Arquivo diário: 1 de Julho de 2021

EDITORIAL Nº 802 – 1/7/2021

As dificuldades da Imprensa Regional
Segundo a Associação de Imprensa, com a pandemia, 30 publicações deixaram de ser impressas e correm o risco de fechar.
Faltou a publicidade e o apoio do Estado.
Há muito que nos habituamos a ver morrer mesmo os grandes títulos, alguns centenários.
Desde 2007 que o Estado só paga 40% do custo da expedição dos jornais.
Até essa data pagava a totalidade. O Estado justifica esta alteração com o declínio da Imprensa Local e Regional.
Quer isto dizer que se um Sector da Economia corre mal, é melhor não dar apoio e deixá-lo morrer. Um raciocínio torcido, sem lógica e pouco inteligente.
Se um Sector está mal o Estado deve apoiá-lo. Assim deve ser um Estado competente!
Qualquer dia o Estado corta mesmo o apoio pois chega à conclusão que a Imprensa já não interessa.
Mas, a falta de sensibilidade e de apoio à Cultura e ao seu desenvolvimento, já não é de hoje, mas de sempre.
Aqui se justifica a falta de resposta do Governo aos sucessivos pedidos de apoio. O Governo não responde aos apelos feitos.
O Orçamento do Estado para 2021 não reflete nenhuma melhoria para a Imprensa Regional.
E este Sector, a Imprensa Regional, é extraordinariamente importante para o fortalecimento democrático e da coesão do País.
Com a pandemia os custos de distribuição são negativos em certas regiões do País. Vai daí a VASP, que é a maior distribuidora , a partir de 4 de Julho aplicará uma taxa diária de entrega de 1,50€ de segunda a sabado e de 1€ aos domingos.
O Distribuidor não tem possibilidade de aguentar os prejuizos e há o perigo de certas regiões do País deixarem de ter jornais.
É a morte anunciada de muitos jornais, principalmente dos mais pequenos, dos Regionais.
A Imprensa Regional é a guardiã das tradições e da identidade e presta um serviço local que nenhum órgão nacional presta.
Os grandes noticiários dão-nos o mundo e o país, enquanto a Imprensa Regional que vive paredes meias com as pessoas e os factos diz-nos o que se passou no fundo da nossa rua, a vida da Vila e da Aldeia. Pressionam os poderes locais e levam ás comunidades de imigrantes o que se passa na sua terra.
Este jornalismo de proximidade defende as culturas locais e é um compromisso entre a Região e as Pessoas.
A sua independência é fundamental! A sua Liberdade vital!
Quando não houver liberdade de Imprensa é porque a Democracia morreu!

IMAGINANDO

Parte 96
Mente e cérebro
Está a Mente no Cérebro?
Para um melhor entendimento, passemos a exemplificar como ambos funcionam:
Imaginemos um programa televisivo.
Será que esse programa está dentro do ecrã do televisor?
Claro que não, porque ambos são distintos. Quando desliga o Ecrã do seu televisor, o programa continua ativo. Embora haja uma relação mútua, ambos são independentes.
Após alguns estudos os cientistas concluíram que, como o programa televisivo, a mente não se encontra no cérebro, porque ela transcende para a Não-Localidade, indo além do espaço e do tempo embora haja uma correlação, considerando o cérebro um recetor da Mente consciente, que traduz as experiências do dia a dia.
No entanto em certos casos tais como, quando conduzimos, assistimos a um jogo de futebol ou nos concentramos no nosso trabalho, a Mente Consciente vai firmar-se na realidade local, interpretando o “Eu” assistindo a um jogo de futebol ou a um volante.
Embora os Campos Não locais continuem presentes, nossa mente não está sintonizada neles.
Queremos com isto dizer que nossa mente se encontra presa à realidade local.
Só em casos pouco comuns, como o sonho, transe ou meditação, ela deixa de se identificar com o nosso corpo e a noção do “Eu” local, podendo de imediato aceder ao mais distante do Universo e entrar nos Campos Não-Locais, ficando fora desta “realidade” da 3ª. Dimensão.
Também podemos transcender o “Eu” local, quando nos sentimos em contacto direto com a natureza e nos fundimos em consciência, na unidade que somos com ela, tornando-nos um só com o Universo.
Vejamos ainda algumas funções do nosso cérebro:
Além de estabelecer uma ponte, unindo as realidades Local e Não-Local, este dá-nos dois caminhos, sendo um deles o processamento do nosso ambiente.
O outro caminho e como exemplo, se estivermos concentrados em plena meditação ou seja “fora deste mundo” e houver um ruido estranho, somos imediatamente alertados pelo cérebro, que nos faz regressar ao “Eu” local.
Também pode acontecer, quando mergulhamos num sono profundo vagueando pelos campos Não-Locais, sermos alertados pelo cérebro para o caso de um fumo intenso e perigoso, fazendo-nos de imediato regressar ao nosso “Eu” local.
O cérebro está sempre a recolher informações do mundo exterior, transmitindo-as à nossa Mente. Tem a capacidade de se envolver com o mundo exterior e interpretá-lo. Isto é fundamental para nós, seres humanos, no entanto não devemos focalizar toda a nossa atenção no mundo exterior e pensamentos locais, sob pena de nos desligarmos e perdermos o estado de extase da Mente não-Local, que nos enriquece com todo o seu esplendor de felicidade pelo Amor incondicional dando-nos uma visão maravilhosa de que Tudo o que Existe é perfeição.
Quando apenas experienciamos nosso mundo exterior, esta mesma experiência fica empobrecida, porque se desliga do melhor do seu Ser, aproveitando só uma pequena parte da consciência ao nosso dispor.
Concluindo, podemos considerar o cérebro uma ponte entre os campos não-locais e a consciência humana individual.

Tem 65? Então já é idoso!

A partir das 2ª Guerra Mundial ficou estipulado a divisão das populações por grupos etários consoante a sua idade. Devido ao caos da guerra, surgiu um movimento social para a reedificação da Europa, sendo natural considerar um adolescente de 15\16 anos um jovem adulto capaz de integrar no mercado de trabalho emergente e faminto por mão de obra rápida! Assim o 1ª grupo etário\ jovens era do nascimento até aos 15 anos de idade; o 2º grupo\ adultos era dos 15 aos 64 e por fim o 3º grupo\ idosos dos 65 anos para adiante…. Hoje é inconcebível considerar um jovem de 15 anos optar por uma vida de labuta e rejeitar a vida académica, no entanto são fisiologicamente mais desenvolvidos que os seus avós e são desresponsabilizados de certos comportamentos… Por sua vez, é cada vez mais impraticável iniciar a vida ativa antes dos 18 anos, sendo evidente um atraso na entrada no mercado de trabalho em cada geração. De fato, temos um nicho de doutorados desempregados que desconhecem o que é ter trabalho! Sobrevalorizamos a formação académica em detrimento do futuro profissional, para mim é comum escutar “Sabe a minha neta já acabou o curso, mas para arranjar emprego já tirou o mestrado e agora vai para o doutoramento!” Quando questionada a idade do prodígio, é que verifica-se o incómodo: “Pois tem 32, mas ainda vai a tempo de encontrar um bom emprego! Afinal não quero que seja uma balconista!” É um fato consumado que a formação é uma mais valia, mas desvalorizar quem está nas bases das hierarquias profissionais é obscurecer o atendimento ao público; é difamar quem produz os serviços prestados; é esquecer que as grandes fortunas vieram de grande humildade e que a arrogância era um desmérito
Mas retornando ao tema desta missiva, é curioso considerar idosa uma pessoa de 65 anos, colocando-a num espectro de debilidade e necessidade emergentes só por ter 65 anos de idade! Se por um lado existe uma panóplia de direitos associados ao idoso cronológico, por outro lado existe uma incompreensão do idoso social e produtivo! Ter descontos, gratuitidades ou subsídios por ter 65 anos…Pessoas que ainda têm uma energia e jovialidade superior a muitos de 40 anos, que nada têm de direito por serem frágeis…quer seja idoso, adulto ou jovem, mantenha sempre presente que todos chegamos a velhos, e compete a si mesmo preservar-se e não encalhar no idoso sovina que reclama de direitos sem altruísmo ou bom senso!

REFLEXÕES

Património cultural (25)
Área romanizada no sopé do Monte sra do Castelo
Gostaria de gastar o meu tempo a descrever o que de bom se tivesse feito por este lugar. Mas em abono da verdade nada vejo, para além da já famosa e visitável “mansione” que se pôs a descoberto após onze anos de trabalhos de escavação (1986- 1997). De resto os vestígios que paralelamente se foram encontrando, mercê das sondagens prévias realizadas em locais que já descrevi, não passam afinal de trabalho apagado do conhecimento, embora tenham de existir nos arquivos da Autarquia os Relatórios de cada caso e suas conclusões. É verdadeiramente lamentável que eu, por curiosidade natural, tenha detectado nestes últimos tempos, vestígios romanos, aqui e ali, e nada possa fazer para melhor se conhecer o sítio em causa e tornar-se possível estabelecer uma relação com tudo o que já se encontra a descoberto. Existindo actualmente dois arqueólogos contratados pela Câmara, entendia eu, que a sua função principal fosse continuar pesquisas em locais comprovadamente sujeitos a sucessivas ocupações no espaço do nosso concelho pelos povos ancestrais. Poderei enumerar alguns que mereciam ser estudados mediante acordos com os seus proprietários. E não seriam espoliados do que é seu…Não! Era apenas obtenção de testemunhos históricos que nos permitissem reconstruir a história dos territórios de Azurara e Tavares. Pelo período de tempo já assinalado acima (87 /97), deambulando por aldeias e caminhos desenvolvendo contactos com cidadãos vim a encontrar vestígios de construções romanas nos arredores de Mangualde, nomeadamente , em Almeidinha. Numa propriedade a leste do ribeiro muito próximo da via Romana que liga à Mesquitela encontravam-se encravadas num muro, uma base de coluna, várias pedras faceadas, bastantes fragmentos de tégula, e de cerâmica de uso comum. Está bem de ver que naquele local se ergueria alguma “villa” rústica e que merecia ser estudada. Já se deve ter perdido… Na quinta da Moura (ou quinta Nova) localizada entre o Modorno e o ribeiro do Castelo na direcção da Mesquitela, mais vestígios – um troço de forte muro romano com dois paramentos, já destruído, em parte, pelo trabalho agrícola mecanizado, e a quantidade de material cerâmico dava-nos a garantia de que este sítio seria uma grande área de ruinas, que também já se devem ter perdido. Também nesta quinta existia um penedo com insculturas escavadas – seria um sol (?) com vários sulcos por onde poderia escorrer algum líquido. Como poderia ser um pequeno monumento dedicado a rituais da idade do Bronze ou Ferro solicitou-se a presença de uma arqueóloga do Serviço Regional da Zona Centro ( infelizmente já extinto há vários anos numa má reorganização do IPPAR ) que se deslocou ao lugar, fez o seu estudo e elaborou uma informação da qual deve existir cópia na Autarquia. Estou empenhada em tentar localizar todos estes relatórios e associá-los à minha estória.

Junho 2021

QUANDO O SOL CANSADO SE VAI PONDO

O POENTE
Olha a chuva a cair ! … 
Num alvoroço de ansiedades o ocaso da vida é como o sossego de uma tarde de sol poente em que a luz do sol se faz luar gerado no silencio do adormecer de uma noite feita de sonhos não cumpridos . Há mais espaço para pensar e num vago espírito envolto entre dias de sol e de brumas , em ruídos e discórdias que abafam o nosso pensamento . Como um fluxo sanguíneo invisível que nos aquece numa espécie de grito abafado no silencio do peito qua acalma a tempestade do nosso espírito , clamando serenidade e paz , numa quietude mansa e doce que sempre existe dentro de cada homem . Como um manjar divino , o tempo alimenta as nossas almas . Fazemos do olhar um enorme espanto para que o poente da nossa vida nos caiba nos olhos e nos devolva toda a beleza que outrora perdemos . E assim renascemos . Como uma névoa matinal , a nossa existência é feita de avanços e recuos . Damos um passo em frente , levamos um puchão para trás , entre as trevas e o luar se vai tecendo a nossa vida acidentada . Viajámos de um tempo estagnado , somos aprisionados num presente entre a luz e a cinza , sem forças e capacidade para enxergarmos um futuro risonho , apenas projetamos nosso sonhos numa ilusória realidade .Como fluidos mágicos deambulamos absortos e sem capacidade de pensar . Passamos ao largo daquilo e de que nos apraz . Observamos a vida que por entre os dedos nos escapa fugaz em escassos e luminosos períodos do dia , em noites escuras ou na branca solidão das madrugadas que passamos acordados . No brilho da estrela da tarde sinto uma centelha de fé e esperança , aguardo em horas de ansiedade a abertura das fronteiras que me barram das vivências que me condicionam , da liberdade que deixei de ter e em vivos cantos refolgo o ar sem mordaça , preciso respirar . Nos entremeios sinto a inocência de uma ilusão e no âmago do meu ser antevejo a terra abundante de árvores de frutos , searas ondulantes com tons doirados e que no mais vivo de uma carne dolorosa as armas sejam guardadas num museu de horrores . E num lusco-fusco anímico sejam recordados os tempos de outrora que mais ninguém almeja viver . E nesta minha saudável alienação vivo um retorno à realidade , aceito os tempos , as mudanças , deixo meus sonhos voarem com asas de esperança .

SANFONINAS

Esses letreiros por i perdidos…
Amiúde cobertos já por líquenes, sinal de abandono e desinteresse. Outras vezes, porém, mantêm-se limpos, quiçá por alguém ter suspeitado do seu interesse histórico, embora pouco ou nada compreenda do que lá está escrito. É um letreiro antigo, já no tempo do meu avô eu o via ali, não sei o que significa.
Pelas terras, há marcos com letras. A maior parte das vezes, só os anciãos se lembram do que essas estranhas siglas querem dizer. São os nomes dos proprietários e, por vezes, apenas uma pesquisa nas Finanças locais poderá esclarecer quem foram. Recorde-se, por exemplo, que os marcos com a sigla Vde espalhados pelo interior do País resultam da preocupação da Universidade de Coimbra em assinalar essa posse, na sequência da doação feita pelo Governo central.
Tenho recebido inúmeros pedidos quer de antigos alunos meus quer de amigos para os ajudar nessas decifrações. José Carlos Santos, de Moimenta da Beira, tem sido incansável nesse sentido. Por vezes, logramos decifrar; doutras, não chegamos lá.
Recorto dois que nos deram especial contentamento.
O primeiro é uma placa que se encontra no chão da zona central da capela seiscentista de Santo António, em Arcos, concelho de Tabuaço, frente ao altar. Assenta numa espécie de tampa de sepultura; está escrita em Latim e a tradução é a seguinte:
«Quem, como eu, a este estado chegar, então a verdade será revelada, amigo!»
Ou seja, o defunto adverte que, após a morte, tudo se saberá!
O segundo testemunho é o da placa com inscrição encastrada no muro de suporte de um fontanário no Largo da Praça, na povoação de Longa, também do concelho de Tabuaço. De água fresca e cristalina, alimenta-o uma nascente. Igualmente redigida em língua latina, a inscrição quer dizer em português:
«Pára, viandante, e bebe o bastante. Que a Natureza te dá abundante água grátis! 1835».
Apetece completar a mensagem: sacia a tua sede! E agradece o dom gratuito de que dispões!
Um diálogo, afinal, tanto numa como noutra das epígrafes.
A incitar-nos a nunca esquecer uma saudação, no dia-a-dia, àqueles que connosco se estão a cruzar!…

A festa socialista

“Já posso ir ao banco?” pergunta António Costa. “Sim”, responde von der Leyen. Esta é a imagem que o PM transmite. Um país sempre de mão estendida com políticos bipolares. O problema não é pedinchar o cheque. O problema é mesmo o cheque. A bazuca tem tudo para estragar mais a nossa economia, as nossas instituições e até a democracia. E para fazer o país ainda mais pobre. E o dinheiro servirá sobretudo um objetivo: ajudar o PS a ganhar as eleições em 2023.
Várias entidades já disseram que é um plano que não nos leva a lado nenhum. Como notava Eça há 150 anos, “os lustres estão acesos, o país distraído”. Ou se distrai com os futebóis ou com os relatórios diários da evolução da pandemia. No terreno os boys vão ocupando posições que a bazuca está a chegar. Nas empresas, sobrevive-se, nalguns casos mal! Os contribuintes portugueses vivem asfixiados com taxas e taxinhas, impostos sobre impostos.
Quando a fadiga pandémica já está confortavelmente instalada há pelo menos um ano, a fadiga fiscal, essa já está instalada há umas décadas. Cada litro de combustível contribui para os cofres de estado com cerca de 60% do seu valor. O preço da gasolina é o quarto mais alto da Europa! Resta-nos o consolo de saber que os nossos impostos estão a ser bem aplicados (ironia).
Veja-se o caso do salário do futuro comissário das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril Pedro Adão e Silva. Depois de anos a comentar tudo desde lagares de azeite a gastronomia e a escrever artigos de opinião complacentes com a catástrofe socialista, eis que chega o merecido prémio!
Que podem os portugueses esperar de Pedro Adão e Silva? No mínimo, propaganda preenchida em vazio.
No que respeita ao comissariado para as comemorações do cinquentenário do 25 de abril, o que mais me repugnou foi a duração do mandato. Há outros aspetos criticáveis, mas este é um abuso incomensurável. O Primeiro-Ministro, que foi eleito para um mandato de quatro anos (2019-2023), nomeou alguém para um período superior a cinco anos. Isto será um comissariado ou um ministério?
Para terminar, o comentador Pedro Adão e Silva acha que o comentador Fernando Medina não se deve demitir por causa do datagate na Câmara Municipal de Lisboa. Aposto que o comentador Fernando Medina concorda com a nomeação do comentador Pedro Adão e Silva para comissário das comemorações do 25 de Abril!
Siga o baile, que nós cá estamos para pagar a festa socialista!

AS TROVAS DE BANDARRA

Quem visita Trancoso depara com a estátua de Gomes Anes Bandarra, que teria nascido nessa localidade por volta de 1500. Tendo perdido a sua fortuna, tornou-se sapateiro para prover à subsistência
Havendo-lhe sido emprestada, por João Gomes de Gião, a Bíblia em livro manuscrito passou muito do seu tempo na leitura da mesma, durante os oito anos que demorou a devolvê-la. O conhecimento dos livros escatológicos da Bíblia levaram-no a escrever trovas, em linguagem pouco clara, que parecem profetizar o futuro de Portugal. O significado enigmático das trovas torna-as adaptáveis a qualquer grave acontecimento de caráter religioso ou político-social e, deste modo, alcançam uma grande retumbância. O Bandarra passou a estar na mira do Tribunal da Inquisição. Perseguido pelo Santo Ofício, foi exposto em cadafalso durante o auto de fé de 1541, mas conseguiu escapar à fogueira por se ter retractado. Posteriormente teve de se remeter ao silêncio, ficando impedido de ler ou escrever sobre o Antigo Testamento. Porém, apesar de incluídos no Catálogo dos Livros Proibidos, as suas trovas sobreviveram à censura.
Apesar de todas as proibições e da censura, as trovas continuaram em circulação. No século XVIII foram acrescentadas, alegando-se que haviam sido descobertas novas trovas do Bandarra em Trancoso. Em 1809 saiu uma nova reimpressão, em virtude das invasões francesas, à qual se seguiram ainda outras.
No entanto, muitas das trovas atribuídas a Bandarra são apócrifas e foram escritas em época ulterior.
As trovas influenciaram não só espíritos incultos, mas também os de homens esclarecidos como D. João de Castro, 1º marquês de Nisa, Padre António Vieira e Fernando Pessoa, entre muitos outros, “que, por alucinação ou cálculo, vendo nelas meio de propaganda patriótica ou política, lhes atribuíram alcance transcendente”. Isso explica o facto de, apesar de proibidas várias vezes pelo Santo Ofício ou pela Mesa Censória, terem visto a “luz da publicidade em 1603, comentadas por D. João de Castro, terem sido editadas em Nantes pelo marquês de Nisa, em 1644” … “para reaparecerem no Porto em 1852”.1
Em 1640, quando Portugal se libertou do jugo espanhol, que durara 60 anos, as trovas de Bandarra interpretadas como uma profecia à independência nacional, tornaram-se célebres aos olhos dos patriotas portugueses.
Em 1642, Dom Álvaro Abranches, general da Província da Beira, mandou fazer um epitáfio para Bandarra, na Igreja de São Pedro da Vila de Trancoso, com os seguintes dizeres: “Aqui jaz Gonçalianes Bandarra natural desta vila que profetizou a restauração deste reino, e que havia de ser no ano de seiscentos e quarenta por el Rei D. João o quarto, nosso senhor, que hoje reina, faleceu na era de mil e quinhentos e quarenta e cinco”.
Enfim, o nome de Bandarra continua sendo, através dos tempos, muito recordado. Aliás, não faltam motivos para a cidade de Trancoso ser falada. Estou a lembrar-me também do “famoso” Padre Costa, por haver gerado 299 filhos. Tendo-lhe sido perdoada a pena a que havia sido condenado, teria terminado os seus dias no concelho de Mangualde, por ter sido desterrado para o Convento de Santa Maria de Maceira Dão.
1V. Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura

Adeus aos plásticos


Entra em vigor já no dia 01 de julho de 2021, com efeitos a partir de 03 de julho de 2021, a Diretiva (UE) 2019/904 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de junho de 2019, relativa à redução do impacto de determinados produtos de plástico no ambiente.
Esta diretiva, de aplicação obrigatória em todos os Estados-membros, passa a proibir o uso de produtos de plástico de utilização única e tem como finalidade reduzir o impacto ambiental e as consequências da utilização desmedida dos plásticos pela sociedade, particularmente no meio aquático e na saúde humana. Tem também como objetivo promover a transição para uma economia circular, com modelos de negócio, produtos e materiais inovadores e sustentáveis, contribuindo assim igualmente para o funcionamento eficiente do mercado interno.
A poluição e o lixo marinho é um problema mundial crescente. Na União Europeia, cerca de 80% do lixo marinho é constituido por plástico, dos quais 50% são de utilização única, seguindo-se os materiais relacionados com a pesca. A presente diretiva dá prioridade aos produtos de plástico de uso único, que estão entre os mais encontrados nas praias da União.
A partir do próximo dia 03 de julho, a diretiva prevê várias medidas como a redução ao consumo, restrições à colocação no mercado, alteração de fabrico dos produtos, informação obrigatória nos rótulos e sensibilização à utilização consciente dos produtos. Estas medidas incidem sobre os produtos de plástico de utilização única, ou seja, os produtos que se destinam a serem utilizados uma única vez ou durante um curto período antes de serem descartados. São exemplos os copos para bebidas e as respetivas tampas, recipientes para alimentos como caixas de comida rápida e esferovites, cotonetes, toalhetes húmidos para higiene pessoal e uso doméstico, talheres e pratos de plástico, palhas e agitadores de bebidas, varas de balões, garrafas ou embalagens de plástico para bebidas de dose única e respetivas tampas, balões, sacos de plástico, produtos do tabaco com filtros, entre outros.
O baixo custo do plástico e a sua elevada funcionalidade, levam a uma crescente utilização, principalmente em aplicações de curta duração, não concebidas para serem reutilizadas ou recicladas. É por isso importante investir na inovação, no estudo e produção de materiais menos poluentes e alternativas sustentáveis. É necessário ainda ter a garantia que existem condições para tratar os produtos substitutos em Portugal e se estes cumprem as mesmas funções que os plásticos em termos de segurança alimentar e preservação dos alimentos. Os incentivos económicos devem apoiar as escolhas sustentáveis dos consumidores, promovendo um comportamento de utilização responsável em toda a cadeia de valor, não esquecendo os setores mais afetados por estas limitações, como é o caso da restauração, que tem vivido nos últimos tempos à base da comida servida para fora, em recipientes provavelmente de plástico.

CONSULTÓRIO

COM PROBLEMAS DE AUDIÇÃO?
Quando e como avaliar a sua audição?
É verdade que as pessoas de idade estão mais em risco de sofrerem de problemas auditivos devido à presbiacúsia (baixa de audição ligada ao envelhecimento). Mas é também verdade que todos nós, velhos e novos, podemos sofrer de problemas de audição devido aos inúmeros ruídos sonoros que fazem parte do nosso quotidiano (música muito alta, actividades profissionais, trânsito…), ou na sequência de doenças ou de iatrogenia.
Então como é que as pessoas se podem aperceber dessa alteração auditiva, quando é que devem consultar um médico e em que consistem os testes de audição?
Quando testar o seu ouvido?
Os principais sintomas que devem justificar uma ida ao médico e a fazer testes auditivos são:
Dificuldades de audição,
Dificuldades de compreensão,
Dificuldades no entender uma conversação telefónica,
Dificuldade de compreensão em ambiente barulhento,
Apitos ou zumbidos nos ouvidos (acufenos),
Vertigens,
Otites,
Exposição profissional ao ruído, ou ao dos tempos livres,
Antecedentes familiares de perda de audição,
Tratamentos potencialmente capazes de provocar lesão auditiva (quimioterapia, alguns antibióticos…),
É essencial recorrer ao seu médico e testar a sua audição se notar algum ou alguns daqueles sintomas
Uma má audição tem fortes repercussões sobre a qualidade de vida, durante a aprendizagem e nas relações sociais, profissionais e familiares.
Corrigir uma dificuldade de audição, mesmo que seja ligeira, permite melhorar a vida e prevenir o isolamento. Com efeito, as pessoas que ouvem mal desenvolvem estratégias de afastamento, nomeadamente fugindo de situações potencialmente embaraçosas.
Além disso, se a solução estiver na aplicação de um aparelho ou de uma prótese auditiva, quanto mais cedo este for colocado, melhor será tolerado.
Atenção à negação da doença!
As pessoas que ouvem mal, ou têm má percepção, recusam aceitar esta situação e atrasam a sua ida ao médico, dificultando a resolução de uma coisa que, de início, poderia ser mais simples de diagnosticar e de resolver. É o que acontece com alguma frequência com as pessoas mais idosas, para as quais uma diminuição de audição está (mal) associada ao processo de envelhecimento.
É um erro, porque a procura de uma melhor audição vai permitir um envelhecimento com mais qualidade, promovendo a continuação das suas actividades, nomeadamente as sociais!
Em qualquer idade, à menor dúvida, deve testar a sua audição! Mas é particularmente recomendado que faça testes de audição, com regularidade, a partir dos 50 anos de idade.
Nesse sentido deve falar com o seu Médico de Família que o deverá orientar! Mas não se esqueça, ou fique a saber, que só o médico otorrinolaringologista – ORL (o médico dos ouvidos, do nariz e da garganta) -, o otorrino como é comummente mais designado, só ele, ou através dele, é que lhe pode fazer um diagnóstico auditivo correcto.
É que o médico otorrino está habilitado a aconselhar um tratamento médico, ou cirúrgico e a prescrever um aparelho de audição que, depois, poderá ser aplicado e controlado pelo audioprotésico, que deve ser escrupuloso no seguimento da prescrição do médico especialista.
Como é que o otorrino mede a audição?
Habitualmente o exame ORL compreende três etapas:
O interrogatório – onde o médico recolhe um certo número de informações: sintomas auditivos, as suas características (há quanto tempo, factores desencadeantes…), antecedentes pessoais e familiares, medicação em curso, etc.
O exame clínico – que passa por uma observação dos canais auditivos externos e do tímpano – a otoscopia-. Este exame clínico permite a detecção de alterações que podem levar a uma diminuição da audição, desde um rolhão de cerúmen, a um eczema, a uma supuração do ouvido externo, ou uma otite…
O audiograma – que permite determinar, para cada ouvido, os limiares de audição, as frequências auditivas, a percepção das palavras, etc…
Estes exames auditivos determinam qual a causa da diminuição de audição, o tipo e o grau de surdez cabendo ao médico, na posse de toda a informação, aconselhar o tratamento mais adequado.
Fontes de informação:
Association pour l’information et la prevention dans le domaine de l’audition.
Contributo para o estudo da etiologia genética de presbiacusia em Portugal – Linda H Pereira.