivado na redescoberta de Mangualde, quer a quem abrace a necessária tarefa da valorização cultural e turística do concelho. Que outro melhor recurso tem, por exemplo, o turismo de que uma boa história (desde que singular e bem contada)? Como construir identidade e atratividade locais sem raízes, sem tradições e memórias próprias?
A leitura desta obra surpreendeu-me e agarrou-me, precisamente, pelo poder das histórias aí contadas, quais revelações, ainda que de forma abreviada. São os casos da incrível “novela” cinematográfica desse Al Capone da Beira que foi João Brandão, do encantamento cénico da silenciosa mas colorida romaria de Santo António de Cabaços, da imponência do Real Mosteiro de Maceira Dão (ao abandono e em ruína acelerada, como faz notar António Fortes), do perfume eloquente do Palácio dos Condes de Anadia ou do magnetismo de figuras como Maximiano de Aragão.
Enquanto obra relativa a um “legado”, este livro de António Fortes suscita essa pergunta: o que fazer com estes patrimónios? Como travar o esquecimento e o despovoamento?
Deve perdoar-se ao autor, por tudo isto, as pequenas gralhas de edição, circunstância motivada pela pressa da partilha. Adiar e procrastinar são atos de desamor e, sabemo-lo por experiência própria, venenos conhecidos contra o património. Pode bem o leitor dedicar-se às justas correções.
Obras oportunas como “Mangualde – Patrimónios Municipais” são sempre um repto para alguma coisa mais, no futuro. Este trabalho, para ser levado a sério, deve dar origem a muitos outros trabalhos.

Apresentação do Livro “Mangualde-Patrimónios Municipais” na Biblioteca Municipal de Mangualde

Foi apresentado no passado dia 2 de Julho na Biblioteca Municipal de Mangualde o Livro “ Mangualde Patrimónios – Municipais”, que contou com a Presença do Dr. Elísio de Oliveira, Presidente da Câmara Municipal de Mangualde, Dr. João Lopes, Vereador da Cultura, Dr. Jorge Sobrado, Vereador da Câmara Municipal de Viseu.
O Autor, António Fortes, ao apresentar a Livro, disse:

“Mangualde, antiga Azurara da Beira, está no coração da velha Província da Beira Alta.
Aqui na Beira Alta se fez Portugal, se moldou parte da sua história, terra de heróis, de grandes figuras que engrandeceram o País e o Mundo.
Beira Alta, na nervosa expressão de Fialho de Almeida - A mais bela e portuguesa das nossas Províncias, ou na frase doutrinante de Teófilo Braga - Centro Vital da Nacionalidade.
Aqui, bem no meio desta Província, nasceu e cresceu a Velha Azurara da Beira, hoje Cidade de Mangualde.
Esta terra foi berço de grandes figuras políticas, que há mais de um século defendiam ideias revolucionárias, no alvorecer da República.
Para a sua defesa nasceram muitos jornais, talvez a terra mais pródiga em publicações de cariz político.
Vejamos, segundo o escritor e historiador, Maximiano de Aragão, grande vulto da nossa Cultura, nascido em Fagilde/Mangualde: - Surge em 1867 de A. A. Mota Feliz a “Gazeta das Beiras”; “A Gazeta de Mangualde” em 1889 de Manuel Feliz; ”O Beirão”, 1887; “O Conspirador”, em 1889; ” O Novo Tempo” em 1889 de Alberto Osório de Castro; “O Povo Beirão” em 1891; “A Reação” de José Marques (meu bisavô) em 1891; “ Voz da Beira”, 1908 de José Pessoa Ferreira (meu tio bisavô) e “Correio de Mangualde” de Virgílio Marques (meu tio avô) em 1923.
Com estes antecedentes todos, eu estava destinado a pertencer a um Jornal de Mangualde.
Segue-se o “Renascimento” em 1927 e o “Notícias da Beira” em 1931.
O Jornal “Renascimento”, com a sua provecta idade, 94 anos, quase a completar um século de vida, assistiu às mudanças e acompanhou as pessoas que ao longo de tão largo período de tempo deram o seu melhor a esta terra, Mangualde.
E não podia ficar indiferente a tantos acontecimentos. Por isso a Edição deste Livro.
Pelas páginas deste vetusto Jornal passaram escritores, historiadores, investigadores, que deixaram as suas Crónicas e que hoje são parte da História de Mangualde.
Valentim da Silva, Poeta, Escritor e Diplomata, possuidor de uma larga cultura humanista, escolhe o Renascimento para publicar os seus laboriosos e eruditos trabalhos de investigação histórica.
Na sua morte o “Renascimento”, reconhecendo a sua afeição, prestou-lhe a mais digna e sentida homenagem com um número especial.
Também Alexandre Alves, Historiador e Investigador, que deu o seu nome a esta moderna Biblioteca, utilizou o “Renascimento” para publicar estudos, ensaios e Crónicas como “Mangualde de Outros Tempos” 1961/4 e “Nossa Senhora do Castelo” em 1961.
Amândio Marques, advogado, nascido em Mangualde, meu tio avô foi um dos grandes defensores do regionalismo, fundou no Porto a Casa da Beira Alta e publicou no Jornal Renascimento os seus livros – “Onde Nasceu Pedro Àlvares Cabral” e “Gil Vicente Beirão”. Seguindo uma tese de Valentim da Silva, Pedro Àlvares Cabral, nasceu na sua Casa de São Cosmado e Gil Vicente em Guimarães de Tavares.
Mais recentemente, nos dias de hoje, outras figuras da investigação continuam a publicar os seus trabalhos como é o caso da Arqueóloga Dr.ª Clara Portas, sobre as Ruinas da Raposeira e que convidei para fazer parte do Livro “Mangualde - Patrimónios Municipais”.
Mangualde tem um vasto Património construído e disperso por todo o Concelho.
É preciso conservá-lo e torná-lo conhecido. A Cultura não é um parente pobre do desenvolvimento económico. Muito pelo contrário é o primeiro pilar, o seu principal suporte.
A Cultura e a Arte são o maior Património de um Povo.
Eça de Queiroz dizia: - a Arte é tudo, sem Arte não há nada!
E a maior obra de Arte, a mais bela de todas, que com muito amor, oferecemos aos nossos filhos e netos, é o mundo!
O Mundo mudou muito, mas não mudou nem pode mudar o nosso passado.
Assim escreveu o grande Alexandre Dumas em “As Tumbas de Saint Denis”: -”Os Homens às vezes podem mudar o futuro … mas, nunca o passado”!
E o Escritor Evelyn Wang dizia: - “As únicas certezas que possuímos são as do passado”!
Não podemos ficar no passado. Temos de ter projectos para o futuro.
Os grandes projectos nascem sempre de sonhos!
E precisamos de ser ousados. O Padre António Vieira dizia: - “A ousadia é metade da vitória”!
As nossas cidades vão sofrer grandes transformações. Vão passar a ser tecnológicas, com ferramentas inovadoras, mas sempre aproximando a Região dos Cidadãos. Para isso é necessário investir nas Plataformas Digitais, criar espaços de Cidadão nas Freguesias. Fixar quadros qualificados e criar incubadoras de base científica e tecnológica.
Mas, ter sempre a Cultura como pilar de desenvolvimento. Ter a inteligência ao serviços de um futuro mais sustentável e mais equilibrado e saber fazer a ponte entre o passado e o futuro.
Hoje o mundo é global. O Turismo, essa “Sorte Grande”, como lhe chamou o Poeta Pedro Homem de Mello, representa uma fatia considerável das nossas receitas.
E é um aliado forte do nosso Património. Cultura e Turismo andam tão interligados, que sem Cultura não havia Turismo!
Mas, há as pessoas. As suas tradições, os seus costumes.
O Escritor Almeida Garrett no livro “O Romanceiro” publicado em 1847 dizia: - “O tom e o espírito verdadeiramente português, esse é forçoso estudá-lo no grande livro nacional, que é o Povo e as suas tradições, as suas virtudes e os seus vícios, as suas crenças e os seus erros”.
Por isso ao escrever o Livro “Mangualde-Patrimónios Municipais”, dediquei algumas páginas aos usos e costumes da nossa Região. Às suas tradições.
Os Ranchos Folclóricos são o sustentáculo das tradições. Como dizia Pedro Homem de Mello, um dos maiores defensores e grande divulgador do Folclore Português: - nos Ranchos conhece-se o verdadeiro rosto da gente portuguesa!
Os Ranchos Folclóricos são o espelho do nosso Povo, a nossa ancestralidade, as nossas verdadeiras origens!
Ou como dizia Walter Scott, um dos maiores Escritores Ingleses – “As canções são como o orvalho do Céu, no meio do deserto, refrescam o caminho!”
Este Livro é uma abordagem do nosso Património. Ficará para outro um estudo mais aprofundado.
Aqui, lembro o Grande Poeta Guerra Junqueiro. Junqueiro foi Poeta porque tinha que ser Poeta; Pela mesma razão que o pinheiro dá resina, ou a pereira dá peras. E foi Grande!
E afirmava: - “Escrevo os meus livros para mim e imprimo-os para o público; Procuro esquecer-me do livro feito para me lembrar únicamente do livro a fazer; É como cortada a seara, colhido o trigo, arroteia-se o campo e semeia-se de novo; A nossa Obra é o nosso Monumento”!
Virá seguramente um novo livro!
Ao escrever este Livro segui o que o Escritor Stefan Zweig disse num prefácio duma das suas obras: - “Nós não devemos ocultar as coisas quando as vivemos, tomamos parte nelas. Devemos transmiti-las às futuras gerações para que possam continuar a aprender as lições dos seus ancestrais”!
Essa foi a minha intenção!
Vou terminar agradecendo a:
Dr. Elisio Oliveira - Ilustre Presidente da Câmara de Mangualde, um bom amigo, o seu apoio.
Ao Dr. Jorge Sobrado, um amigo que comigo apresentou na Biblioteca Municipal de Viseu, quando era Vereador da Cultura, dois livros inéditos de Maximiano de Aragão, tendo feito os respectivos Prefácios.
Ao Dr. João Lopes , Vereador da Cultura, a sua prestimosa colaboração.
E à Dr.ª Maria João Fonseca, Directora desta acolhedora Biblioteca, todas as atenções que me dispensou.
Ao Serafim Tavares, companheiro de viagem, Proprietário e Director do Jornal Renascimento, que comigo carrega a cruz de levar por diante o Jornal Renascimento, nesta sua nova jornada, agradecer a liberdade e o apoio que sempre me deu na orientação e Direcção do Jornal.
O Renascimento e todos nós estamos com os olhos no futuro. Por isso, talvez o provérbio Àrabe tenha alguma razão de ser:- “Não é prudente olhar para trás, quando o caminho é para a frente”!
E deixar, numa frase que brota com toda a sinceridade do coração dos Beirões – o meu imenso BEM HAJA a todos que se dignaram assistir a este acto”.